Más Intenções | ✓

27 - Cinderela

– Quero renunciar ao cargo de presidente do grêmio. – Anunciei, me sentando na cadeira de frente para a diretora.

A diretora Joana apenas levantou os olhos dos papéis em sua mesa e arqueou uma sobrancelha para mim, e eu tive certeza que estava imaginando como seria bom pôr as mãos no meu pescoço. Fui parar ali logo depois da conversa com Evan, e tive sorte que a diretora estivesse num humor bom o suficiente para me atender sem hora marcada, mesmo me odiando do jeito que odiava. Talvez estivesse curiosa, esperando que eu desse motivos para que ela pudesse finalmente me expulsar, ou pelo menos me suspender.

– Posso saber porque, senhorita Kendrick? – Ela perguntou, fazendo com que aquilo, de alguma forma, soasse como um insulto.

– Democracia nunca foi meu estilo de governo favorito, sempre preferi a monarquia. – Dei de ombros. – Eu sempre me senti como uma rainha, não presidente.

Joana deu um longo e demorado suspiro, e eu imaginei que talvez lidar com aquela situação com humor não era a melhor saída: ela já me odiava normalmente, e acredito que fazer piadas não ajudava na minha relação instável com ela.

– Eu não disse para você que a próxima vez que você viesse encher minha paciência com esse assunto eu a expulsaria, Skye? – Ela perguntou, sem rodeios, e foi a minha vez de suspirar.

– Achei que deveria correr o risco. – Respondi, com honestidade. – Acredito que você saiba que eu não mereço ser presidente de coisa alguma.

– Ah, eu com certeza sei. – Ela respondeu, voltando a atenção para a tela do seu computador. – Mas o resto desse colégio não, e você foi eleita democraticamente, então não há nada que eu possa fazer.

– E eu tenho o direito de renunciar.

A diretora se virou para mim mais uma vez, completamente descontente com a minha presença em seu escritório. Minha garganta ficou seca.

– E por que você quer renunciar depois de tanto manipular as pessoas para conseguir essa droga de presidência? – Ela perguntou, o tom de voz inicial como se falasse como uma criança, que foi aumentando até terminar em uma quase-histeria.

– Porque seu filho merece muito mais do que eu. – Respondi, simplesmente. Pensei em dar de ombros, mas não queria irrita-la ainda mais com minha personalidade de indiferença e superioridade, o que era com certeza o que ela pensava de mim.

A resposta deixou a diretora visivelmente surpresa, que tentou ao máximo disfarçar a reação de olhos levemente arregalados pigarreando disfarçadamente logo depois: eu não era digna dessa emoção, portanto ela não queria demonstrá-la. Aproveitei a deixa para continuar meu discurso ensaiado em cinco minutos, pouco antes deu entrar no escritório dela:

– Eu sou egoísta, mesquinha, não merecia ter ganhado e você me odeia. Ambas sabemos disso, então, estou tentando consertar as coisas, os erros que cometi antes de perceber tudo isso. – Disse, e logo completei: – Quer dizer, exceto a parte que você me odeia. Disso, eu sempre soube. – Joana arqueou a sobrancelha para mim, e foi minha vez de pigarrear constrangida antes de continuar: – Andrew é o garoto certo para a presidência, e não seria justo que eu ficasse em seu caminho, já que eu nem nunca realmente quis o cargo.

– Aprecio sua honestidade, Skye. – Ela respondeu, como se as palavras fossem amargas, e continuou: – Mas não é assim que uma democracia funciona, você não pode simplesmente entregar o cargo para quem desejar. Você foi eleita honestamente, portanto não há nada que eu possa fazer. – E, antes que eu protestasse, completou: – Não, não vou fazer outra eleição, isso já me trouxe problemas demais.

– Mas eu tenho o direito de renunciar, certo? O que aconteceria se eu renunciasse?

– Sua vice-presidente assumiria o cargo.