Capítulo 4

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              No início Rafaela não sabia bem o que fazer com seu visitante insistente. Não tinha ideia de como aplicar aquilo que ouvia dos romances que Inácia e suas amigas do internato lhe liam na vida real. Só tinha sua cara limpa e instinto. Teria que se virar com isso já que não seria capaz de simular tanto.

Apenas foi sincera e deliberadamente se fingiu de desentendida o máximo que podia. Descobriu o quanto era agradável conversar com ele mesmo que as vezes as conversas não levassem a lugar nenhum. Ele era um homem simples, muito educado, mas de opiniões fortes que também detestava os exageros de etiqueta da sociedade.

E por mais que tivesse descobrido o quão prazeroso era falar com ele, tanta conversa já estava lhe irritando.

Seu pai havia dado a ele permissão que viesse vista-la e isso significava, até onde ela sabia, que ele deveria querer algo mais sério. Um pequeno cortejo seguido por um pedido de noivado até o casamento. Mas para sua desgraça ele nada fazia perdia muito tempo com assuntos banais, e começava a se perguntar se ela mesma teria que ter o trabalho de beija-lo já que ele parecia não ter coragem.

Trabalho este que poderia lhe custar muito, já que beijar exigiria certo contato, fatalmente teria que sair apalpando-o até encontrar o caminho de seus lábios. Não se sentia encorajada a fazê-lo. Claro que não faria era a obrigação dele tomar a iniciativa se ele realmente quisesse.

Exceto pelo dia em que ele havia lhe trazido flores, o senhor Coutinho nunca mais ousou a se aproximar mais. Seria tão fácil se pudesse perguntar simplesmente, mas também não tinha coragem, a verdade é que nunca se sentiu tão medrosa desde que era criança.

Monica andava tão ocupada que não tinha tempo para persegui-la. O que era bom, pois não queria que ela a atrapalhasse. Luiz assumiu este papel, perguntando a todo instante como ele a tratava do que falavam, até espionava pelo que Inácia lhe disse. Então não podia se espantar pelo senhor Coutinho não tentar nada, já que Luiz Era tão severo quanto a lei que cobrava a antiga derrama.

Quando era menor, Rafaela havia realmente pensado seriamente em se tornar um freira, não queria ser motivo de preocupação para seu pai, mas quando conheceu sua professora, muitas coisas mudaram. Nora Smith era cega havia conseguido estudar mesmo contra a vontade de seu pai e contrariando o que todos esperavam se casou.

Se eu consegui ter uma família porque vosmecê não conseguiria? Ela havia lhe perguntado com seu sotaque carregado. Sua querida professora era uma de suas fontes de inspiração e sempre lembrava dela para se lembrar que poderia conseguir sim, e não permitiria que ninguém a demovesse do contrário.

Passou a escova delicadamente sob os cabelos. Se o senhor Coutinho não virasse homem e tomasse alguma atitude o mandaria para o inferno.

— Não sabe quem acabo de ver falando com vosso pai. – Inácia disse entrando no quarto.

— Não faço ideia. – Disse monotonamente.

— O ex de Monica e agora seu Joãozinho.

— Então eu devo ficar bonita. – sorriu se animando – Mas juro que estou perdendo a paciência.

— Esperar mais um pouco não lhe fará mal, eu tenho certeza que este ano vosmecê não voltará ao internato.

— Deus lhe ouça.

— Rafaela – Monica cantarolou da porta – Todos estão esperando vamos?

Ao que parecia ela estava de bom humor, fato que era constante desde que havia ficado noiva do engenheiro. Infelizmente não era o suficiente para que lhe deixasse em paz definitivamente.

Minha Doce RafaelaOnde histórias criam vida. Descubra agora