Capítulo 34 - Juntos vamos mudar o destino amanhã

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Valentin ainda se mantinha de olhos fechados, como se saboreasse nosso beijo que tinha acabado de forma tão triste, quando o deixe e parti sem olhar para trás. Foi uma das decisões mais difíceis que tive que tomar na vida, mas por ele eu seguiria em frente. Somente por ele, eu ia embora amando por nós dois.
Estendi a mão chamando pelo taxi que milagrosamente apareceu. E assim que me acomodei no banco traseiro, e estava prestes a fechar a porta, pude ver Terry, o barman cabeludo, me observando ir embora enquanto fumava um cigarro lentamente.
Antes de partir, respirei fundo, e criei coragem para olhar pela janela. Valentin estava parado no meio da calçada, olhando para o nada, com uma expressão completamente confusa estampada no rosto. O que fez meu coração se partir em tantos pedaços, que foi impossível continuar olhando.

-Para onde moça?- perguntou o taxista, olhando para trás, assim que cansou de esperar que eu dissesse alguma coisa.

-Para longe daqui.- foi tudo que conseguir dizer, enquanto uma lagrima corria silenciosa pelo meu rosto, a medida que meus olhos encaravam o assoalho do carro.

Doía, doía muito. Aquela sensação no peito parecia capaz de me partir, porque eu queria que ele lembrasse de mim, mas quando enfim aquilo aconteceu tive que tirá-lo de sena. Era deprimente o que eu tinha feito, mas eu não poderia lidar com todas aquelas coisas ao mesmo tempo. Então ao beijar Valentin, criei uma conexão entre nossas cabeças, até conseguir me apagar dos seus últimos dias. Cada palavra, cada olhar, ou qualquer tipo de interação que tivéssemos tido nos últimas 48hs, foram apagadas das lembranças dele.

Já fazia algum tempo que eu estava treinando para fazer aquilo, mas jamais pensei ter que usar a manipulação tão cedo. Só que se eu permitisse que Valentin lembrasse de mim, assim como eu me lembrava dele, o colocaria em perigo. Por algum motivo tínhamos mudado o passado, e eu não ia deixar que ele fizesse aquilo outra vez. Que corresse aquele risco por mim.
Quem muito brinca de Deus, esquece que o ser humano nunca será perfeito a esse ponto. E nosso passado era a prova viva disso. As coisas nunca acabavam menos pior do que a vida anterior.

E foi por isso, com o maior pesar que já senti, que plantei a ideia de que Valentin tinha que beber até cair. Beber o suficiente para apagar qualquer rastro meu que pudesse ter ficado para atrás, bem como todas as suas lembranças que poderiam ameaçar o nosso segredo. Ainda não era a hora de reviver nossa história, não antes de tornar as coisas seguras para ele.
Pela primeira vez, eu é que queria salvá-lo.
E com aquele pensamento em mente, tentei me convencer de que estava fazendo a coisa certa. Quando Valentin acordasse no outro dia, sem lembrar de nada das ultimas horas, acharia que a bebida tinha apagado sua memória, e não alguém com poderes paranormais. Estaríamos seguros, pelo menos por enquanto.

Orientei o taxista como chegar na minha casa, enquanto torcia a todo momento para que meu plano tivesse dado certo. No segundo que deixei Valentin sozinho naquela calçada, eu soube que ele não lembraria de mim na manhã seguinte, mesmo assim não me sentia completamente segura com o que tinha feito, porque muitos detalhes estavam em jogo. Não poderia garantir que ele não ia descobrir sobre os últimos dias, já que não poderia ter feito todo mundo, que esteve com nós naquela noite, esquecer.
Eu teria que contar com a sorte.
Fechei os olhos, deixando um suspiro de lamento escapar dos meus lábios lentamente. E quando abri os olhos, já estava entrando na minha rua, e minha mente, já desiludida, me obrigou a colocar minha mascara e fingir que tudo estava bem, ainda que meu coração estivesse sofrendo.

Paguei pelo trajeto sem proferir uma palavra, depois me arrastei até em casa desejando que ninguém estivesse lá. Minha cabeça ainda estava baixa quando passei pela porta, e deixei meus sapatos, juntamente com o casaco pendurado no cabide ao lado da porta. Caminhei até meu quarto sem ser interrompida, e nem me preocupei com o silencio que pairava no ar.
Mas quando abri a porta do meu quarto, fiquei surpresa com o que vi lá dentro, tudo estava revirado, jogado no chão, espalhando-se em uma bagunça completa. Meus lençóis e roupas rasgados formavam uma pilha em frente à cama, bem ao lado dos cacos do meu abajur destruído. As paredes rabiscadas de vermelho, pareciam um contraste gritante do quarto bem decorado que sempre tive, tanto que foi impossível não me apavorar assim que entrei.
E no meio de todo aquele caos, sentada com a maior tranquilidade do mundo, estava a minha avó, que parecia esperar por mim.

2- A Telepata_ IrreversívelOnde histórias criam vida. Descubra agora