CAPÍTULO 6

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Religião e espiritualidade



Você é religioso? Se for, o é por alguma carência séria em você,

diriam Freud, Marx e Nietzsche. De certa forma, somos todos

carentes porque somos mortais, limitados, assustados e frágeis

psicológica e fisicamente. A carência à qual se referem os homens de

conhecimento citados acima é, antes de tudo, uma carência cognitiva,

carência de conhecimento. Diante da agonia da finitude e do fracasso

iminente da vida que acometem a todos em algum momento, o

religioso seria aquele que "não segura a onda" e busca socorro. Essa

ideia de que ser religioso implica alguma forma de carência

cognitiva é comum entre pessoas que se julgam mais cultas. Tenho

dúvidas de que isso seja uma verdade evidente. A maioria das pessoas

que conheço que não acreditam em Deus, acredita em bobagens como

alimentação balanceada, espíritos indígenas, ciência, história,

política ou em si mesmas. Pessoalmente, julgo a crença em si mesmo

a mais brega e ridícula de todas.

O século XX foi mortífero não em nome de Deus, mas em

nome da política. Esse é um fato que, muitas vezes, escapa aos nossos

péssimos professores de história que ensinam bobagens para nossos

alunos. Na minha experiência pessoal, acadêmica ou na mídia, não

me parece que pessoas não religiosas sejam mais sábias do que

pessoas religiosas. Muita gente para de crer em Deus ou deuses e

passa a crer em si mesma (como disse acima), o que acho uma

bobagem ainda maior se levarmos em conta a fragilidade de nossos

pequenos "eus".

O que é religião? Sinto dizer que a resposta não é uma

evidência. Para especialistas em religião, as religiões históricas são

tentativas mais ou menos organizadas de modo prático, e não apenas

teórico, de dar sentido à vida. Só funcionam se você estiver

submetido, de fato, a elas em seu cotidiano – esse é o sentido de

"prático" ao qual me referi acima. Por exemplo, a religião só

funciona se a sua religião decidir o que você come ou não, quando

pode ou não comer, quem pode ou não comer quem, o modo "justo e

santo" de comer alguém, por exemplo, após o casamento, como deve

educar seus filhos, quem está certo e errado em sua conduta, como

organizar seu calendário (dividindo-o em dias sagrados e profanos).

Enfim, se a religião estiver de alguma forma incorporada aos seus

atos cotidianos e aos atos das pessoas à sua volta. Hoje em dia,

algumas pessoas "mais cultas" pensam que se pode escolher uma

Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe PondéWhere stories live. Discover now