Marketing de comportamento ou marketing moral
Há uma novidade no mundo contemporâneo em relação ao tema da
moral. Primeiro, é usar a expressão comportamento em vez de
costumes ou hábitos (objetos clássicos da ética). É mais chique falar
em comportamento do que em ética. Em certo sentido até faz sentido
(repetição proposital), porque a palavra ética, hoje em dia, é, como a
palavra energia, melhor que seja evitada porque todo mundo fala,
mas ninguém sabe o que é.
Há algo mais nessa ideia de marketing de comportamento.
A substância da moral pública sempre foi a hipocrisia, portanto não
há nada de novo em se tentar fingir virtudes que não se tem. Mas,
hoje, perdeu-se essa consciência de que toda moral pública é
hipócrita na sua essência, e, por isso, as pessoas que fingem ser do
bem não são percebidas como hipócritas. Nunca na história da
humanidade fomos tão mentirosos como hoje. A ideia de que fazer
propaganda da própria virtude (os corretinhos do mundo) possa ser
levada a sério é ridícula.
Por exemplo, fala-se de uma nova consciência dos jovens
com relação ao trabalho (a geração Y e a Z só aceitam trabalhar em
algo que faça sentido para elas) quando na realidade a busca de um
trabalho significativo sempre foi para poucos ricos, ou corajosos, ou
loucos. Nada mudou em relação ao trabalho; trabalha-se para ganhar
a vida. Mas os bonitinhos ficam inventando que existe uma nova
consciência em relação ao trabalho e ganham grana com essa
bobagem, discursando em universidades, empresas e na mídia.
Outro exemplo é essa gente que fala do capitalismo consciente e que o
lucro não será o principal valor de uma empresa no século XXI.
Imagine se o seu patrão parar de ter lucro. Ele para de pagar o seu
salário.
Como o mundo contemporâneo é a civilização mais
escrava da aparência que já existiu no mundo (o marketing como
paradigma de mundo é isso), perdemos a capacidade de lembrar que
toda moral públi ca é hipócrita. O dano que os intelectuais causaram,
grosso modo a partir do final do século XVII, se transformando no
clero salvacionista do mundo, se fazendo de "pregadores da boanova"
no lugar dos padres e pastores, foi enorme. Os intelectuais (e
acadêmicos e professores em geral) são uma das classes mais
corruptas moralmente de nossa época, querendo fazer parte dos
governos para ganhar os restos da sua mesa de jantar. Os mais
aplicados viram intelectuais orgânicos de partidos e ganham cargos
na administração. Quando um intelectual abraça uma causa, passa a
ser um picareta. Basta ver no tom indignado com o qual fala ou
escreve sobre como o mundo deveria ouvi-lo, e você saberá que está
diante de um picareta do pensamento.
A incapacidade de lembrar que toda moral pública é uma
farsa tem a ver também com a democracia e sua idealização de
transparência (basta falar a palavra democracia e você estará a salvo,
a favor do povo), mas isso vamos ver quando falarmos de política.
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Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe Pondé
RandomO objetivo deste livro é ajudar o leitor a pensar com a sua própria cabeça. Para tal, o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé, autor de vários best-sellers, se apoia na história da filosofia para apresentar argumentos para quem quer discutir todo e...