João havia perdido a paciência várias vezes com aquela casa velha. Pensou até em desistir da reforma e nos piores momentos de fúria a ideia de incendiar tudo lhe pareceu atraente. Porém se lembrava que não podia. Ela estava cheia de lembranças de sua infância e dos seu pais. Se sua mãe sonhasse do céu que pensou em fazer isso provavelmente o excomungaria.
Mas quem poderia culpa-lo por se irritar? Algumas portas não se cansavam de emperrar por mais que colocasse novas. A porta da frente a mais teimosa ele mesmo arrancou a machadadas fazendo com que alguns empregados rissem e outros sentissem medo.
— Ma menino, desse jeito vai se machuca – a dona Mercês disse enquanto ele transformava a porta em lascas e acabava por quebrar parte da parede também.
Ela não sabia o prazer que ele havia sentido em destruir aquela coisa, mas como resultado acabou machucando a mão. Ela tratou de cuidá-lo como fazia quando ele era garoto.
Dona Mercês era a melhor cozinheira do mundo e era com quem desabava nos piores momentos. Foi com ela que havia se queixado de Monica e para ela coube a tarefa de repreende-lo por querer casar com a irmã da moça apenas para se vingar. Custou-lhe um pouco de trabalho de convencê-la de que seria melhor para ele se casar com Rafaela, já que realmente sentia um carinho profundo por ela. E aos poucos ao perceber que ele realmente falava a verdade ela aceitou.
— Nada como uma delicada mão com um machado e uma marreta não possa resolver. Disse a Benedito, seu funcionário alforriado, depois que a senhora terminou o curativo em sua mão.
— O que acha?
— Se eu fosse uma mulher acho que não gostaria, já que não importa o que faça a casa ainda parece um tumulo – ele opinou.
— Sua sinceridade me choca – João disse satisfeito, sempre havia sido assim desde que eles era jovens.
— Pode gozar dela sempre que desejar patrão – ele sorriu.
De todos homens que trabalhavam para ele Benedito talvez fosse mais esforçado em questão de estudos, se esforçou para aprender a ler e escrever sozinho e agora o ajudava com a contabilidade, tanto de suas minas quanto algumas terras que havia comprado recentemente.
— Tenho certeza que Rafaela não se importará com a aparência da casa – apontou.
O sorriso do outro murchou pelo pequeno detalhe que deixou escapar.
— Patrão me perdoe eu...
— Não se preocupe, eu mesmo muitas vezes me esqueço. – deu de ombros e observou tudo que já havia sido feito – A única coisa que não pode haver nessa casa, são pisos irregulares e madeira podre.
— Com isso não precisa se preocupar, os carpinteiros já terminaram o serviço – Benedito assegurou. – Como o senhor mesmo já deu um jeito na porta não falta mais nada.
João sorriu.
Pelo menos havia terminado, finalmente.
Havia um janela no segundo andar que continuava a ranger, mas pensou que Rafaela fosse rir do fato em vez de se irritar.
— Quando ela estiver aqui essa casa não se parecerá mais um tumulo, a encheremos de crianças que correram endemoniadas por todo lugar – disse sonhador.
Os outros riram dele, dizendo que provavelmente a esposa não gostaria da ideia de procriar como um coelho, mas ele não lhes deu ouvidos poderia convencê-la.
João não sabia quanta falta sentia de Rafaela até estar próximo de vê-la de novo. Tinha muito o que lhe contar e beijar também. Já na cidade comprou um corte de pano verde claro, o qual nem sabia a qualidade do tecido, mas sabia que quando ela o tocasse lhe diria exatamente o que era, como ela sempre fazia.
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Minha Doce Rafaela
Historical FictionJoão Antônio Vaz Coutinho tem um problema. Ele é o tipo de homem que tem sorte nos negócios e azar no amor. E depois de estar apaixonado de maneira frustrada outras duas vezes em sua vida conhece Monica Oliveira, filha de um grande senhor de terras...