CAPÍTULO 13

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  Moral ou ética  

Antes de tudo, um esclarecimento: do ponto de vista da história da

filosofia, a diferença entre moral e éti ca é a mesma que existe entre

mesa e table. Moral é a tradução latina para a palavra grega original

ética. Vou usar as duas como sinônimos. Apesar disso, vale a pena

esclarecer o que as pessoas têm em mente quando assumem que

existe uma diferença entre elas.

Para a maioria, ética é o campo das normas de conduta,

enquanto moral é a parte da filosofia que reflete sobre hábitos e

costumes. Ambas são as duas coisas ao mesmo tempo, porque faz

parte da refle xão sobre hábitos e costumes pensar sobre as nor mas

que devem regrar esses hábitos e costumes. E mais: não existem

hábitos e costumes que não sejam permeados de normas, muitas

vezes quase automáticas ou espontâneas.

O que são hábitos e costumes? Generosidade, coragem,

justiça, disciplina, entre outros. Para Aristóteles, os bons hábitos e

costumes (as tais virtudes) deveriam ser praticados a ponto de se

tornarem uma segunda natureza, portanto automáticos ou

espontâneos, como eu dizia acima. A escola moral mais antiga é a de

Aristóteles, conhecida como moral das virtudes ou do caráter. Para

ele, ao longo da vida individual e da vida coletiva dos povos,

desenvolvemos hábitos e costumes que nos definem como seres

morais. A questão é que esses hábitos e costumes não são tão

variados assim como se pensa quando se trata do valor deles para a

vida moral de uma pessoa ou grupo. Por exemplo, coragem é

coragem e covardia é covardia em qualquer que seja o lugar. Seja no

campo de batalha, seja diante do chefe da firma. Generosidade é a

mesma coisa, esteja em jogo um prato de comida, esteja em jogo

ajudar um colega na faculdade, estejam em jogo alguns milhares de

dólares. Para o filósofo grego, desenvolver boas virtudes era como

aprender a tocar bem um instrumento. A ética é uma ciência prática,

jamais teórica. Não se ensina coragem a não ser se vivendo a

coragem. Nesse sentido, a moral não é dependente de nenhum valor

do outro mundo ou de Deus; é um esforço das pessoas para vencer ví

cios e dar condições aos mais jovens de desenvolver melhores

hábitos e costumes. Essa é a escola moral que mais aprecio e julgo

correta, apesar de que, com a modernidade e as sociedades

gigantescas que surgiram, e o anonimato consequente, às vezes fica

difícil pensarmos no reconhecimento das virtudes. Virtude é sempre

pública, isto é, o outro reconhece em mim a virtude. Nada de

Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe PondéWhere stories live. Discover now