Capítulo 19 - Eu já estava lembrando.

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Se dependesse de mim eu nunca mais apareceria na escola, mas depois que o médico me liberou com o diagnostico de enxaqueca severa, me obrigaria a voltar no outro dia, e no outro e no outro.
Todos da sala me olhavam com curiosidade, como se eu fosse algum tipo de aberração outra vez. Mas não ele, Valentin agia como se tivéssemos nos tornado amigos de longa data. Na quinta feira, ele chegou à aula e simplesmente sentou do meu lado, como se fizesse aquilo todos os dias.

-Como você se sente?- disse ele enquanto espalhava seus livros e cadernos pela mesa.

Olhei para o lado, incrédula com a audácia dele, e ainda mais incrédula com a felicidade que surgiu em mim pela sua presença. Ele estava deslumbrante, e me perdi no preto das suas roupas, até que percebi que seus olhos cinza me encaravam. Seu olhar era selvagem.

Meu coração palpitou algumas vezes e depois pareceu sumir dentro de mim, e aquele era o sinal que eu esperava para tomar a atitude que havia planejado.

-Eu me sinto bem, obrigado por ontem.- cada palavra tinha sido calculada, até mesmo ensaiada. E um sorriso meigo foi o desfecho final do meu teatro.

Ele me deu um sorriso torto e depois baixou a cabeça feliz consigo mesmo, por ter me ouvido dizer aquilo. Aquela atitude dele atraiu os olhos da sua namorada. Em um instante ela estava sorrindo, no outro, estava séria, olhado em nossa direção. Com as sobrancelhas unidas ela me lançou um olhar duro, eu podia ver que aquela batalha estava travada, e dali por diante era pra valer.

-Aquilo não foi nada, mas sabe como é...- ele sorriu.- Se algum dia eu desmaiar por ai prometa-me que vai se lembrar disso.- aquela frase dele, me sugou para uma de minhas inúmeras memórias incompreendidas.

Ele segurava minha mão e suplicava. Não conseguia distinguir muito bem onde estávamos, só que ele vestia uma camiseta branca e que suas roupas estavam molhadas. Quanto a mim, não conseguia parar de tremer e concordar com a cabeça.
Ele me olhava de perto. Eu nunca tinha visto os olhos dele daquele jeito, havia tanta tristeza que me doía só de vê-los. Depois beijou minha testa e segurou a minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus. Encostou sua testa na minha, enquanto fechava os olhos.

-Prometa-me que você vai se lembrar disso.- sussurrou ele.

Da mesma forma que fui sugada para aquela memória, fui repelida dela. Demorei um pouco para perceber, que ele esperava a minha resposta, enquanto eu agia como a estranha que sempre fui.

-Eu prometo.- disse a ele, sem saber se respondia o presente ou a memória.

Ele apenas sorriu e olhou para frente, para encarar a tortura de química que estava por vir. O Sr. Hunter passou algumas formulas e pediu que fizéssemos um trabalho em dupla, como Valentin estava do meu lado, não me pareceu estranho fazer o trabalho com ele. O que não agradou, nem um pouco, a garota do outro lado da sala.

-Então, de onde você é?- fui eu quem deu inicio a conversa alheia.

-Carolina do sul.- ele dizia sem tirar os olhos do papel a nossa frente.

-Mudança brusca.- eu o observava, analisando cada detalhe dele. Esperando que de repente as respostas, para a interrogação que ele era, aparecesse.

Ele continuava olhando para o papel, seus olhos focados enquanto suas sobrancelhas se uniam.

-Eu gosto daqui.- ele levantou os olhos e eu desviei os meus para o papel, ele deu um sorriso sutil com minha atitude.

-Você esta há quanto tempo na cidade?- eu era ágil com o lápis, tornando as formulas claras, onde ele as havia complicado.

-Ha quase seis meses.- ele me observava, assim como eu havia feito alguns minutos antes.

Ouvi alguns passos irritados atrás de mim, e os pensamentos da garota vieram primeiro que suas ações, o que me permitiu desviar do seu teatro de bater descuidadamente com seu caderno em mim. Quando percebeu que seu plano não havia dado certo, ela me lançou um olhar furioso, e seguiu para seu lugar resmungando algo que não fiz muita questão de ouvir.

2- A Telepata_ IrreversívelOnde histórias criam vida. Descubra agora