Capítulo 1

578 83 145
                                    


Me deixou assim, sombra na escuridão,

Arrancou de mim a paz o sorriso e razão...

Jogado na Rua - Guilherme e Santiago.


João Antônio Vaz Coutinho tinha um problema.

Aos 25 anos de idade já havia se apaixonado verdadeiramente por três vezes na vida. Ou tão verdadeiramente quanto poderiam ser paixões juvenis.

A primeira vez foi por uma escravinha na fazenda de seu pai quando tinha 14 anos. Assim que sua mãe descobriu sua dita paixão, mandou verde-la não se importando nenhum pouco por ser a causa de sua primeira decepção amorosa.

Seu outro amor foi na época da faculdade no Rio de Janeiro. Ela era uma mocinha bonita e de família rica que como muitas de sua idade vivia indo e vindo na rua do ouvidor*. Aproveitou-se dos caminhos em comum esperando pela oportunidade e coragem para confessar seus sentimentos. Infelizmente uma semana se passou e ela não voltava. Foi então que soube que a pobre moça havia morrido de tuberculose.

E havia terceira vez.

Parecia ter sido pego por uma tormenta. Ela se chamava Monica e era filha do maior minerador daquela região, ao menos era quando o ouro ainda era abundante, mas esse pequeno detalhe não diminuía em nada sua fortuna pois assim como seu pai, O senhor Joaquim Junqueira Oliveira, soube investir seu dinheiro em outros negócios que continuaram a fazer com que sua fortuna prosperasse.

João não era homem de boemias como eram seus colegas de faculdade. Por isso quando o pai morreu não pensou duas vezes em assentar definitivamente na pacata e acolhedora Margo De Mendes, no interior de Minas para ser mais preciso próximo a Imperial cidade de Ouro Preto, para ficar com sua mãe que veio a falecer não muito tempo depois. Aquela cidade já havia sido mais movimentada durante o ciclo do ouro, mas agora não acontecia nada de muito emocionante com muita frequência por ali, mesmo assim amava aquele lugar, tanto que seus amigos lhe haviam perguntado se Margo era uma cidade ou era a sua amante.

Mas voltando ao seu terceiro e fulminante amor...

Viu-a pela primeira vez no casamento de um amigo.

Sempre recebia convites para casamentos de amigos e amigas alcoviteiras de seus pais. Era um bom partido, e as mocinhas iam ainda mais emperiquitadas aos casamentos na esperança de encontrarem maridos também.

João adorava casamentos, pela bela paisagem que eles ofereciam e pela comida, não que estivesse passando fome. Tinha a melhor cozinheira de todas, dona Mercês em sua casa, mas não sabia por que os comes e bebes de casamento eram sempre os mais saborosos. Entretanto naquele dia, no meio de tantas moças e bolos, estava Monica.

Olhos azuis, cabelos loiros e cacheados. Beleza de padrões europeus demais para uma mineira. Se destacava das demais tanto por esse fato quanto pelas roupas, que obviamente eram a última moda de Paris. Vestido rosa cheio de dobras e babados que davam a sua aparência tom mais delicado do que já era.

Um verdadeiro anjo.

Se fosse de ler poemas proclamaria algum para ela. Um desses romances estupidos camonianos que os homens usavam para ludibriar mocinhas inocentes. Mas isso não fazia nenhum pouco o seu estilo.

Ela percebeu que alguém a observava e seus olhos caíram em cima dele. A moça sorriu e desviou os olhos no mesmo instante.

Foi flechado pelo cupido naquele minuto, e não tirou os olhos dela por toda a cerimônia e acompanhou o cortejo até a casa dos pais da noiva. Esperava que se criasse uma situação para que pudesse falar com ela. O que aconteceu quando ela foi a mesa de doces pegar uma fatia de bolo.

Minha Doce RafaelaOnde histórias criam vida. Descubra agora