V.
A principio fiquei confuso com os acontecimentos daquela tarde e quando não tive noticias de Sarah, não me surpreendi, porque de algum jeito já estava acostumado com os seus sumiços.
Cheguei tarde no bar, e o Bob não estava com um bom humor, por isso me encheu de sermões pelo meu atraso. Limpei as mesas perto da Junkebox e organizei algumas garrafas de tequila no estoque, enquanto tentava não pensar em nada. E assim as horas voaram, enquanto eu me perguntava se deveria ligar para saber se ela estava bem. Só que eu tinha medo de invadir sua privacidade.
Como sempre, tinha receio de colocar as coisas a perder.E somente quando já estava prestes a entrar no palco aquela noite, para mais uma apresentação no bar do Bob, foi que cedi a vontade de saber como ela estava, e liguei para sua casa, usando o número que o gerente do restaurante, onde ela trabalhava, me deu.
-Alo?- disse eu, assim que não recebi nenhum comprimento, fosse quem fosse pareceu decidido a esperar por mim.
-Com quem gostaria de falar?- disse a voz de um cara do outro lado da ligação.
Lembro que fiquei me perguntando se aquele era mais um cara da vida de Sarah, e nem parei para pensar, apenas desliguei o telefone. E não liguei mais aquele dia, já que o celular dela continuava desligado.
Subimos ao palco as 9:00pm em ponto e lá pelas 11:30pm já estávamos em casa. Aquele dia não estava sendo muito bom e nem a Noisetunes foi capaz de me animar.
Deitei na cama e fiquei olhando para o teto. Lembrando de como ela pareceu vulnerável nos meus braços, enquanto eu a levava para a enfermaria. E nada mais pareceu fazer diferença. Nada do que Mag havia me dito sobre Sarah tinha alguma importância naquele momento.
Eu queria tanto estar perto dela, que daria qualquer coisa, só para saber onde ela morava. Tínhamos evoluído para o nível "não vou fugir quando você aparecer", e eu tinha medo de simplesmente perder aquilo.Na amanhã seguinte quando acordei, decidi que faria as coisas diferentes e que não deixaria que tudo se perdesse. Levantei cedo e liguei o som, o mais alto que o horário do silencio do prédio permitia, e entrei para o banho.
Eu deveria acordar daquele jeito todos os dias, mas por alguma razão preguiçosa não fazia aquilo. Sai do banho enrolado na toalha e fiquei lá olhando aquela frase tatuada na minha pele, sabia mais do que nunca que estava prestes a descobrir a origem dela. Cantei enquanto arrumava o cabelo e depois enquanto escolhia a roupa, completamente empolgado com as emoções que se agitavam dentro de mim. Adam foi o primeiro a notar meu bom humor e a entrar no meu quarto enquanto eu enfiava as calças.-Acordou de bom humor hoje?- disse ele com somente a cabeça aparecendo entre a brecha da porta.
-Sim. Estou me sentindo bem hoje.
-Sei.- ele sorriu e saiu do meu campo de visão.
Terminei de colocar a roupa e fui até a cozinha para engolir qualquer coisa. Era nessas horas que mais sentia falta de casa. Não aguentava mais ter que comer as coisas estranhas que Ethan fazia, muito menos comida congelada. Se não fosse pela pizza eu morreria naquela casa. Definitivamente.
Sentei no banco em frente à bancada, que dividia a sala da cozinha, enquanto comia via Adam perder mais uma vez no vídeo game para o Ethan. Eles gritavam a cada gol ganho ou perdido, na mesma rotina normal de todos os dias. Faltava cerca de uma hora para a escola, e eles nem estavam de roupa ainda, o que não era de se surpreender. Depois de comer fui até o meu quarto e peguei o violão, que ficava mais tempo em cima da minha cama que eu, e comecei a tocar alguns acordes. Aquilo sempre me fazia bem, não importava qual fosse o dilema. Fiquei lá perdido em meus pensamentos, até o horário de ir para a escola. Pensando em todas as coisas que ia dizer para ela e pensando no sonho da ultima noite, eu me perdi completamente no meu próprio mundo. As imagens daquele sonho provavelmente acabariam comigo assim que eu a visse, mas mesmo assim não conseguia parar de pensar sobre o assunto. Nele ela estava em um vestido justo, dançando enquanto olhava para mim. Com aqueles olhos grandões, contornados de preto, e os cabelos grudados no rosto, à medida que eu podia ver uma gota de suor correr em seu pescoço, ela me enlouquecia. Dançava de um jeito que mexia tudo dentro de mim, e quando se aproximou, ela sabia muito bem como seu olhar estava me deixando. Tanto que quando sorriu, eu pude ver muito mais do que malicia em seus lábios. No sonho ela chegou perto de mim, me puxando pela camisa, e me beijou com seus lábios cor de cereja, até me tirar o fôlego.
A garota me enlouquecia até em meus sonhos.
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2- A Telepata_ Irreversível
ParanormalQuem disse que podemos mudar o destino? Como sempre ele dá um jeito de acontecer exatamente como tem que ser. Nesse segundo volume da série A Telepata_ , Sarah tenta seguir sua vida, deixando de lado tudo que enfrentou no ano anterior, mas o...