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26 - DNA

Precisei de alguns segundos para me livrar do choque que me acometeu enquanto meu pai me encarava no centro do quarto, as mãos entrelaçadas umas nas outras e uma expressão indecifrável no rosto. Ele não se incomodou em olhar ou fazer caretas para o estado deplorável de roupas amassadas, maquiagem borrada e sapatos nas mãos em que eu me encontrava, mas isso era tudo que eu conseguia pensar – me sentia como uma adolescente rebelde prestes a levar uma bronca.

Meu pai tinha mudado muito desde a última vez que eu o vira, e as fotos na internet não faziam jus a sua postura inabalável. Ele tinha feições de um homem bem conservado de 50 anos, os cabelos anteriormente loiros agora eram uma mistura de branco e cinza tão bem distribuídos que pareciam pintados, sua pele era quase imperceptivelmente bronzeada, e ele tinha os olhos verdes da mesma cor dos meus.

Fiquei secretamente feliz com as poucas semelhanças à mim que pude encontrar em suas feições, me perguntando se ele sentia o mesmo enquanto me encarava, do outro lado do quarto.

Bom, sendo realista, acho que ele provavelmente estaria se perguntando, pelo estado onde em que eu me encontrava, onde diabos eu havia me metido.

– Skye, parece que finalmente nos encontramos. – Meu pai finalmente disse, querendo cortar a tensão que havia se formado nos poucos segundos em que eu me segurava para não ficar de boca aberta.

Já havíamos nos encontrado antes, em ocasiões que ele deliberadamente ignorou minha presença, mas resolvi não mencionar isso, já que aquele encontro em especial não se parecia em nada com os anteriores. Ele havia finalmente falado comigo, falado meu nome.

Sei que parece patético, mas fiquei contente que ele soubesse meu nome.

– Hã, me desculpe, ninguém me avisou que você viria... – Tentei, sem saber o que mais dizer.

– Não se preocupe, é só uma visita rápida. O quarto é seu, fique à vontade. – Ele fez um gesto para que eu entrasse com as mãos, e eu finalmente me movi da soleira da porta e a fechei logo em seguida, o obedecendo como se, na verdade, o quarto fosse dele. – Chegou à minha atenção de que você e minha filha tem se desentendido, por isso vim até aqui esclarecer algumas coisas.

Engoli em seco, o sorriso contido no rosto que eu não percebi que estava dando desaparecendo completamente. Entre você e minha filha.

– Posso entender que você culpa Erin pelas coisas que aconteceram na sua vida, isso é compreensível para uma garota da sua idade. A esperança faz com que nós nos tornemos grandes idiotas. – Ele disse, enquanto se sentava parcialmente na ponta da minha mesa de escrivaninha, parecendo um professor dando uma palestra. – Vim aqui pessoalmente ara te dizer que você pode perder essa esperança.

Franzi a testa deliberadamente, sem ter a menor ideia do que Jared Kendrick queria me dizer com aquilo tudo, enquanto ele dava um suspiro impaciente. Ainda assim, mesmo que não entendesse com exatidão suas palavras, o aperto no meu peito me dizia que aquilo não era bom.

– Olha, menina, eu sei que biologicamente, sou seu pai. Por isso, você nunca precisará se preocupar com dinheiro ou herança, tudo vai estar sempre ao seu alcance, já que tenho consciência de que estou dívida com você. – Ele olhou nos meus olhos por um segundo antes de continuar, e eu quase pude sentir pena em suas palavras: – Mas você nunca será minha filha.

Sentei na beirada da minha cama com um único movimento, quase me jogando, e concentrei todas as minhas forças em não chorar ou ter um ataque de pânico. Eu sabia daquilo, sempre soube. Não era surpresa que o meu pai não gostasse de mim.

Ainda assim, doeu como o inferno.

– Você foi um erro que cometi há muito tempo atrás, e que agora tenho que pagar. Por isso, você sempre terá meu apoio financeiro, mas nunca teremos uma relação fraternal.