16 - Everything is grey

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— Acho que sou uma pessoa muito pior do que penso ser. — Eu disse, encarando as nuvens que passavam e comendo um salgadinho. — Quer dizer, eu tenho consciência que sou uma pessoa má, mas acho que é ainda pior que isso.

Em resposta ao meu desabafo, Todd apenas levantou os olhos do livro e arqueou uma sobrancelha pra mim, o óculos na ponta do nariz dando a sua expressão um toque de acidez.

Era sexta-feira, e nenhuma das turmas de terceiro ano tinha aula à tarde — o que não importava muito pra mim, já que estava suspensa. O dia se encontrava ensolarado e calmo, contrariando minha crise interna, e tornando a folga uma oportunidade perfeita de passar a tarde com Andrew, se meu subconsciente não apitasse como um relógio estridente às cinco da manhã toda vez que eu me encontrava com ele e notava seus gestos superiores e aptos à presidência do grêmio.

Desde que lera seu discurso, eu havia ficado obcecada com a possibilidade de perder a competição para Andrew, principalmente quando os comentários no site de votações passaram a se resumir em opiniões debochadas sobre o quanto eu e Erin éramos patéticas a ponto de brigarmos por um garoto, enquanto a porcentagem de votos desse mesmo garoto só crescia.

A pausa por tempo indeterminado na candidatura — anunciada pela diretora no jantar e em letras gigantes coladas no quadro de avisos — havia esfriado um pouco a movimentação no site e as fofocas sobre isso, mas minha briga com Erin ainda se encontrava fresca na memória de todo mundo, e saber que o discurso de Andrew, mesmo depois de todas as burradas feitas pela minha irmã, ainda a garantia o primeiro lugar na competição só me deixava mais paranoica em relação a Andrew.

Tudo que ele falava ou fazia perto de mim se tornava motivo de comparação contra mim mesma em meus pensamentos, e eu perdia constantemente. Isso passou a me deixar irritada perto dele, e eu já não conseguia mais ver o garoto rebelde por quem eu tinha me interessado — tudo que eu via, era alguém melhor que eu e que, eventualmente, me derrotaria.

A garota inocente que Andrew havia despertado em mim nas nossas primeiras vezes desapareceu completamente e sem deixar rastros, dando bastante espaço para minha personalidade invejosa e competidora, tudo isso enquanto, inversamente, ele parecia cada vez mais interessado em mim.

Então, a única solução que arrumei para o problema que havia criado mentalmente foi evitar Andrew o máximo que podia e torcer para que o sentimento passasse.

Mesmo que eu soubesse que não passaria.

A melhor maneira que encontrei de fazer isso foi passar todo o meu tempo livre sentada na grama do pátio de primavera, olhando pro céu e conversando com a única pessoa que eu me sentia à vontade e que ainda tinha liberdade para conversar, Todd Mason, mesmo que ele não combinasse muito com minha personalidade, nem com a paisagem — o que, no fundo, me fazia sentir falta de Evan.

— Acho que sou cruel. — Concluí.

— Pessoas cruéis não acham que são cruéis nem se repreendem por isso, elas apenas são. — Todd disse, voltando a atenção pro livro. — Se você se sente frustrada por ser cruel, é porque você não é.

Era por esse motivo que eu desabafava meus defeitos pra Todd como se ele fosse meu terapeuta: eu sabia que ele os contestaria, já que Todd me adorava. Ele era muito bom em entender as situações na teoria, e talvez estivesse certo e eu não fosse realmente cruel, mas o garoto não tinha ideia de como meu cérebro funcionava na prática, de quantas coisas terríveis eu pensava sobre seu jeito enquanto conversava com ele, nem de como tudo que eu fazia tinha como propósito um benefício próprio, incluindo aquela própria conversa, já que eu, mesmo frustrada, gostava de quando Todd mostrava que eu estava errada sobre mim mesma e que, na verdade, eu não era tão ruim assim — mesmo que eu não acreditasse naquilo do jeito que ele acreditava, nem por um segundo.

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