CAPÍTULO 21

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A economia alegre, a economia solidária

Falei no capítulo anterior sobre os inteligentinhos e sua negação de

que a vida econômica esteja mais para lista de supermercado que não

cabe no bolso do que para discussões sobre justiça social. Falei

também sobre antropólogos e afins que afirmam que deveríamos

viver como índios: 7 bilhões de índios vivendo da terra, mas

querendo iPhone...

Existe um produto na praça que afirma que há um modo

de a economia ser "alegre": trata-se da chamada economia solidária.

O que vem a ser isso? Simples: é um papo de gente que não é

responsável por nada na vida além de suas próprias férias e sua bike.

Existe "solidariedade" em troca de apartamentos via sites

especializados, por exemplo. O perfil é de gente com baixo

investimento em dependentes. Difícil é ter economia solidária com

seguro-saúde do filho ou compra de casa para morar. Para férias vai

bem, ou partilhar uma pizza. Por que a tal da economia solidária faz

tanto barulho? Porque ela alimenta, de novo, o marketing de

comportamento, essa necessidade monstruosa que nós,

contemporâneos, temos de achar que somos legais e melhores que as

gerações passadas, e que, por nós, nunca haveria guerra no mundo e

todos dividiriam suas posses. Nem mesmo dinheiro seria necessário,

bastaria boa vontade.

Um exemplo de economia solidária são espaços artísticos

em rede ou coletivos. Estão todos quebrando porque na hora de pagar

o aluguel o que conta é quem paga ou não paga.

A economia é triste porque a vida é triste na sua

sustentação econômica, mas como nossa cultura é meio retardada,

devido a essa dependência de autoestima que temos, tentamos negar

isso, afirmando que se artistas desconhecidos dividissem latas de

tinta num espaço malcuidado, é porque o outro mundo seria

possível. Haja saco.

Esse conjunto de comportamentos que nega a tristeza

como um traço indelével da existência, que tenta afirmar que tudo

ficará bem se formos todos índios ou artistas coletivos, será objeto

de nossa atenção nos capítulos seguintes, sob a rubrica "o que é o

contemporâneo"? E, ao longo da terceira parte deste livro, tentarei

deixar claro para você, meu caro leitor, o porquê de eu achar nossa

época a mais ridícula que já existiu.

Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe PondéWhere stories live. Discover now