HELENA RUSSEAU NARRANDO.
Sempre gostei de gatos.
Algumas pessoas acreditariam que eu seria mais do tipo que escolhe cachorros, loucos e acolhedores como eu, mas é exatamente por esse motivo que sempre preferi os gatos: a serenidade neles é algo que admiro, mesmo que nunca consiga atingir.
Queria ser mais como um gato, quieta e inabalável, mas nasci cachorro. Por mais que eu tentasse me concentrar, eram poucas as coisas que conseguiam minha atenção por mais de cinco minutos: depois de descoberto, tudo perdia a graça, como brinquedos usados.
Eu era cachorro, e Skye era gato. Soube disso desde o momento em que ela teve seu primeiro ataque de pânico na minha frente, sufocando com as palavras não ditas sobre seu passado. Ela queria ser inabalável, queria ser superior, ela era definitivamente um gato.
E eu sempre gostei de gatos.
Foi isso que eu disse para Andrew quando ele entrou no nosso dormitório no domingo de manhã, com um buquê de rosas brancas na mão e cheiro de sabonete caro, procurando por Skye – que estava em algum lugar além dali, planejando alguma coisa ruim, porque era o que ela costumava fazer. Eu o arrastei para longe do dormitório, até o pátio de primavera – foram alguns minutos constrangedores, esses em que eu arrastava o garoto com a testa franzida e um buquê de flores na mão –, disse que ele não podia fazer aquilo e, quando ele me perguntou o porquê, eu o expliquei: eu era a droga de um cachorro.
Andrew olhou para mim confuso, do mesmo jeito que as pessoas olhavam para mim eventualmente, porque não conseguiam acompanhar minha linha de raciocínio. Eu estava acostumada a receber aquele olhar, então, expliquei:
– Você não pode fazer isso com a Skye, ou consigo mesmo. Isso só vai piorar a situação.
– O que isso tem a ver com cachorros?
– Eu sou protetora. – Expliquei, cachorros são protetores. – Não posso deixar você fazer isso com ela.
– É só um buquê.
– Para Skye, é um lembrete de tudo o que aconteceu. Esqueça ela, Andrew.
– Não é tão simples.
Revirei os olhos enquanto sentava em um dos bancos de cimento do pátio. Sempre garotos apaixonados por Skye a procurando, sempre eu a conselheira amorosa de corações partidos que Skye deixava, sempre o maldito cachorro.
– Com Skye, é. – Respondi. – Ela não vai te perdoar. Eu a conheço, ela vai te esquecer. Ela provavelmente já estava te esquecendo a partir do momento que o conquistou. – Olhei para ele. – Eu amo minha amiga, mas sei que ela só pensa em si mesmo.
Andrew se sentou do meu lado, apoiando os braços nas pernas enquanto o buquê de rosas pendia em sua mão, como se estivesse desanimado. Ele tinha uma expressão inconsolada, o que, estranhamente, fez com que eu ficasse com vontade de fumar.
– Não posso desistir tão fácil, não sou assim. – Andrew disse, finalmente, enquanto eu pensava em perguntar se ele tinha um cigarro.
– É o melhor conselho que posso te dar. – Respondi. – Você fez uma bela de uma bagunça. – Olhei para o garoto triste ao meu lado outra vez, e fiquei com pena. – Olha, não é tão ruim. Se Skye consegue passar por cima disso, você também consegue.
– E quem me garante isso?
– Eu. – Respondi, dando de ombros como se não fosse nada demais, porque era. – Também já fui apaixonada por ela.
Andrew olhou para mim como se estivesse chocado, enquanto o fundo do seu cérebro se perguntava porque ele não tinha percebido aquilo antes, já que, na verdade, era bem óbvio. Eu gostava de garotas, eu gostava de gatos, e Skye era Skye.
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Más Intenções | ✓
Roman pour AdolescentsSkye Kendrick tem todos os atributos necessários para ser considerada a antagonista de qualquer clichê adolescente: Ela adora dar respostas atrevidas, estar no controle e destruir tudo que possa representar uma ameaça à sua reputação. O que ninguém...