CAPÍTULO 19

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Não há nada mais sem rumo do que a educação contemporânea

Certa feita, durante uma festa de fim de ano numa das instituições em

que sou professor, uma colega, um tanto chocada com o que eu dizia

sobre a educação, me perguntou: "Como assim, você não acredita na

educação? Então por que dá aula?".

Respondi à minha assustada colega que dava aulas por

vício: me divirto dando aula (o que em filosofia significa que dou

aulas por razões estéticas, ou seja, porque me sinto bem fazendo

isso, logo, porque gosto). O choque na mesa foi geral. Vou explicar

melhor essa passagem para você entender, porque acho que você

devia tomar muito cuidado com os professores e coordenadores das

escolas de seus filhos.

O projeto de educação mais antigo conhecido é o de

Platão, autor de A república (em grego Politeia). Nessa cidade ideal,

nessa mãe de todas as utopias, jovens nobres eram educados em

música, ginástica e filosofia. Os melhores meninos eram escolhidos

para cruzar com as melhores meninas, a fim de gerar uma bela

geração, biologicamente falando. Em grego antigo se dizia "eu (belo)

genia (geração)". O nome que Platão dá ao processo educacional é

paideia, que para os gregos queria dizer formação.

Essa ideia de formação grega vingou ao longo dos séculos.

Sem entrar em pormenores históricos obsessivos, porque meu nome

não é Google, chegamos, via universalização da educação, a partir do

fim do século XVIII iluminista, ao nosso tempo e às escolas por aí.

Uma função que as escolas têm, mas de que ninguém

precisa falar muito, é ocupar as crianças. Com o mundo

contemporâneo e a atomização das famílias (ninguém está nem aí

para pais, irmãos, primos, tios, avós, e vice-versa) – em alguns

casos chegando à família mononuclear, um genitor responsável e

uma criança ou duas –, ocupar o filho se tornou essencial, já que nem

a mulher quer ficar tomando conta do rebento (claro que existem

exceções, que servem só para reforçar a regra). O resultado é que, por

exemplo, greves de professores de escolas públicas só são sentidas

depois de muito tempo e quando as alternativas para as mães irem

trabalhar já se esgotaram. Logo, escolas são, também, depósitos de

crianças para que os pais vivam. Feio? É, sim, feio, mas não escrevi

este livro para fazer marketing de comportamento para você.

Existe uma exceção importante à atomização das famílias:

além dos pobres, por falta de opção (melhora de vida implica

individualismo e atomização), as mulheres religiosas de adesão

Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe PondéWhere stories live. Discover now