Religião e espiritualidade
Você é religioso? Se for, o é por alguma carência séria em você,
diriam Freud, Marx e Nietzsche. De certa forma, somos todos
carentes porque somos mortais, limitados, assustados e frágeis
psicológica e fisicamente. A carência à qual se referem os homens de
conhecimento citados acima é, antes de tudo, uma carência cognitiva,
carência de conhecimento. Diante da agonia da finitude e do fracasso
iminente da vida que acometem a todos em algum momento, o
religioso seria aquele que "não segura a onda" e busca socorro. Essa
ideia de que ser religioso implica alguma forma de carência
cognitiva é comum entre pessoas que se julgam mais cultas. Tenho
dúvidas de que isso seja uma verdade evidente. A maioria das pessoas
que conheço que não acreditam em Deus, acredita em bobagens como
alimentação balanceada, espíritos indígenas, ciência, história,
política ou em si mesmas. Pessoalmente, julgo a crença em si mesmo
a mais brega e ridícula de todas.
O século XX foi mortífero não em nome de Deus, mas em
nome da política. Esse é um fato que, muitas vezes, escapa aos nossos
péssimos professores de história que ensinam bobagens para nossos
alunos. Na minha experiência pessoal, acadêmica ou na mídia, não
me parece que pessoas não religiosas sejam mais sábias do que
pessoas religiosas. Muita gente para de crer em Deus ou deuses e
passa a crer em si mesma (como disse acima), o que acho uma
bobagem ainda maior se levarmos em conta a fragilidade de nossos
pequenos "eus".
O que é religião? Sinto dizer que a resposta não é uma
evidência. Para especialistas em religião, as religiões históricas são
tentativas mais ou menos organizadas de modo prático, e não apenas
teórico, de dar sentido à vida. Só funcionam se você estiver
•
submetido, de fato, a elas em seu cotidiano – esse é o sentido de
"prático" ao qual me referi acima. Por exemplo, a religião só
funciona se a sua religião decidir o que você come ou não, quando
pode ou não comer, quem pode ou não comer quem, o modo "justo e
santo" de comer alguém, por exemplo, após o casamento, como deve
educar seus filhos, quem está certo e errado em sua conduta, como
organizar seu calendário (dividindo-o em dias sagrados e profanos).
Enfim, se a religião estiver de alguma forma incorporada aos seus
atos cotidianos e aos atos das pessoas à sua volta. Hoje em dia,
algumas pessoas "mais cultas" pensam que se pode escolher uma
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Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe Pondé
DiversosO objetivo deste livro é ajudar o leitor a pensar com a sua própria cabeça. Para tal, o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé, autor de vários best-sellers, se apoia na história da filosofia para apresentar argumentos para quem quer discutir todo e...