15 - Threat

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Sempre achei ilógica a maneira como as pessoas costumavam pensar de que familiares eram obrigados a se dar bem e conviver entre si. Nunca tive esse tipo de cobrança na minha vida — nem minha mãe ou meu pai fizeram algum esforço para que eu gostasse deles —, mas já vi esse caso em outras famílias. As pessoas do Internato, secretamente, estranhavam minha batalha com Erin desde que ela colocara os pés ali, e eu não podia culpá-los: ver duas irmãs brigando tão arduamente entre si era algo incomum, porque toda família era obrigada a gostar de seus membros.

Elas não conseguiam entender que, mesmo sem todos os motivos pessoais pelos quais eu odiava Erin Kendrick, sua personalidade também não me agradava nem um pouco, e eu não era obrigada a fingir que minha irmã era uma garota divertida só porque compartilhávamos do mesmo sangue.

Principalmente quando isso era tudo e somente o que compartilhamos a vida toda uma com a outra.

Olhei outra vez pra minha irmã, sentada á duas mesas de distância, encarando Andrew como um cachorro abandonado enquanto ele ria discretamente de algo que Emmett havia dito, com uma mão no garfo enquanto separava a comida e a outra fazendo carinho no meu joelho.

Erin virou seu olhar pra mim, e eu sorri.

Ela podia ter a maioria dos votos do Internato e várias amigas sanguessugas, mas não conseguia de maneira alguma superar o fato de que Andrew Ortiz tinha seguido em frente, e não se importava mais com ela.

Eu, por outro lado, não poderia estar mais feliz.

É claro que, a dias sem falar com Helena e  a porcentagem de votos basicamente sem mudança alguma, eu tinha preocupações urgentes com as quais não sabia como lidar, mas estar com Andrew — principalmente sabendo que era isso que Erin mais queria — amenizava um pouco meus pensamentos ansiosos. Tê-lo ao meu lado enquanto almoçamos juntos em uma quarta-feira com Emmett e Alissa não era nem de perto tão ruim quanto enfrentar aquilo sozinha, assim como também era bom saber que eu tinha alguém do meu lado quando Helena se encontrava ausente, principalmente quando esse alguém tinha olhos azuis tão claros e um sorriso cativante.

— A parte mais interessante do colégio pra mim são os bolsistas. — Alissa disse, assim que voltei a prestar atenção na conversa. — Eles são como galos de briga, é só colocá-los em um lugar apertado com uma nota de cem como prêmio e eles são capazes de fazer qualquer coisa.

Andrew apertou meu joelho com um pouco mais de força, claramente irritado com o que Alissa disse, e rebateu:

— Pessoas ricas se importam muito mais com dinheiro do que pessoas pobres, na verdade.  — Ele sorriu. — Gente pobre tá acostumada a perder, são os ricos que brigam até a morte pela vitória.

— Você só diz isso porque é bolsista. — Alissa respondeu de volta.

— Talvez. — Andrew disse, sem revelar pra ela que na verdade tinha bastante dinheiro, o que com certeza era o que eu faria. — Mas eu não lutaria por uma nota de cem, principalmente se ela viesse de você. Não simpatizo com dinheiro lavado.

Alissa fechou a cara e forçou um sorriso, claramente irritada com as palavras de Andrew, enquanto Emmet tampava a boca e segurava a risada. O pai de Alissa era um político influente que tinha pelo menos três suspeitas de corrupção nas costas, além de uma namorada diferente e mais nova que a filha a cada seis meses.

Porém, antes que eu tivesse qualquer reação às palavras de Andrew na conversa descontraída da mesa, vi pelo canto do olho apenas o dedo indicador da minha irmã, pintado de rosa claro e cutucando Andrew no ombro, que se virou para olhá-la no mesmo segundo em que eu fazia o mesmo.

— Oi, podemos conversar por um minuto? — Minha irmã perguntou, olhando diretamente pra ele e mais ninguém.

Erin usava o uniforme da escola e tinha um rabo de cavalo torto, com madeixas encaracoladas escapando do penteado em todos os lados, e ainda assim parecia bonita. Mas sua expressão de tristeza e solidão, feita especialmente pra deixar Andrew com pena, conseguiu me irritar ainda mais do que o ar angelical da sua aparência, porque eu simplesmente odiava pessoas que vestiam suas fraquezas como um manto para atrair simpatia dos outros, ao invés de escondê-las.

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