Metafísica
A palavra metafísica tem pedigree na filosofia, seja para defendê-la,
seja para atacá-la. Por exemplo, Platão, pai fundador da filosofia, era
um metafísico, Nietzsche detestava a metafísica, entre outros nomes
grandiosos. Às vezes significa um ensino historicamente datado,
como no caso de Platão ou Aristóteles, às vezes significa um tipo de
temperamento dado a crenças ou emoções ligadas a um mundo além
da matéria, por exemplo, como no caso de muitos religiosos,
místicos ou românticos.
A ideia de metafísica nasce com Platão com seu "mundo
das ideias perfeitas e imateriais" a partir das quais nosso mundo da
matéria teria sido feito como uma cópia imperfeita e corruptível.
Para Platão, as imperfeições do mundo e da vida seriam fruto de
incompetência do demiurgo (um deusinho vagabundo) que inventou
este mundo copiando as ideias eternas e plenas do mundo das ideias.
A consequência, ainda que ele nunca tenha usado a palavra metafísica
em sua obra (quem usou foi Aristóteles, para dar o título de sua obra
sobre o "Ser"), foi fundar todo um campo de reflexão acerca do
imaterial, invisível e eterno, coisa que judeus, cristãos e
muçulmanos adoraram quan do leram, porque viram nesse mundo a
"cabeça de Deus", ou, no mínimo, sua casa. Quando Aristóte les
afirma que existe um "primeiro motor imóvel que tudo move sem
ser movido, que tudo condiciona sem ser condicionado, que tudo
causa sem ser causado", e chama isso de theos, e inventa uma parte de
seu livro Metafísica (ao pé da letra "o que vem depois da física",
logo, do material) à qual dá o nome de teologia, os religiosos não
resistem e dizem: olha aí, Aristóteles conhecia Deus, porque
reconhecer Deus é fruto do pensamento!
A metafísica se tornou uma espécie de primeira ciência
(no sentido de primeiro saber), que exploraria o mundo das verdades
eternas e não materiais, a parte "filosófica" da crença no invisível e
imaterial porque Deus, deuses e espíritos seriam imateriais e
invisíveis (a menos que quisessem se fazer materiais e visíveis para
nós). A metafísica virou um nome usado para se referir a esse mundo
das "substâncias imateriais".
Outra coisa que atormentou e atormenta muita gente é se
existe mesmo (como existia para Platão) um bem imaterial e eterno;
portanto, se o bem seria algo não criado pelo homem e sua história.
Pessoalmente, acho que sim, é criado pelo homem e sua história,
mas não acho que saibamos como fazemos isso. Então, apesar de
sermos nós que fazemos, parece algo de outro mundo, porque não
temos o controle desse processo, ao contrário do que pensam os
bobos marxistas e foucaultianos. A ideia de que exista um bem
imaterial e eterno alimenta a alma religiosa e metafísica porque ela
associa esse bem a Deus. A própria ideia de alma é com frequência
vista como metafísica, por isso imaterial e eterna. Mas quando
pensamos em alma assim, estamos chegando perto do que podemos
chamar de "sobrenatural", algo que veremos no próximo capítulo.
A filosofia moderna e contemporânea criticou muito a
metafísica, chegando mesmo a destruí-la, de certa forma, dizendo
que é uma espécie de viagem de platônicos de todos os tipos. Com o
nascimento da ciência, a ideia de um mundo imaterial se tornou meio
fora de moda, porque o pensamento moderno é muito preocupado
com a eficácia e os resultados, e a metafísica não serve para nada, a
não ser para nos ajudar a crer em alguma forma de um mundo
melhor do que esta em que vivemos, o que pode significar que a
metafísica não passa de pânico diante do nada – como pensava um
dos maiores antiplatônicos da história da filosofia, Nietzsche.
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Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe Pondé
DiversosO objetivo deste livro é ajudar o leitor a pensar com a sua própria cabeça. Para tal, o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé, autor de vários best-sellers, se apoia na história da filosofia para apresentar argumentos para quem quer discutir todo e...