Moral ou ética
Antes de tudo, um esclarecimento: do ponto de vista da história da
filosofia, a diferença entre moral e éti ca é a mesma que existe entre
mesa e table. Moral é a tradução latina para a palavra grega original
ética. Vou usar as duas como sinônimos. Apesar disso, vale a pena
esclarecer o que as pessoas têm em mente quando assumem que
existe uma diferença entre elas.
Para a maioria, ética é o campo das normas de conduta,
enquanto moral é a parte da filosofia que reflete sobre hábitos e
costumes. Ambas são as duas coisas ao mesmo tempo, porque faz
parte da refle xão sobre hábitos e costumes pensar sobre as nor mas
que devem regrar esses hábitos e costumes. E mais: não existem
hábitos e costumes que não sejam permeados de normas, muitas
vezes quase automáticas ou espontâneas.
O que são hábitos e costumes? Generosidade, coragem,
justiça, disciplina, entre outros. Para Aristóteles, os bons hábitos e
costumes (as tais virtudes) deveriam ser praticados a ponto de se
tornarem uma segunda natureza, portanto automáticos ou
espontâneos, como eu dizia acima. A escola moral mais antiga é a de
Aristóteles, conhecida como moral das virtudes ou do caráter. Para
ele, ao longo da vida individual e da vida coletiva dos povos,
desenvolvemos hábitos e costumes que nos definem como seres
morais. A questão é que esses hábitos e costumes não são tão
variados assim como se pensa quando se trata do valor deles para a
vida moral de uma pessoa ou grupo. Por exemplo, coragem é
coragem e covardia é covardia em qualquer que seja o lugar. Seja no
campo de batalha, seja diante do chefe da firma. Generosidade é a
mesma coisa, esteja em jogo um prato de comida, esteja em jogo
ajudar um colega na faculdade, estejam em jogo alguns milhares de
dólares. Para o filósofo grego, desenvolver boas virtudes era como
aprender a tocar bem um instrumento. A ética é uma ciência prática,
jamais teórica. Não se ensina coragem a não ser se vivendo a
coragem. Nesse sentido, a moral não é dependente de nenhum valor
do outro mundo ou de Deus; é um esforço das pessoas para vencer ví
cios e dar condições aos mais jovens de desenvolver melhores
hábitos e costumes. Essa é a escola moral que mais aprecio e julgo
correta, apesar de que, com a modernidade e as sociedades
gigantescas que surgiram, e o anonimato consequente, às vezes fica
difícil pensarmos no reconhecimento das virtudes. Virtude é sempre
pública, isto é, o outro reconhece em mim a virtude. Nada de
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Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe Pondé
RandomO objetivo deste livro é ajudar o leitor a pensar com a sua própria cabeça. Para tal, o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé, autor de vários best-sellers, se apoia na história da filosofia para apresentar argumentos para quem quer discutir todo e...