Não há nada mais sem rumo do que a educação contemporânea
Certa feita, durante uma festa de fim de ano numa das instituições em
que sou professor, uma colega, um tanto chocada com o que eu dizia
sobre a educação, me perguntou: "Como assim, você não acredita na
educação? Então por que dá aula?".
Respondi à minha assustada colega que dava aulas por
vício: me divirto dando aula (o que em filosofia significa que dou
aulas por razões estéticas, ou seja, porque me sinto bem fazendo
isso, logo, porque gosto). O choque na mesa foi geral. Vou explicar
melhor essa passagem para você entender, porque acho que você
devia tomar muito cuidado com os professores e coordenadores das
escolas de seus filhos.
O projeto de educação mais antigo conhecido é o de
Platão, autor de A república (em grego Politeia). Nessa cidade ideal,
nessa mãe de todas as utopias, jovens nobres eram educados em
música, ginástica e filosofia. Os melhores meninos eram escolhidos
para cruzar com as melhores meninas, a fim de gerar uma bela
geração, biologicamente falando. Em grego antigo se dizia "eu (belo)
genia (geração)". O nome que Platão dá ao processo educacional é
paideia, que para os gregos queria dizer formação.
Essa ideia de formação grega vingou ao longo dos séculos.
Sem entrar em pormenores históricos obsessivos, porque meu nome
não é Google, chegamos, via universalização da educação, a partir do
fim do século XVIII iluminista, ao nosso tempo e às escolas por aí.
Uma função que as escolas têm, mas de que ninguém
precisa falar muito, é ocupar as crianças. Com o mundo
contemporâneo e a atomização das famílias (ninguém está nem aí
para pais, irmãos, primos, tios, avós, e vice-versa) – em alguns
casos chegando à família mononuclear, um genitor responsável e
uma criança ou duas –, ocupar o filho se tornou essencial, já que nem
a mulher quer ficar tomando conta do rebento (claro que existem
exceções, que servem só para reforçar a regra). O resultado é que, por
exemplo, greves de professores de escolas públicas só são sentidas
depois de muito tempo e quando as alternativas para as mães irem
trabalhar já se esgotaram. Logo, escolas são, também, depósitos de
crianças para que os pais vivam. Feio? É, sim, feio, mas não escrevi
este livro para fazer marketing de comportamento para você.
Existe uma exceção importante à atomização das famílias:
além dos pobres, por falta de opção (melhora de vida implica
individualismo e atomização), as mulheres religiosas de adesão
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Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe Pondé
AcakO objetivo deste livro é ajudar o leitor a pensar com a sua própria cabeça. Para tal, o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé, autor de vários best-sellers, se apoia na história da filosofia para apresentar argumentos para quem quer discutir todo e...