A estratégia de ignorar sua esposa ia de vento em poupa. Obviamente João estava dando desculpas concisas. Havia se determinado a resolver todos os seus assuntos pendentes, para lembrar a si mesmo que não devia cair na tentação de lhe dar atenção. Ficava horas em seu escritório fazendo a revisão das finanças, das entradas e saídas, e de lá a ouvia tocar piano.
Só tocava não cantava, e quando se cansava a casa ficava silenciosa a não ser pelo som da janela do segundo andar que insistia em fazer ruídos com o vento. Benedito havia acabado de sair do seu escritório quando percebeu chocado que tudo estava organizado, logo mais teria que se reunir com alguns sócios da mineradora, mas nada mais.
Coçou a barba. Não tinha mais desculpas validas para ignora-la por enquanto. Se levantou e foi procurar pela esposa. Não estava na sala então foi para cozinha.
— Ela saiu com ele, é bom tomar cuidado Mercê que daqui a pouco...
— Deus há de castigar essa língua de vassuncês – ela disse.
João tossiu para que notassem sua presença e logo elas se calaram.
— Onde está minha senhora? – perguntou.
— Na varanda – Das Dores disse.
— Obrigado – saiu de lá.
Não estava nem um pouco interessado em ouvir as fofocas delas.
Quando abriu a porta a viu sentada na cadeira de balanço se balançando nervosamente, os dedos estavam em formato de garras nos encostos da cadeira.
Sabe-se lá Deus o que ela estava pensando.
— Rafaela?
— O que quer? – ela praticamente rosnou.
— Não quer aprender a montar?
Ela ergueu a cabeça.
— Ah, não está mais ocupado? – disse irônica.
— Não nesse momento.
— Então vamos – ela se levantou.
— Coloque uma saia mais larga e boas botas – recomendou.
Ela sorriu.
— Volto num minuto – ela disse animada.
— Não vai precisar de ajuda?
— Não – disse sumindo pela porta.
Sorriu.
Com poucas palavras havia conseguido matar a saudade do sorriso dela, estava certo de que aos poucos conseguiria amolecer seu coração de uma vez por todas.
A volta de Rafaela foi anunciada pelo som de suas botas se chocando ao assoalho. Bem dizia o ditado que sapato novo era conhecido. Ela já havia lhe dito uma vez que preferia as sapatilhas por serem mais maláveis e melhores para sentir onde estava pisando, era um milagre que não houvesse batido pé dizendo que ficaria de sapatilha. A saia que usava era marrom e simples parecia perfeita para uma cavalgada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Minha Doce Rafaela
أدب تاريخيJoão Antônio Vaz Coutinho tem um problema. Ele é o tipo de homem que tem sorte nos negócios e azar no amor. E depois de estar apaixonado de maneira frustrada outras duas vezes em sua vida conhece Monica Oliveira, filha de um grande senhor de terras...