Capítulo 15

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Quando vi o carro parando em frente ao prédio, dei pequenas batidas no ombro de Hayden, tendo alguma dificuldade em acordá-lo. Assim que o vi abrir os olhos percebi o quão cansado parecia estar. Se pudesse, o teria carregado para dentro, mas isso chamaria muita atenção. O desejo de um dia poder fazer algo assim era quase doloroso. Após piscar algumas vezes, Hayden quase pulou de seu assento.

— Nós já chegamos – não pude evitar rir com sua reação.

Hayden passou as mãos nos cabelos, endireitou a gravata e pigarreou, tudo olhando fixamente para a frente. Desse mesmo modo ele virou para o outro lado e abriu a porta do carro, pronto para sair. Mas eu não estava.

— Você está bem? – Perguntei, fazendo-o parar.

— Por que não estaria? – Falou baixo.

— Feche a porta.

Ele obedeceu e voltou a entrar por completo no carro.

— Aconteceu alguma coisa? – Hayden me encarou.

— Só queria respirar um pouco antes de entrar – virei para a frente.

Hayden me acompanhou, ambos mergulhados em um silêncio ensurdecedor. Por dentro eu queria gritar e arrancar uma ou duas respostas de sua boca, mas como faria isso? Depois de um tempinho apenas perguntei despretensiosamente:

— Você dormiu durante a noite?

Ele não respondeu. Limpei a garganta e franzi os lábios.

— Você parece cansado – insisti.

— Porque eu não dormi – Hayden respondeu de imediato, me pegando de surpresa. – Não estava com sono.

Achei uma puta de uma desculpa ridícula, das que ele com certeza sabia que eu jamais poderia engolir.

— Mas parece cansado agora – murmurei.

— Porque agora eu estou com sono – ele me encarou.

— Tudo bem – suspirei em desistência. – Vamos embora.

Saímos do carro e entramos no prédio. O clima parecia um pouco estranho, por onde eu passava as pessoas olhavam em minha direção, pessoas que estavam acostumadas a me olhar todos os dias e que eu conhecia por vista. Quando chegamos ao corredor que daria em nosso apartamento cheguei à conclusão de que realmente havia alguma coisa acontecendo, e um arrepio na espinha teimava em tentar me dar uma dica do que era. Um homem montava guarda na minha porta. Eu já o tinha visto em algum lugar. Dei bom dia, e em resposta ele só abriu a passagem. Hayden o olhava com desconfiança, mas acho que não perguntou nada porque eu não dei alarde. De fato no fundo sabia o que me esperava.

— Bom dia, Dylan – minha mãe falou assim que eu entrei.

Ela estava de pé no centro da sala, e largou um jornal no sofá. Escutei Hayden fechar a porta em nossas costas enquanto eu a encarava com o cenho pregueado, sem entender o que ela fazia tão de repente na minha casa. Meus olhos devem ter feito a pergunta em meu lugar.

— Sua irresponsabilidade me chamou – ela arqueou as sobrancelhas. – Parece que basta que eu me ausente por um tempinho e você consegue se meter nas piores confusões, e com o pior tipo de gente.

Com certeza ela estava falando da Marli. Sabia que minha mãe iria surtar caso eu sonhasse em ter algum envolvimento com essa mulher ou sua família. Surtar como ela estava agora.

— Nós quase não temos resultados no laboratório e estamos sendo cercados por todos os lados – ela continuou, dando uns quatro passos de um lado para o outro. – Lila consegue te fazer de refém, e o que você fez? Qualquer um diria que você está brincando com a própria vida, qualquer pessoa. – Darla parou na minha frente, e senti que seus olhos passaram de mim para Hayden, e depois voltaram para mim. – Mas não esqueça que não é só a sua vida que está em jogo. Se for morrer, morra sozinho quando isso não envolver mais ninguém. E pelo amor de Deus, deixe suas brincadeiras fora do trabalho.

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