2 - Rich boys can party

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Helena Russeau, a única pessoa que eu confiava o suficiente para saber que eu tinha ataques de pânico, me encontrou encolhida atrás de uma árvore no pátio de primavera como uma criancinha assustada.

Meus ataques de pânico. Aconteciam muito depois da morte da minha mãe e rejeição do meu pai. Passei á controla-los — na medida do possível — aproximadamente aos 14 anos, depois que meus peitos cresceram mais que o da maioria das meninas e de repente, bum, eu era uma ruiva gostosa pra todo mundo, simplesmente porquê tinha peitos grandes e poucas espinhas — ao contrário do resto delas.

Esqueça o que dizem, beleza importa sim. Ninguém dava a mínima para mim antes, e então, de repente, garotas ruivas com sardas eram sexy, peitos grandes sempre foram e todo mundo queria ter a minha sorte. Ruiva, rica e com peitões? Droga, o que essa garota fez? Ofereceu a alma pro diabo?

Tente uma mãe famosa por ser prostituta.

As meninas acabaram me ultrapassando na competição de Quem Tem Os Maiores Peitos Do Internato, principalmente porque elas tinham pais ricos que pagavam silicone como se comprassem doce — "300mL querida, agora pare de me ligar" — mas nessa época, eu já tinha todo o internato sob controle e até as garotas mais velhas queriam ser como eu, foi quando meus ataques de pânico começaram a diminuir.

Era meio irônico, porque as vezes eu tinha ataques de pânico por pensar demais na possibilidade das pessoas descobrirem que eu tinha ataques de pânico.

Não consegui esconde-los de Helena Russeau, minha colega de quarto do internato. Os pais dela a colocaram no internato por atear fogo a casa de veraneio deles acidentalmente, e metade foi destruída antes que os bombeiros chegassem. Quando perguntaram a Helena o que tinha acontecido, ela apenas deu de ombros e disse "esqueci o baseado aceso". Ela tinha 13 anos.

Me tornei amiga dela uma semana depois de ter sido designada como sua colega de quarto, quando Helena disse "Ei, a casa que eu queimei saiu no jornal local" como se isso fosse digno de um prêmio, e eu lembrei da vez que minha mãe quase colocou fogo no apartamento acabado em que nós morávamos, quando chegou bêbada e tentou fritar alguma coisa; acabou queimando um pano de prato e quando eu, com 10 anos, acordei com a gritaria e fui a cozinha ver o que estava acontecendo, minha mãe apenas jogou a coisa flamejante na minha direção — "Bom, não foi culpa minha, você me assustou!" — e eu acabei com o cabelo chamuscado e uma cicatriz feia na mão, além de ter que apagar o fogo sozinha, que tinha se espalhado pra outros panos de prato.

Quando Helena disse isso, eu tive um dos piores ataques de pânico que conseguia me lembrar. Helena cuidou de mim e quando eu perguntei porquê, ela deu de ombros — dar de ombros era meio que a "coisa" da Helena — e disse "gosto de pensar que você faria o mesmo por mim". Ela não contou pra ninguém sobre meu ataque de pânico, então eu quis que ela fosse minha amiga, porque precisava desesperadamente de alguém pra confiar.

Acho que Helena só virou minha amiga pela comodidade: contar sobre meu ataque de pânico as pessoas daria muito trabalho, e ser amiga da sua colega de quarto seria fácil. Mas, de qualquer forma, sou agradecida por essa comodidade, ou poderia muito bem morrer embaixo dessa árvore sem ninguém pra me ajudar.

Só saber que Helena estava ali pra cuidar de mim fez com que eu me acalmasse bastante. Conseguia a ouvir dizendo "relaxe" e me forcei a respirar com mais calma até que o ataque passasse por completo, o que aconteceu em alguns minutos.

Helena se jogou no chão ao meu lado e acendeu um baseado. Eu estendi as mãos como uma garotinha pedindo doce, ainda respirando meio pesado. Precisava me acalmar.

Helena sempre aparecia com algum tipo de droga, e eu nunca tinha ideia de onde ela arrumava estando presa no internato o tempo todo. Um pé de maconha explicaria o baseado, talvez, mas não as outras coisas que ela costumava usar.

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