Inácia viu quando o visitante foi embora pela cortina de renda do quarto de Rafaela.
— Ele se foi. – Disse a ela.
— Como ele era? – Perguntou curiosa – É tão bonito quanto Monica dizia ou era apenas para contar vantagem?
— Se eu pudesse, arrancava um olho só para que vosmecê pudesse ver. – Ela riu pois havia ficado oculta para observar a conversa – Na minha opinião, sua irmã fez um mal negócio. Não que o noivo dela seja feio de maneira alguma, mas o sinhozinho João sim, parece um homem de verdade.
Rafaela riu.
— Conte-me mais.
— O sinhozinho Eduardo, tem a cara limpa e a boca rosada como de uma mocinha, é mais alto que o senhor Coutinho, mas não muito. E usa mais perfume do que qualquer outra coisa.
O perfume Rafaela podia sentir, o que não conseguia imaginar era o rosto, então passou os dedos pelo seu próprio, para ter uma base de como seria o cunhado.
— E o senhor Coutinho?
— Ele é alto, tem uns ombros largos, barbado. Tem os olhos da cor de rapadura e cabelo da cor de chocolate*. Não sei explicar, mas ele sim tem cara de homem. Não anda todo emperiquitado como o noivo de sua irmã.
Rafaela não tinha a mínima ideia quais eram as cores de rapadura e chocolate, mas sabia o gosto e sem dúvidas a descrição do senhor Coutinho era deliciosa.
— O que mais? – perguntou sacudindo os pés.
— Não sei se foi impressão, mas ele passou cada rabada de olho para vosmecê.
A moça balançou a cabeça negativamente. Obviamente não seria por sua beleza, ele deve ter achado curioso ver uma cega.
— Me pergunto o que ele veio fazer aqui se Monica o rejeitou para ficar com outro.
— Só Deus e ele sabem.
Rafaela tinha o real sentimento de pena pelo seu futuro e do que havia sido quase seu cunhado. Monica não era o anjo que aparentava ser na frente dos outros. Nas costas do pai, a maltratava e se divertia contando histórias de seus inúmeros pretendentes.
Ela sabia usar eufemismos para ser cruel e mais de uma vez teve vontade de contar para o pai o que passava nas mãos de sua filha do meio. Entretanto pensava duas vezes e não o fazia por não querer lhe causar este desgosto. Agora só teria que ter um pouco mais de paciência. Monica logo se casaria e não seria obrigada a estar com ela nas férias do colégio.
Finalmente ela engoliria aquele Rio de Janeiro do qual falava com tanta emoção.
— Vosmecê não disse ainda o que achou do senhor Coutinho. – Inácia apontou.
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Minha Doce Rafaela
Historical FictionJoão Antônio Vaz Coutinho tem um problema. Ele é o tipo de homem que tem sorte nos negócios e azar no amor. E depois de estar apaixonado de maneira frustrada outras duas vezes em sua vida conhece Monica Oliveira, filha de um grande senhor de terras...