22 - The Kendricks

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Eu precisava acabar com aquela maldita bagunça.

Nunca fui idiota ou iludida. Sabia que haviam sido minhas manias de competição e superioridade – agravadas ao dobro com a chegada de Erin – que tinham transformado minha vida em uma montanha-russa metafórica e, como todo brinquedo de parque de diversões, algumas partes forem realmente emocionantes, mas eu estava ficando cansada dos loops infinitos.

Precisava de um pouco de estabilidade. Precisava dar um fim a competição do Grêmio Estudantil, mesmo que isso significasse perder.

Demorei exatamente uma semana para organizar minha ideia, dando um passo pequeno de cada vez e tentando chamar o mínimo de atenção possível. Ainda não tinha ideia de como superar as palavras bem proferidas dos discursos de Andrew ou a doçura de Erin, mas isso já não importava mais, não no momento.

Antes de descobrir como superá-los, eu precisava trazer a competição de volta.

Evan me ajudou com meu plano, me ajudou de verdade. Pela primeira vez, ele parou de reclamar e fez, de bom grado, tudo que eu pedia gentilmente para que ele fizesse, porque sabia que, enquanto a competição continuasse, ele ainda continuaria preso.

Nós não conversamos mais sobre sua confissão, mas o clima entre nós mudou completamente depois da nossa conversa no carro. Continuávamos com as implicâncias infantis e piadas maliciosas, mas agora elas eram geralmente seguidas por sorrisos cúmplices, ao invés de olhares atravessados, o que resultava em momentos estranhos onde eu tinha que desviar o olhar para não corar ou acabar me jogando para cima dele, numa mistura intensa entre a Skye inocente que havia aflorado em mim nos últimos meses, e a impetuosa que eu sempre havia sido.

Eu ainda não sabia o que sentia por Evan, e não queria pensar nisso enquanto não resolvesse meus outros problemas pendentes. Evitava ponderar sobre o assunto da mesma maneira que evitava a ideia de perder para Andrew e Erin no discurso: uma coisa de cada vez.

Primeiro, a competição.

Depois de uma semana de estresse, o domingo chegou. Eu acordei com o despertador apitando suavemente e sorri, enquanto levantava para me arrumar e puxava Helena para fora da cama. Coloquei um vestido verde escuro e fiz um penteado com o cabelo metade solto que me fizeram parecer com a filha de um diplomático. Para combinar com a roupa, vesti meu melhor sorriso simpático, deslizei um convite – o único que restava – por debaixo da porta da sala da diretora e fui andando com Helena para o outro lado da ponte.

O evento beneficente que visava arrecadar dinheiro para a reforma da seção infantil da biblioteca do Internato estava marcado para as duas da tarde, mas eu decidi chegar cedo para me certificar de que tudo continuava perfeito. Mesas de aperitivos, garçons bem vestidos e o clima agradável com vento suave continuavam combinando magicamente, e eu sorri internamente ao me dar conta de que havia feito aquilo sem ao menos precisar notificar a diretora – só precisei pagar as pessoas certas –, me lembrando da nossa conversa no início do ano, quando ela me disse que eu não comandava o Internato.

Eu já era a presidente do Grêmio perfeita, e ainda nem havia ganhado a eleição.

O evento havia sido preparado especialmente para os pais dos alunos do Internato, mas alguns dos poucos alunos que costumavam passar os finais de semana no lugar também haviam sido convidados – os mais influentes, é claro. O evento não passava de uma mera formalidade para que pessoas poderosas se encontrassem, conversassem e fingissem que estavam fazendo uma boa ação, quando na verdade, todos ali presentes sabiam que a mensalidade que cada aluno pagava pela Internato tornava capaz a reforma de pelo menos dez bibliotecas.

Não me importei nem um pouco com isso, porque também não dava a mínima para a biblioteca. No convite salmão com letras douradas enviado para todas as famílias poderosas durante a última semana, eu deixava bem claro que aquela não passava de uma forma de agradecimento à diretora por ter trago de volta a competição para presidente do Grêmio estudantil –mesmo que ela não tivesse nem chegado a pensar em fazer isso – mostrando como eu, a perfeita candidata à presidência, realmente me importava com a situação atual do Internato e suas bibliotecas.

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