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-- Eu tô dizendo é dos castigo do Santo .
-- -- Hum? Cuidado não bichim... Esse santo num é igual o meu satim não.
-- Mas do que é que isso tem?
-- Do que é que isso tem? Do que é que isso tem?
-- Sim...?
-- Tu acha que ele há de achar bonito tu futricando nas coisa dos fí a lei só pra vê se o teu ainda há de ter jeito.
-- -- Hum! Tenho é pena desse inocente.
-- Mas do que é que isso tem muié?
-- Do que é que isso tem? Do que é que isso tem Chagas?
-- Sim...?
-- É tu com essas tua bestage aí que vai acabar descaminhando essa promeasa.
-- -- Hum! Se continuar assim com essas tua arrumação quando esse menino tiver grande nem do caritó ele há de sair.
Típico peculiar nordestino, "Caritó" que significa jamais desposar.
-- Bate na boca muíe!
-- Bato Chagas, bato...
-- -- Hum! É tu que tá fazendo eu dizer essa besteira. E agora vamo entrar na sala daquele cão das costa oca pru mode esse inocente e pru mode nós também.
-- Deus o livre e arrede!
-- Hum! Num sei pru mode tu tá dizendo isso, ainda num tamo na zora desgramenta?
-- Deus o livre e arrede!
* * *
Já na sala do seu Naval e depois de uma sequência de cagarços do mesmo atribuídos a aquele povo desapoiado e maquinalmente persuadidos por uma "fé mestiça" consequentemente resultante do cruzamento de suas crenças e de suas crendices e em que a razão parecia habitar e existir em seus Estômagos e em suas peles todavia não em suas mentes e em seus corações, exercedores de uma inopina paixão que somente seus olhos podiam sentir pelo nada que possuíam e pela a sua Toró onde o bem e mal se faziam necessários talvez para não se sentirem tão sós...
-- Zambêta! Zambêta! . -- Exclamava impaciente seu Naval. -- Hum! Que venha a mim as criancinhas, certamente ele nunca deve de ter escutado um rasgado de umbigo. Zambêta!
Foi seguindo exclamando e zombando e depois exclamando novamente que o herege notário outra vez demonstrou seu descontentamento ao mesmo tempo em que carimbava e selava o registro do pequenino que dormia nos braços da mãe o finalizando.
-- Rasgadeira de umbigo da mulesta. -- Resmungou.
-- Paciência seu Naval! Paciência seu naval.-- Dizia a mulher espremida em um dos cantos da pequena sala a balançar o filho nos braços enquanto o marido lhe soprava nas narinas na tentativa de cessar-lhe o choro.
-- E que o menino tá com fome seu Naval. -- Acudiu o marido dando uma pausa no sopro nasal .
-- Então mande sua mulher lhe dar o peito. -- Sugeriu seu Naval em tom seco fingindo revisar o registro só para não olhar para aquele povo que o próprio também depreciava meio aos olhares de espanto dos outros casais.
-- Se preze não! Se preze não! -- Advertiu o marido impulsionado pelo que ouvirá e do jeitim da Toró .
Típico peculiar nordestino, esse termo "Se preze não"significa o mesmo que mandar alguém tomar cuidado com o que diz.
-- Zambêta! Zambêta! Se preze o senhor, Eu sou um notário nomeado por indicação política e exijo respeito.
-- -- Quem quer respeito tem que se dar a respeito.--Lembrou a mulher lá do canto espremida.
-- Bestaje minha senhora, lá na capital e normal amamentar uma criança esteja onde estiver .
-- Mamentar? -- Indagaram concomitantemente a maioria dos que se espremiam naquela pequena sala.
-- Zambêta! Zambêta! Dar de mamar!
-- Ahh! -- Também fora Concomitantemente a exclamação.
-- Se não quer amamentar ao menos deem o bico, pra parar com esse rasgado de umbigo aqui dentro. Se não ponho vocês daqui pra fora, melhor boto todo mundo pra fora e os filhos de vocês só irão ver seus registros quando tiverem trinta e três anos, idade de Jesus e não há de ser não o galo que eu tinha quando era menino porque eu to falando é justo do mesmo Jesus esqueceu de vocês aqui .
Dessa vez não foi só a maioria mas sim todos os que se espremiam na pequena e rústica sala composta apenas de um birô que acolhia a velha máquina de escrever , uma lamparina, mais a escultura em madeira de um galo do notário herege como também sua papelada, em um dos cantos um velho armário de arquivos do ofício que se amalgamavam com os da igreja e que ficava entre duas portas uma de acesso ao banheiro e a outra de duplo acesso que permitia-se migrar tanto da paróquia ofício para igreja como da igreja para paróquia ofício, em cima desse mesmo armário velho uma enorme gaiola guardando um avantajado galo que dormia pesadamente, nas paredes um crucifixo e fotografias com imagens de Santos, que ao escutarem aquilo um coro a capela se formou trovando desentoadamente outra vez o bordão que se misturou com as aves Marias e os gestos dos que se benzeram, inclusive a mulher que sentada de frente para o notário herege com o filho em posse e em uma das mãos a tão valiosa certidão que já lhe era segurado com desvelo para que não fosse borrada por aquele seu polegar azul e que o observava espantada ao mesmo tempo que aos poucos ia sendo puxada dali pelo marido que igualmente a esposa salientava o seu polegar tingido.

O Santo CaipiraOnde histórias criam vida. Descubra agora