Capítulo 22 - Acredite, eu estou tão surpresa quanto você

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Fiquei olhando para ele, com uma ruga cravada entre minhas sobrancelhas, encarando cada ponto escuro na imensidão do seu olhar cinzento.
A chuva lavava nossos rostos, e nem mesmo aquilo fazia meu coração se acalmar. Eram tantas duvidas, tantas coisas a se pensar, mais ainda a se lembrar, o que não me permitia ficar nem mais um segundo ali.

Tentei me erguer, mas a mão dele segurou meu braço.

-Onde você vai?- perguntou confuso.- O que esta acontecendo?

Coloquei a mão sobre a dele, que me segurava, e depois respirei fundo.

-Sinceramente, eu também não sei.

Uma ruga surgiu entre as sobrancelhas dele, assim como sua testa se franziu.

-Por que você esta no meio da chuva, nessa rua deserta, completamente devastada, a uma hora dessas?- ele pressionou a mão ainda mais no meu braço, tentando de alguma forma conseguir as respostas que queria.- Todo esse tempo, eu estive te observando, esperando o seu tempo, deixando você agir do jeito que precisava agir, mas agora não posso deixar você ir. Me diga, Sarah. Me diga por que você me perguntou isso!

Respirei fundo, encarei o chão e depois voltei a encarar seus olhos.

-Porque algo me diz, que ter encontrado você, não é mero acaso.

Ele me soltou, deixando seu braço cair na lateral do seu corpo, à medida que seus olhos iam ficando maiores na minha direção. Ele escondia seus próprios segredos, e mesmo que não tivesse tempo de desvendá-los, eu pude ver o impacto que minhas palavras lhe causaram.

-Eu sei que estou sempre fugindo, que assusto você com as coisas estranhas que acontecem comigo, mas dessa vez eu preciso que você me deixe ir.- disse secando as gotas de chuva que caiam sobre os meus olhos.

Ele colocou as mãos nos bolsos, analisando o chão, como se fosse encontrar a resposta para as suas perguntas em uma poça de chuva. Então um pequeno sorriso brotou nos seus lábios, quase imperceptível, e tão rápido que mal pode ser percebido.

-Tudo bem, eu não vou te impedir de ir embora.- suspirei de alivio, depois encarei meus pés encharcados.- Mas eu tenho uma condição.

Imediatamente olhei para ele outra vez.

-Qual?

-Você vai me encontrar amanhã, depois do seu expediente, e vai me contar o motivo de sempre fugir de mim quando te encontro em situações como essa.- disse ele sério, me encarando com determinação.

-Eu...- comecei dizendo, mas ele me interrompeu.

-Sem negociações, você tem um dia para formular bem a sua resposta, se não quiser que eu vá atrás dessa resposta sozinho. E acredite, eu sou muito bom em descobrir coisas, quando eu quero.

O que dizer perante aquilo? Eu não sabia, então apenas concordei com um gesto de cabeça e depois corri na direção oposta à dele. A mesma direção de onde tinha vindo, a mesma que me levaria para a resolução do maior mistério da minha vida.
Pelo menos aquele que eu sabia que existia.

Corri pelas ruas, sem parar por um segundo.
Meu coração estava acelerado em meu peito, mas eu tinha quase certeza que não era por causa da minha velocidade. E sim por causa de todas as lembranças que vinham, ao mesmo tempo, em meu encontro.

O quebra cabeças estava se montando na minha cabeça.

Eu havia conhecido Valentin há muito tempo atrás, ainda não sabia dizer bem quando, mas sabia que não tinha sido nessa vida. E pelo que eu podia ver e sentir, eu o amei incondicionalmente, mas não o suficiente para abrir mão de consertar o que eu achava necessário.
Estava vivendo uma vida que ele forjou, convivendo com as consequências que as mudanças dele causaram. E tudo aquilo por minha causa, já que segundo as minhas visões ele sempre voltava para consertar algo, que eu jugava errado, na minha vida.

2- A Telepata_ IrreversívelOnde histórias criam vida. Descubra agora