Capítulo 24

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RUGGERO

Eu já estava arrasado. Não sei como consegui manter a compostura durante as entrevistas. Ela me ignorou por completo, era grossa, seca, então resolvi me isolar, de tudo e todos. Evitava o máximo falar com qualquer pessoa que fosse. O único que eu conversava era Agus, pelo celular.

Diante de tudo, eu preferi ir sozinho, num voo separado do dela. Olhar pra ela já não me fazia bem; não com ela me tratando desse jeito. Durante o voo ela me mandou uma mensagem perguntando se estava tudo bem. Depois de tudo isso se preocupando? Realmente, difícil de entender. "O que está acontecendo?" ela perguntou, e uma lágrima caiu de meus olhos. Não respondi, e mais lágrimas desceram logo depois.

Quando chegamos na Alemanha já era noite, peguei minhas chaves e fui direto pro quarto. Aldana me avisou que ficaríamos em quartos um ao lado do outro novamente. Eu chorei tanto no avião, que dormi grande parte da viagem, então não estava com o mínimo de sono. Ouvi a porta do quarto ao lado bater e a voz dela também, que parecia estar ao telefone. Peguei o casaco, meu celular e a chave do quarto. Antes de sair, enviei uma mensagem pra Aldana avisando que ia dar uma volta por ali mesmo e bati a porta do quarto.

Fui caminhando, sem ter um destino certo e tudo que precisava era colocar meus pensamentos no lugar. Eu a amo, disso não tenho mais dúvidas. Mas ela sente o mesmo? Não quero passar por isso de novo... me entregar para alguém que não se entrega da mesma forma. O pior de tudo é já estar sofrendo por antecipação. Porque sei que mesmo não sendo recíproco, nossa amizade já não seria a mesma.

Continuei até chegar numa praça que tinha uma fonte no centro, e era rodeada por grama, flores e alguns banquinhos. Resolvi deitar na grama mesmo e ficar ali, olhando o céu estrelado por algum tempo. Agora entendo porque Karol gosta tanto do céu de noite: é uma visão impressionante e... Para com isso, Ruggero!! Você precisa parar de pensar nela o tempo todo!

Com a praça não muito cheia devido ao horário, peguei meu celular e coloquei uma música qualquer pra tocar. Começou a tocar Siento...

-Assim não dá! Quanto mais tento não pensar, mais coisas relacionadas a ela aparecem na minha frente!!! -falei em voz alta me sentando e parando a música.

-Eu gosto dessa música... -uma voz atrás de mim falou me assustando. Não precisei nem virar pra saber quem era. -Posso me sentar?

-Bom, a praça é pública, então... -falei rispidamente e ela se sentou ao meu lado.

Quando a olhei, percebi que tinha os olhos marejados, como se tivesse chorado há poucos minutos. Estava com um short jeans escuro, um casaco moletom, o que "roubou" de mim na casa dos meus pais, e um tênis. Ficamos quase 10 minutos em silêncio, nem uma única palavra foi dita. Até que ela respirou fundo e começou:

-Rugge... -fez uma pausa longa para me olhar- eu sinto muito. Me desculpa... Sei que fui uma completa idiota nos últimos dias. Eu sei que não te tratei bem, que evitava falar contigo, eu sei que fiz tudo isso de errado, mas eu..eu.. -disse com a voz embolada começando a chorar- ...sinto muito -quase num sussuro

-Karol -me virei para ficar de frente para ela -eu só não entendo o porquê... Do nada, você ficou estranha, sem nenhum motivo aparente, já que eu não lembro de ter feito nada de errado.

-Você apareceu na minha vida... -ela falou baixinho

-E isso foi ruim pra você? -perguntei triste- Pensei que éramos amigos...

-Não, Rugge, não foi ruim! Você foi sem dúvidas a melhor coisa que já me aconteceu! Mas é que... é que... -abaixou a cabeça

-É que? -perguntei pegando sua mão - Karol, você sabe que não precisa esconder nada de mim.

-Eu sei, mas... -ela me olhou e eu não conseguia entender seu olhar de confusão. Era como se um turbilhão de coisas estivessem em sua mente agora e ela não conseguia escolher qual falar.

-Eu não consigo, não agora. -ela falou me abraçando e desmoronando em lágrimas- Por favor, me perdoa por tudo...

Retribuí o abraço com força, a acolhendo mais ainda em meus braços. Não tinha como eu não sofrer por vê-la desse jeito. Ela realmente estava arrependida pelo que aconteceu. Nessa hora eu esqueci de tudo sem nem pensar duas vezes...

-É claro que eu te perdoo, pequena. Mas não chora mais, por favor! -falei já enxugando suas lágrimas - Me parte o coração te ver assim.

Ela parou de chorar, ainda soluçando um pouco.

-Eu só quero que lembre de uma coisa -falei- Quando estiver pronta pra falar, o que quer que esteja aí dentro, te consumindo, porque eu sei que tem algo, você pode confiar em mim pra isso... Independente do que for, eu vou continuar do seu lado, te apoiando e te amando.

Essa última parte saiu antes que eu pudesse perceber e ela me encarou na mesma hora que ouviu tais palavras.

Eu deitei novamente mirando o céu, aflito pelo que tinha acabado de sair da minha boca, sem saber o que ela poderia dizer ou pensar. Mas ela não disse nada... Simplesmente deitou do meu lado. Quando virei para olhá-la, ela já estava me observando e sorrindo.

-O que foi? -perguntei sorrindo também

Ela se aproximou de mim e recostou a cabeça em meu peito, entrelaçando nossa mão.

-Por um instante achei que tinha te perdido, Ruggero. -ela falou séria.

-Anota uma coisa: não importa o que aconteça, você nunca vai me perder. -falei a abraçando mais ainda.

E assim ficamos, deitados na grama, envolvidos por um laço que jamais seria desfeito, olhando o céu estrelado acima de nós.

Ruggarol: um amor além das estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora