2017
Ô seu Zé arruma um trem mais forte pra eu beber seu zé.
Agora eu terminei de vez seu Zé
Pode até ser pinga com arnica pior que tá não fica
Tem alguma coisa errada nesse trem que eu to tomando.
Eu to bebendo pra esquecer, mas eu to lembrando.
A música ecoava no bar enquanto João encarava sua dose de cachaça em cima do balcão de pedra. Beber ou não beber eis a questão.
— Cê não vai beber não rapaz? Comprou só pra admirar o copo?
Seu Moises perguntou em tom de brincadeira.
— Eu devia era quebrar isso na minha cabeça pra largar de ser burro.
O homem riu e João fez uma careta.
— O que foi? Gostava mesmo da moça?
— Não sei se eu gostava tanto dela, mas eu queria que desse certo – franziu o cenho – Será que tem algo errado de errado comigo? Eu só levo pé na bunda e só me fo...
— Achei ele Daniel!
João olhou para trás e viu a baixinha Teresa entrar no bar, alguns pescoços se quebraram na direção dela, mas se desviaram assim que Daniel a alcançou apoiando o braço em seu ombro. Ninguém queria ter um alto mal encarado em seu encalço.
Ali estava o exemplo de um casal perfeito.
Daniel se sentou do seu lado direito e Teresa do lado esquerdo.
Entornou o copo de cachaça.
— Sabe bem que encher a cara não irá resolver o seu problema – Daniel apontou.
— E muito menos vai aliviar seu coração – Teresa completou.
— Eu agradeço por se preocuparem, mas vocês dois estão parecendo meus pais então por favor, apenas parem.
Teresa riu, e Daniel balançou a cabeça negativamente.
— Está havendo um belo festival de música lá fora e você aqui enfiado nesse bar.
— Me deixe em paz Daniel – João resmungou como uma criança encarando o balcão.
— Deixe ele Daniel – Teresa pediu – mesmo porque isso só vai durar até sair pela porta e encontrar o próximo amor da vida dele.
João encarou Teresa.
— Então segundo a Senhora eu sempre me apaixono pela primeira que cruza meu caminho.
— É a verdade – sou sotaque baiano deu o ar da sua graça enquanto ela dava de ombros.
Teve vontade de descordar veementemente dela, mas não queria discutir com uma mulher que mal chegava a seus ombros muito menos com o marido dela do lado. Menos ainda porque gostava dela, era muito boa e tinha aquele instinto maternal, mesmo ainda não tendo filho algum. Daniel é quem tinha sorte.
— Eu não aguento mais vocês dois – disse se levantando enquanto seus amigos colocavam pouca fé nele.
Ouviu uma voz que cantava uma música do século XIX. Afinal além de festival de música era o festival de quase tricentenário de Margot de Mendes. Parou tudo que fazia para escutar.
— Não é a voz mais linda que já ouviram?
— Lá vai ele de novo. – Daniel apontou.
João o ignorou e correu do bar.
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Minha Doce Rafaela
Historical FictionJoão Antônio Vaz Coutinho tem um problema. Ele é o tipo de homem que tem sorte nos negócios e azar no amor. E depois de estar apaixonado de maneira frustrada outras duas vezes em sua vida conhece Monica Oliveira, filha de um grande senhor de terras...