1 - Bow down, bitch

15.6K 1.8K 2.7K
                                    

Fora o barulho de tic-tac do relógio e, ocasionalmente, uma crise de tosse da secretária, a sala de espera da diretora se encontrava em completo silêncio.

Era semana de orientação no internato. E apesar do retorno dos alunos uma semana antes da aula ser teoricamente obrigatório, nem metade ainda havia voltado. Faltavam dois dias pra volta as aulas e eu só havia chegado da mansão de Malibu da Helena no dia anterior, ás sete da noite. Hoje, recebera um recado pra me encontrar com a diretora ás 8:15 da manhã e, pelo relógio extremamente incomodante, já eram 8:25.

Sempre odiei esperar. Sem contar que a meia do uniforme — do qual não senti falta nenhuma — pinicava.

— Ainda vai demorar muito? —Perguntei á secretária. — As aulas de orientação começam daqui á cinco minutos.

Ela me lançou um olhar cético, arqueando uma sobrancelha mal feita por cima do óculos de grau cafona. Sabia que eu não dava a minima pras aulas de orientação.

— Não se preocupe. — Ela disse, e logo depois teve outro acesso de tosse nojento que me arrancou uma careta.

Dois segundos depois, pro meu alívio, a porta da diretora abriu. Dela, saiu um garoto que, de acordo com os padrões da sociedade, era lindo de doer. Ele olhou pra mim por um segundo, porque provavelmente meu queixo fez barulho quando caiu direto no chão, mas foi um olhar desinteressado, que ele dirigiu da mesma forma pra secretária.

Isso me deixou ofendida, mas não o suficiente pra parar de encara-lo. Pela calça jeans desbotada e a camisa preta, ele, além de aluno novo, era bolsista. Meu tipo favorito de vitima.

— Judith, pode vir até minha sala um instante? — A diretora chamou a secretaria cafona, que aparentemente tinha um nome cafona pra combinar.

Enquanto a tal Judith saiu apressada na direção da sala da diretora, o garoto se jogou no banco á minha frente. Não sou fã de gente pobre, muito menos das roupas que eles usam, mas o jeito que os músculos do garoto novo se contraiam na camisa preta de $29,90 me fez morder os lábios; isso sem contar o cabelo preto bem cortado e os olhos azuis que não voltaram sua atenção pra mim mais nenhuma vez.

Não me deixei abater pelo fato dele ignorar completamente minha presença ao abrir um livro e não olhar pra mim nenhuma outra vez, porque ele claramente ainda não sabia como as coisas funcionam por aqui. Por isso, lancei meu sorriso inocente (mesmo que ele não estivesse prestando atenção pra ver) e perguntei:

— Que crime hediondo você cometeu pra vir ter uma conversa particular com a Vaca?

Vaca era o apelido carinhoso que os estudantes do internato haviam batizado a diretora. Não que ela fosse assim tão ruim, mas adolescentes rebeldes e ricos gostam de zombar de autoridades.

A resposta correta seria "Nenhum, sou novo aqui, prazer" ou qualquer derivado dessas, e somente dessas, palavras. Mas, ao invés disso, ele olhou pra mim como se eu tivesse acabado de aparecer ali e deu um sorriso cínico.

— A Vaca é minha mãe.

Foi a primeira vez em muito tempo que quase fiquei sem palavras.

Agora, sabia exatamente quem ele era. Andrew Ortiz, o filho da diretora, era basicamente uma lenda. Existia praticamente um culto pra garotas que idolatravam ele nos corredores do internato. Ele não estudava aqui, mas de vez em quando aparecia misteriosamente pra mostrar a todos que continua vivo e lindo. Eu nunca o tinha visto pessoalmente, mas agora sabia que a fama dele fazia jus á quem ele era, principalmente quando diziam que ele era mal-educado.

— É claro. Agora sei quem é você. — Respondi, como se não tivesse acabado de ofender a mãe dele.

— Também sei quem é você. A ruivinha mimada que pensa que comanda no colégio. — Disse, voltando a atenção pro livro.

Más Intenções | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora