A ciência triste da economia
A economia é uma ciência triste. Experimente falar de dinheiro com
sua mulher para ver como ela vai ficar triste. Sim, se uma mulher for
a responsável pela grana, o marido também ficará triste se ela
trouxer o tempo todo a referência do quanto as coisas custam. Não é
uma questão de gênero, como falam os chatinhos e as chatinhas de
hoje em dia.
A economia é uma ciência triste porque é a ciência da
escassez. Os recursos a nossa mão são sempre menores do que aquilo
que queremos. Toda dona de casa sabe disso: o supermercado é a
prova de que os recursos são caros e raros. As donas de casa
deveriam decidir nossa economia. Exagero o argumento para
lembrar aos inteligentinhos que a economia nada tem a ver com
delírios socialistas de justiça social, mas com a lista de
supermercado que não cabe no seu bolso.
Claro, existe gente boba por aí que acha que os índios
poderiam nos ensinar a viver da terra. Incrível como antropólogos
cultos e capazes podem acreditar que um modo de vida neolítico
poderia acolher 7 bilhões de pessoas. O que esses caras não podem
confessar é que, além de pegar bem na fita dizer coisas assim ("o
mundo é cheio de coisa inútil", o que é bem verdade), porque
alimenta o tal marketing de comportamento de que falei antes, para
viver como os índios teríamos que matar, no mínimo, nove décimos
da humanidade inteira. Mas, como sempre, esses ungidos podem
falar o que quiserem, porque falam para seus seguidores e crentes. A
única forma de fazer um mundo indígena é destruir a liberdade de
todos que não aceitarem falar tupinambá.
Não, não dá para todo mundo ser feliz e ter tudo. As
pessoas querem o que elas querem o tempo todo. A vida enriqueceu
materialmente desde o século XVIII de modo assustador. Para manter
essa felicidade no ar e nas prateleiras se faz necessário cada vez
produzir mais. Por isso que bobos de todos os tipos afirmam que a
saída seria diminuir o crescimento econômico. O problema é que
esse bobo não confessa que o que ele quer é que todo mundo lhe
obedeça.
Concordo que nosso mundo é um mundo besta em muitas
coisas (teremos tempo de falar disso), mas ninguém aceitaria, por
exemplo, que parássemos os avanços da medicina ou da produção de
alimentos (orgânicos ou não). Quase tudo é uma farsa naqueles que
negam a tristeza da escassez que nos assola.
E essa escassez é também fisiológica: somos frágeis,
mortais. Escassez psicológica: dependemos de recursos afetivos a
nossa volta.
A afirmação mais profunda acerca da escassez que nos
assola e nos determina foi feita por Nelson Rodrigues: "Dinheiro
compra até amor verdadeiro". O afeto verdadeiro responde à
melhoria das condições materiais. Claro, não é 100% que dê certo,
mas nada é 100%. Não dará, se você disser isso a quem você quer que
o ame. Lembre-se do que eu disse no início deste capítulo: você
entristecerá sua mulher se falar de grana o tempo todo com ela,
porque lembrar o custo das coisas torna a vida triste. Se tivéssemos
todos os recursos que queremos para fazer o que quiséssemos, então,
sim, o mundo seria um paraíso.
Quando você tiver alguma dúvida sobre isso, procure se
informar sobre como inventários familiares, não importa o tamanho
do patrimônio, revelam a tristeza que assola nossa humanidade.
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Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe Pondé
RandomO objetivo deste livro é ajudar o leitor a pensar com a sua própria cabeça. Para tal, o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé, autor de vários best-sellers, se apoia na história da filosofia para apresentar argumentos para quem quer discutir todo e...