— Então você, Helena Russeau, acredita em destino na palma da mão? — Evan perguntou, incrédulo.
— Eu não disse isso. — Helena respondeu, e fez uma bola de chiclete gigante antes de continuar: — Eu disse que não acho impossível. Você tem toda sua identidade na digital do polegar, por que não pode ter o destino escrito na mão?
Todos nós fizemos caras pensativas, tentando achar um bom argumento para bater a teoria de Helena, mas acabamos desistindo, e ela sorriu vitoriosa.
Era quarta-feira, e nós decidimos faltar a aula a tarde para confeccionar os cartazes da minha campanha... ou melhor, pra ajudar Todd a fazer isso. Apesar de ser vice-presidente do Andrew, Todd tinha bastante disposição pra nos ajudar na minha campanha, o que fazia com que eu e perguntasse se, entre notas altas, minha campanha, a campanha de Andrew e vídeo-games, ele conseguia arranjar tempo pra dormir.
Convencer Evan a nos ajudar é que foi bem mais difícil, porque, apesar de não ser vice-presidente de ninguém, ele achava toda a disputa uma perda de tempo. Eu e Helena só fomos capazes de arrastá-lo para o nosso quarto quando ela disse: "Não acredito que você prefere assistir aula do que passar a tarde no quarto com duas meninas".
A decisão de faltar aula provavelmente nos renderia uma advertência, mas o único que devia estar secretamente preocupado com isso era Todd. Ainda assim, ele preferia me ajudar e tentar conseguir mais alguns pontos com Helena, o que eu achava difícil de acontecer.
Enquanto eu e Todd pintávamos as letras que Helena desenhava — ela era muito boa com desenhos no geral, e vivia colando-os em lugares inapropriados como o vestiário masculino ou a porta da sala da diretora —, Evan olhava pro teto, deitado no chão e completamente entediado.
— Seria legal se você realmente ajudasse, Evan. — Eu disse, pegando o lápis-de-cor verde do estojo da Helena.
— Ajudar. — Ele revirou os olhos, debochando da palavra. Depois, olhou pra nós: - Isso me lembra, minha irmã vai fazer um evento aqui no domingo, a diretora deve anunciar amanhã.
— Você tem uma irmã? — Falei, franzindo a testa.
— Sim, por quê?
— Porque nunca disse nada.
— Nem você. — Ele sorriu pra mim. — Ela é mais velha que eu, e ta concorrendo a deputada do estado, então seria ótimo fazer uma boa impressão em vocês, com papais ricos que têm boa influência na sociedade e podem votar.
Eu quase tive vontade de rir da impossibilidade de eu conversar com meu pai sobre um assunto tão banal quanto política. Eu não conseguia me imaginar falando com ele mesmo se fosse um assunto de vida ou morte — aliás, nem me lembrava de como era o som da sua voz, até porque, ele nunca tinha falado diretamente comigo.
Passei minha vida toda falando com suas secretárias ou assistentes quando precisava de alguma coisa. Não conseguia me lembrar de ver meu pai sequer olhando na minha direção, isso nas poucas vezes que eu o encontrei.
Ainda me lembrava da primeira vez que o tinha visto, através de um vidro no hospital enquanto ele tirava sangue pro segundo exame de DNA, pra não ter dúvidas de que tinha mesmo engravidado uma garota de programa. Ele não olhou pra mim, e saiu de lá assim que terminou de tirar o sangue.
E eu, na época com 11 anos, achei que, quando eu realmente provasse que era filha dele, as coisas iam melhorar.
Aposto que eu nem teria chegado a conseguir provar tudo isso se não fosse minha tia, Luciana, irmã mais velha da minha mãe que lutou com unhas e dentes pra chamar a atenção de Jared Kendrick, ameaçando ir aos jornais e contar tudo pelo menos umas 5 vezes aos seus assistentes.
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Más Intenções | ✓
Novela JuvenilSkye Kendrick tem todos os atributos necessários para ser considerada a antagonista de qualquer clichê adolescente: Ela adora dar respostas atrevidas, estar no controle e destruir tudo que possa representar uma ameaça à sua reputação. O que ninguém...