Vovó Maria Conga

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        Pequeno especial pelo dia de hoje, (13 de maio). História, ponto e prece a essa preta velha que tanto nos ajuda. Escolhi logo essa vovó pois tenho uma afinidade, carinho e gratidão enorme por ela. Mas futuramente irei trazer sobre outros(a).


        De onde ela veio? Angola, Congo, Moçambique, Guiné, Luanda, não importa, pois sua presença representa um lenitivo para os nossos sofrimentos e uma lição de vida dessa preta velha, que com seu cachimbo branco, saia carijó, terço de lágrimas de nossa senhora, senta-se em um toco de madeira no terreiro e conta os fatos de sua vida em terra brasileira, começando dizendo que só o fato de podermos conviver com nossos filhos é uma grande dádiva.


        Vinda da África distante, filha de Pai Rei Congo e Vovó Cambinda, chegou a Bahia pelos navios tumbeiros a escrava que foi dado o nome de Maria. Como sua origem era da tribo do Rei Congo, foi chamada de Maria Conga.

Naquele tempo as negras eram coisas e destinadas a cuidar da lavoura, a procriar, a gerar filhos que delas seriam afastados muito cedo, até mesmo antes de serem desmamados. Outras negras alimentavam sua cria ou de outras escravas, assim como tantos outros candengues foram amamentados pela Vovó Maria Conga.  Quase todas as mulheres escravas se transformavam em mães, cuidavam das crianças que chegavam à fazenda sem saber pra onde foram enviados os seus pais, rezando para que seus próprios filhos também encontrassem alento aonde quer que estivessem.

        Os Orixás africanos, desempenhavam papel fundamental nesta época. Diferentes nações africanas que antes guerreavam, foram obrigadas a se unir na defesa da raça e todos os Orixás passaram a trabalhar para todo o povo negro. As mães tomavam conhecimento do destino de seus filhos através das mensagens dos Orixás. Eram eles que pediam oferendas em momentos difíceis e era a eles que todos recorriam para afastar a dor. 

Vovó Maria Conga para deixar de ser uma reprodutora passou a se utilizar de algumas ervas, e pelo fato de ser uma escrava forte, foi enviada para a plantação de cana, onde a colheita era sempre motivo para muito trabalho e uma espécie de algazarra contagiava o lugar, pois as mulheres cortavam a cana e as crianças, em total rebuliço, arrumavam os fardos para que os escravos os carregassem até o local indicado pelo feitor. Foi numa dessas ocasiões que Maria Conga soube que um dos seus filhos, afastados dela ainda no período de amamentação, tinha se tornado um escravo forte e trabalhava numa fazenda próxima. Então o amor falou mais forte e seu coração transbordou de alegria e nada poderia dissuadi-la da ideia de revê-lo. Passou Maria Conga a escapar da fazenda, correndo de sol a sol, para admirar a beleza daquele forte negro. Nas primeiras vezes não teve meios de falar com ele, mas os Orixás ouviram suas súplicas e não tardou para que os dois pudessem se abraçar e derramar as lágrimas por tanto tempo contidas. Parecia a ela que eles nunca tinham se afastados, pois o amor os mantivera unidos por todo o tempo. 

Certa tarde, quase chegando na senzala, a negra foi descoberta. Apanhou bastante, foi acorrentada, mas sempre conseguia passar os seus pés pelos grilhões e não deixou de escapar novamente para reecontrar seu filho. Mais uma vez os brancos pegaram na fuga, novamente a acorrentaram com os grilhões nos pés e como ela ainda insistisse uma terceira vez, resolveram encerrar a questão: queimaram sua perna direita, um pouco acima da canela, para que ela não pudesse mais correr.

Impossibilitada de ver o filho, com menor capacidade de trabalho e locomoção, Maria Conga começou o seu lamento de dor e passou a cuidar das crianças negras e de seus doentes. De repente, Maria Conga foi encontrada calada, triste, com o coração cheio de tristeza ao saber que seu filho tinha sido morto quando tentava fugir para vê-la. Seu comportamento mudou e de alegre e tagarela passou a ser muito série, mas sempre cuidava dos escravos doentes e de outros negros que venham procurar o seu conselho e contava histórias de reis negros para as crianças, de outras terras além mar, onde não havia escravidão. Um dia os escravos ao procurar pela Vovó Maria Conga dentro da senzala, estranharam o seu sono sereno e o seu semblante alegre ao dormir. Como o sol rompeu e a escrava não acordava os escravos a foram chamar, foi onde houve a surpresa, não encontraram o corpo, pois Maria Conga desencarnou e não mais estava neste plano terrestre, pois Orunmilá a havia resgatado, para se tornar mais uma estrela da sua constelação. 

De nada adiantou os feitores açoitarem os escravos, pois os mesmo não sabiam como explicar o sumiço da escrava Maria Conga. Então os escravos passaram a adorar como uma santa e toda vez que necessitavam das suas curas, entoavam: "Brilhou uma estrela no céu, Oxalá mandou Maria Conga na terra e lá no mar as ondas batiam, saravando a Preta Velha Maria Conga da Bahia."


Prece a Vovó Maria Conga:

Benevolente e iluminada vó Maria Conga 

peço a tua proteção e bendigo a tua presença em todos os momentos. 

Quero pedir-te que venha em meu auxílio juntamente com toda tua corrente bendita. 

Traga-me a benção de teus sábios conselhos.

Dai-me a paz que trazes no olhar.

Seca minhas lágrimas com tua ternura.

Livra-me do perigo.

Livra-me da incerteza.

Vó Maria Conga peço-te coragem nos momentos difíceis.

A tu que sofreste tanto e suportaste tudo com humildade e perdão, pelo força e luz.

Adorei as almas!


Ponto cantado de Vó Maria Conga:

Todo dia era dia de choro e de muita dor

Mesmo assim uma escrava chegava de bom humor.

Quem chorava passava a sorrir

Quem caía ficava de pé

Ela era a esperança o amor e a fé. 

Na passagem de um mundo pro outro seu povo sentiu

E aquela doçura não mais existiu.

Ela disse que ia voltar, precisando pode lhe chamar.

Pra Aruanda o tambor pode tocar

Conga, Vó Maria Conga que saudades de você

Preta velha feiticeira rainha do Caterete.


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