Capítulo 45 - O pior tipo de dor

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Quase botei tudo a perder quando sai de dentro do presidio. Estava nervosa com o sangue que manchou o chão da sala de visitas 7. Eu poderia lidar com a mente dos policiais que ouviram o som da bala, até mesmo com aqueles que viram a marca chamuscada no braço do meu casaco. Mas não poderia lidar com a surpresa que foi saber que eu estava sozinha.

Eu precisava sair dali o quanto antes, precisava me certificar que Phoebe estava mentindo quando disse que todos tinham sumido. Mas quando enfim sai pela porta de saída do presidio, e descobri que os carros não estavam mais lá, me desesperei.
Corri pelo meio da rua, cravando os dedos nos meus próprios cabelos, enquanto procurava em todas as direções por qualquer vestígio de um rosto conhecido. Mas não havia ninguém lá.

Olhei para o meu relógio de pulso, que parecia ter estragado, e depois revirei meus bolsos, mas tudo que encontrei foi o revolver que eu ainda escondia. Tinha deixado tudo no carro, já que achei que seria rápido. Não tinha dinheiro, nem noção das horas.
A única coisa que sabia era que precisava ir para casa o mais rápido possível.

Imediatamente manipulei a mente de um homem que dirigia um Hond civic novo, e o persuadi a me levar para Toronto. Entrei no carro com pressa, confundindo inicialmente o homem, que rapidamente foi convencido.
De London a Toronto levaria cerca de duas horas de viajem. Contando o fato de que eu estava fazendo o homem ignorar todas as leis de transito ao andar naquela velocidade.

A todo momento eu sentia minha cabeça prestes a enlouquecer, e mal conseguia parar de chorar enquanto gritava para que o homem andasse mais rápido.
Milhares de coisas passaram pela minha cabeça, mas nada do que eu havia planejado conseguia me deixar tranquila. Eu não queria aquele final para ninguém, e muito menos me achava capaz de seguir em frente se tivesse que presenciar aquele momento de horror.

Eu precisava deles, precisava dizer que os amava, antes de planejar tudo para a minha viajem. Eu tinha tantas pessoas em mente, tinha tanto medo, que mal conseguia respirar e controlar o homem ao mesmo tempo.
De repente o olhar de Louise fez sentido, assim como a fumaça que ela dizia apagar seu próprio futuro. Louise sabia o tempo todo, ela sabia que estava prestes a morrer e ainda sim não disse nada.
Vovó sabia, só pelo olhar que ela me deu. E quando a fixa caiu, quase entrei em colapso. Bruce também sabia, era aquilo que o olhar dele queria dizer, quando eu o vi da porta de entrada do presidio.
Mas a troco de quê eles se entregaram daquela forma? Porque não lutaram se sabiam que o pior estava por vir?
Tudo fez sentindo, ainda que não fizesse. A noite de despedida, o fato de estarem todos juntos, garantindo o meu bem. Eles se sacrificaram, mas em nome do quê?
Só então lembrei do gesto de vovó, antes que eu entrasse no presidio. Ela tinha colocado algo no meu bolso, fato aquele que eu nem tinha lembrado até então.
Me afastei do escoro do banco do carro e coloquei a mão no bolso de trás da calça, encontrando um papel dobrado lá. Minhas mãos tremiam quando eu o abri, e meu coração parou ao ler o que tinha escrito lá.

"Somente aqueles que já sentiram o pior tipo de dor, são capazes de perceberem o quanto são fortes."

Aquelas foram às duas horas mais angustiantes da minha vida.
Nada que eu vivi antes poderia ter me preparado para o que me esperava quando eu cheguei a Toronto. Não existia um amor forte o suficiente para me fazer esquecer da fumaça negra que subia para o céu, e a luz alaranjada que podia ser vista das três quadras de distancia que eu estava da minha casa.
O homem ao meu lado acelerou quando eu gritei ainda mais alto, enquanto eu prendi o ar, assim que o carro se chocou contra a arvore da esquina da minha rua. Fomos presos ao banco pelo sinto de segurança, mas aquilo não me impediu de sentir a dor causada pelas faixas do cinto. Assim como não impediu o homem de ficar inconsciente ao bater com a cara no air barg. Milhares de pequenos cacos de vidro voaram em cima de mim, cortando minha pele em diferentes pontos, mas aquilo não foi capaz de me parar.
Uma porção de pessoas se aproximou do carro, depois ajudaram o homem a sair do veiculo com medo que ele explodisse. Enquanto eu só conseguia rastejar para longe do carro, até que fosse capaz de me levantar, e então correr o mais rápido que minhas pernas conseguiam em direção ao fogo.

Meu corpo inteiro doía.
Mas mesmo assim eu não parei, nem mesmo quando as pessoas começaram a gritar pelo meu nome. Meus vizinhos estavam horrorizados com o fato de eu ter saído de um acidente e estar correndo em direção à confusão que acontecia na minha casa. Viaturas da policia bloqueavam o caminho, assim como uma porção de policiais continha as pessoas.
As mangueiras dos bombeiros estavam esticadas sobre o nosso gramado, enquanto eu ouvia os gritos desesperados dos meus amigos queimarem minha alma. Podia reconhecer as vozes, cada uma delas, tão assustadas como eu mesma me sentia.
Tentei correr em direção ao fogo, tentei gritar para que o policial me largasse, mas as lagrimas ardiam na minha garganta tão forte, que eu mal conseguia respirar.
Chorei como nunca na vida, assim como à senhora Mcfild, e os pais de Louise, que eram contidos pela policia, enquanto um grupo de bombeiros estudava a melhor forma de entrar na casa que caia aos pedaços, como a maior prova de que eu jamais seria capaz de salvar eles.

Gritei mais uma vez, depois dei uma cotovelada no policial, que me largou atordoado pelo meu golpe. Depois corri em direção à janela lateral da sala, que parecia um dos lugares menos consumido pelo fogo.
Estava quase chegando, sem nem ligar para os bombeiros que derrubavam a porta da frente. Estava sendo impulsionada pelas vozes, pela dor, pelo maior medo que já senti.
Eu estava cega, desesperada, quando uma mão me puxou me impedindo de me aproximar ainda mais.

Braços fortes me envolveram, e apertaram forte o suficiente para que eu não pudesse me mover.

-Calma, calma.- eu conhecia aquele cheiro, conhecia aquela voz. E quando meus olhos vermelhos, e cobertos de lagrimas se ergueram, encontrando Valentin, me enchi de esperança.- Calma amor, eu estou aqui.

Ele pressionou os lábios nos meus, depois beijou minha testa.

-Eu sinto muito por ter deixado as coisas irem tão longe. Jamais pensei que todas as minhas voltas ao passado iam destruir sua vida assim.- eu podia ver o desespero na sua voz. Assim como pude ver as lagrimas que corriam dos seus olhos, quando ele se afastou de mim e me encarou.- Eu vou concertar tudo isso amor, bem agora. E para sempre.

-Por favor, ajude eles.- meus olhos ardiam de mais, minha voz mal podia ser ouvida.- Por favor.

Ele beijou minha testa mais uma vez. Depois se afastou de mim, o suficiente para me olhar nos olhos e demonstrar toda a sua compaixão.

-Eu vou tornar tudo bem outra vez amor, só aguente mais um pouco.- disse ele, sendo interrompido por uma pancada, que o estrondo que parte do telhado fez no chão. Olhei para trás junto com ele, e encontrei um dos bombeiros carregando o corpo de Louise sem vida nos braços.

Valentin cobriu meus olhos, para que eu não pudesse ver, como se aquilo fosse amenizar a minha dor de algum jeito. Depois me puxou para mais um abraço.

-Eu sinto muito amor, vou concertar isso tudo.

E quando ele se afastou um pouco mais, me dando espaço para ficar a no mínimo três passos dele, seu olhar mudou. Ainda havia lagrimas nos olhos dele, mas ele já não parecia o mesmo.
Ele cerrou as mãos com força, e ficou olhando para os meus olhos determinado. Depois os fechou sem nenhuma delicadez. E não demorou muito para que eu notasse o que ele estava fazendo, e antes que fosse tarde de mais, vi uma presença fantasmagórica um pouco mais além.
Era Rafael, me encarando com os olhos marejados.
Aquele era o momento, e eu nem pensei antes de me jogar.

-Eu sinto muito, mas não posso ficar aqui esperando dessa vez.- segurei seu braço com força, fazendo com que ele abrisse os olhos repentinamente e me encarasse, antes que fossemos consumidos por uma escuridão que me cegou.

Musica tema: Harry Styles - Sign Of The Times

2- A Telepata_ IrreversívelOnde histórias criam vida. Descubra agora