João havia saído do quarto e ido direto ao escritório pois era lá que estava sua garrafa de cachaça preferida. As únicas femininas que poderia confiar eram na matemática, sempre exata e mais simples de entender do que as mulheres. E na cachaça que também era exata. vosmecê toma e fica bêbado. Mas mulheres... essas não pareciam ter sido feitas para serem entendidas e sim para que fossem aceitas e amadas como eram, ou não.
Abriu a garrafa e encarou o copo. Mudou de ideia e bebeu direto do gargalho, afinal como dizia seu falecido pai aquela era a melhor bebida para qualquer ocasião. Para festas? Cachaça. Batizados? Cachaça. Para velórios? Cachaça.
Agora que analisava a situação com frieza percebia o quanto havia sido inocente. Nunca havia lhe passado pela cabeça que Rafaela fosse capaz de fazer algo assim. A pobre moça cega! Acima de qualquer suspeitas. E pensar que por um momento chegou a se sentir culpado por estar mentindo para ela.
Tolo.
Teve seu coração partido duas vezes pelas irmãs que não tiveram um pingo de piedade. Eram dois demônios em pele de anjo.
Olhou para mesa contrariado.
— Ela poderia estar em meus braços agora – choramingou – Deus o que fiz para merecer isso?
Tomou mais um gole.
— João Antônio vosmecê é o maior estupido de que se tem notícia no mundo – riu sem humor de si mesmo.
Então sua vocação não estava nas exatas afinal e sim em servir de capacho para as irmãs Oliveira. O que o consolava era que as duas logo teriam seu castigo, haviam brincado demais com ele para saírem em pune. Tinha pena apenas do velho Joaquim. O que pensaria ele quando soubesse do que seus "anjinhos" eram capazes.
E mesmo que ele não contasse ao outro iludido, marido de Monica, Rafaela sofreria bem merecidamente com os falatórios da cidade inteira. Tudo por ela não ter sido capaz de fingir um pouco mais de amor.
Porque ela havia fingido antes? E como fingia com seus doces beijos e caricias com aquelas pequenas mãos inexperientes que lhe afagavam a barba e o pescoço. Suspirou inconformado pelo que não podia fazer com ela, pois mesmo que quisesse seu orgulho não permitiria.
Seguiu se lamentado e bebendo a até dormir com a testa colada na mesa.
Não soube como, acordou antes que o sol saísse. Com cuidado para não ser visto pelas criadas que já circulavam pela casa saiu do escritório, ainda tonto ao se levantar, respirou fundo e foi o mais silenciosamente possível para o quarto. Olhou para a porta do quarto onde ela estava. Tudo estava no mais repleto silêncio. Ergueu a mão para bater, mas mudou de ideia.
Para que ter outra discussão logo cedo?
Seguiu seu caminho, lavou o rosto e se trocou.
Daria uma volta a cavalo para espairecer e quando voltasse levaria sua doce e meiga esposa direto ao pai, não queria esperar que ele viesse para entrega-la. Entrou de novo no escritório para pegar seu chicote e saiu. Olhou para o céu matutino colorido por diversos tons de rosa, assim que, o dia prometia ser lindo.
Respirou fundo esfregando as têmporas com os dedos. Não sabia por qual ressaca sua cabeça doía mais. Fechou a porta em suas costas e contou dois passos ates de ouvir um grito seguido por um estrondo.
Rafaela...
Voltou correndo e viu as criadas já em volta dela ao pé da escada.
— Rafaela! – se ajoelhou no chão a seu lado tirando o cabelo do rosto vendo o ferimento que sangrava em sua testa.
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Minha Doce Rafaela
Historical FictionJoão Antônio Vaz Coutinho tem um problema. Ele é o tipo de homem que tem sorte nos negócios e azar no amor. E depois de estar apaixonado de maneira frustrada outras duas vezes em sua vida conhece Monica Oliveira, filha de um grande senhor de terras...