5 - Cool people

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Acho que uma coisa que se pode dizer sobre mim é que nunca fui uma garota inocente. Com uma mãe como a minha, é difícil que eu fosse; mas, nesse caso, não acho que a criação tenha interferido muito — desde pequena, eu tinha gosto pelo que era proibido.

Tomei minha primeira cerveja, aos 9 anos, porque minha mãe tinha estritamente me proibido sequer chegar perto dos "refrigerantes" dela, e eu bebi só pra contrariá-la. Acabou que ela nem percebeu uma garrafa a menos, e isso me frustrou, porque o desafio tinha sido a parte emocionante — o gosto da cerveja em si, era horrível. Minha versão de 9 anos tinha ficado curiosa pra saber se minha mãe surtaria quando soubesse que era descuidada demais com suas cervejas a ponto da sua filha, uma criança, bebê-las, mas ela sempre estava bêbada demais até pra notar isso.

Então, eu continuei a roubar garrafas de cerveja dela, apenas pela emoção.

Até hoje, o único gatilho que eu precisava para tentar conseguir alguma coisa, era alguém me dizendo "não". Nada me deixa mais determinada a fazer algo do que ser proibida de fazer essa mesma coisa, e isso não faz de mim uma garota mimada (até, porque, recapitulando minha situação, tenho uma mãe morta que não me via bebendo cerveja e um pai que não se importa comigo), e sim, alguém com determinação.

Era esse meu problema com Andrew Ortiz. Desde que o conhecera, Andrew tinha um "NÃO" gigante flutuando sobre sua cabeça, que ele mesmo havia colocado por se achar superior a quase todo tipo de garota. Eu tentei, com unhas e dentes, ignorar o grande pedaço de carne proibida que era Andrew, mas isso estava começando a me deixar louca.

Ignorar um desafio não estava no meu sangue.

Ainda assim, eu só precisava de dois minutos com ele pra esquecer tudo isso e ter vontade de estrangulá-lo com as minhas unhas bem-feitas que, tenho certeza, ele deve ter algo contra.

Isso era novidade pra mim.

Eu era como um camaleão quando o assunto se tratava de garotos: Não importa o quão idiota o menino em questão fosse, se ele representasse um desafio, eu iria moldar minha imagem até que ela se encaixasse perfeitamente no tipo de garota ideal que, no fundo, todo menino sonha.

Nenhum deles tinha me irritado o suficiente pra eu tentar ignorar o "NÃO" gigante rodopiando em suas cabeças como Andrew Ortiz conseguia. E eu não fazia a menor ideia de que parte minha venceria no final: A que queria matá-lo, ou a que adoraria o desafio de conquistá-lo.

— Esse seu olhar fixo neles tá começando a ficar assustador. — Helena disse, enquanto cortava um pedaço de bife.

Era sábado, hora do jantar no Internato (finais de semana livres de uniforme, pelo menos), e ventava bastante do lado de fora. Eu conseguia ver as árvores balançando pela janela, mas não era nisso que estava voltada a minha atenção: Andrew Ortiz e minha irmã estavam sentados do lado um do outro, conversando e, ocasionalmente, rindo.

Saber que meu desafio tinha ido tão fácil em direção a minha irmã foi o que finalmente me fez admitir pra mim mesma que eu queria Andrew como queria as cervejas da minha mãe: Não pelo gosto em si, mas só pra provar que poderia tê-lo.

Como eu faria isso, ainda não tinha ideia. Não sei se conseguiria suportar o complexo de superioridade de Andrew o suficiente pra fingir ser alguém que ele gostasse. Eu queria que ele me admirasse por quem eu realmente era, a garota malvada e popular que ele tanto odeia, mas esse era um caminho longo.

Desviei o olhar dos dois. De qualquer jeito, a presidência do grêmio era minha prioridade agora, e esse era um desafio que eu iria vencer.

Depois do jantar, eu e Helena fomos pro quarto. Ela colocou fones de ouvido e deitou na cama enquanto eu fui direto pra escrivaninha, fingindo estar ocupada lendo um texto pra aula de francês porque, na verdade, só não queria conversar. Helena sabia disso, e me deu o devido espaço apropriado ao colocar seus fones de ouvido e fingir que eu não existia.

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