CAPÍTULO 4

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Romantismo como revolta contra a vida roubada: o mal-estar com a

modernidade


O que é Romantismo, afinal? Como eu já disse, foi um movimento

literário e filosófico que nasceu na Alemanha em meados do século

XVIII e varreu a Europa e as Américas. O Romantismo é um grande

lamento com a modernização e seus efeitos indesejáveis. Quais

efeitos são esses?

A forma mais fácil de descrever esse sentimento é

lembrarmos quando nos sentimos um mero número numa cadeia

produtiva, ou quando nos sentimos uma peça genérica nessa mesma

cadeia. Já sentiu isso? Se não, é porque você é um daqueles

privilegiados, como eu, que trabalham, a maior parte do tempo, em

algo criativo e que faz sentido para você. A maioria só ganha dinheiro

para sobreviver. Ganhar dinheiro também pode ser uma atividade

criativa, mas não é esse o caso para a maioria das pessoas.

O mundo moderno burguês em que vivemos é um lugar

pautado pela lógica da eficácia em que todo mundo é medido pelo seu

valor "instrumental", ou dito de outra forma, pelo seu valor "de

uso". Você vale pelo que faz funcionar neste mundo. Idosos hoje não

valem nada, apesar de dizerem o contrário. Ficam brincando com

computadores e Facebook para parecer parte deste mundo. Claro, os

idosos com grana têm seu lugar na cadeia de consumidores de bens

de valor. Antes, quando os idosos eram raros, valiam mais; hoje, que

são muitos, seu valor está inflacionado, além do fato de que, com o

avanço das tecnologias de informação, que eles desconhecem em

grande parte, os idosos deixaram de narrar a vida, como dizia o

filósofo alemão Walter Benjamin (século XX). Narrar a vida significa

ajudar os mais jovens a compreender a vida deles a partir da

experiência acumulada das gerações. Mas hoje geração é coisa da

publicidade e suas letras: X, Y e Z. O resultado é que os idosos, na

melhor das hipóteses, acabaram virando um "mercado de serviços

para idosos", e estão à margem da sociedade produtiva. Sorte de

quem ganha com isso.

Ficou chocado com o que eu disse acima? Sinto muito. É

meio feio mesmo, mas o que fiz foi uma análise instrumental do

idoso em nosso mundo contemporâneo. Uma análise como essa

desnuda o que uma pessoa "vale" para a cadeia produtiva de bens, e

um idoso, na maioria dos casos, não vale nada. Imagino que diante

disso você erguerá a voz, quase tremendo, dizendo que sua avó é

fundamental para você. Sei que você ama sua avó, mas a maioria de

Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe PondéWhere stories live. Discover now