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"Skye é uma piranha total, e finalmente alguém teve coragem de dizer isso."

"#ChegaDePrivilegios #VoteErin"

"O reinado de terror está prestes a acabar #VoteErin"

Desde criança, sempre gostei de passar por lugares habituais e prestar atenção neles como nunca havia feito antes. Porque, mesmo sabendo de cór as ruas em que passava e a aparência dos lugares por onde andava, sempre havia algum pequeno detalhe, que em todas as minhas caminhadas anteriores, eu nunca havia notado antes. Não perdi essa mania no Internato — mesmo passando por aqueles corredores todos os dias, sempre havia uma pequena mancha na parede ou rachadura no piso que eu nunca havia notado antes, e aquela particularidade transformava o lugar completamente.

Porém, perdi um detalhe importante ao longo dos anos no Internato, mesmo prestando toda atenção ao meu redor em algumas das minhas caminhadas: como as pessoas secretamente me odiavam.

Meu grande erro foi tentar notar sutilezas nas paredes do colégio, enquanto deveria estar prestando atenção nas pessoas que me cercavam. Percebi isso conforme lia os comentários de ódio anônimos sobre mim presentes no site de votação, e acabei entendendo que eu não era a única que conseguia lançar sorrisos falsos e fingir apreciar conversas superficiais — todos daquele colégio eram ótimos atores.

Eu sabia que havia alguma inveja entre as falsas amizades que eu mantinha, mas nunca achei que aquilo fosse o suficiente para criar o sentimento de ódio que as pessoas começaram a nutrir por mim depois do discurso de Erin, e definitivamente não havia me preparado para essa situação.

Então, uma noite sem dormir depois do discurso da minha irmã, eu não tive coragem pra me levantar da cama, esconder as olheiras com base e fingir que eu não era a pessoa menos desejada naquele maldito colégio. O que eu fiz, em vez disso, foi passar a manhã toda lendo sobre isso no site de votações.

Estava atualizando o site pra mais comentários pelo que parecia ser a quinquagésima vez quando Helena entrou no quarto, o uniforme amassado de sempre e os cabelos morenos com californianas loiras sem pentear. Ela bateu a porta com força pra chamar minha atenção, mas eu nem levantei os olhos do computador.

— Skye, já chega. — Helena disse, jogando os sapatos no canto da porta. — Eu entendo que você esta triste e despreparada, mas você não pode continuar matando aula desse jeito, ou vai levar uma suspensão.

Yay. — Eu respondi, sem entusiasmo.

— Ok. — Helena suspirou. — Essa escola tá um caos completo por causa dessa briga com sua irmã, e foi você quem começou isso. Se esconder no quarto só vai fazer ela ganhar com mais facilidade, então faça como Erin e aquela droga de discurso e arrume um jeito de virar a votação de volta. — Helena foi até a porta do banheiro e a abriu. — Além disso, o almoço é em vinte minutos, e você vai acabar morrendo de fome se não for comer alguma coisa.

Ela entrou no banheiro e bateu a porta com força novamente, só pra deixar seu discurso mais poderoso. Eu dei um longo suspiro e coloquei as mãos na testa pra pensar no que fazer.

Helena tinha razão, eu tinha que enfrentar aquilo tudo, mas sair daquele quarto, encarar aquelas pessoas me olhando do mesmo jeito que me olharam no discurso e me segurar pra não surtar completamente era como eu imaginava meu inferno pessoal: um lugar onde eu não era nada exceto algúem pra ter um pouco de pena, curiosidade e nojo.

Eu tinha voltado a ser a garota suja de onze anos na escola, com uma mãe prostituta e uma vida miserável, cujo o único prazer no dia era caminhar pelas mesmas ruas de sempre e encontrar detalhes que tornavam a paisagem ainda mais feia.

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