-- Mas não foi a senhora que antes me chamou de cabra bom de peia ?
-- Foi , mas porquê eu tava com raiva do senhor , .
-- Mas agora não está mais...?
-- Num sei seu Naval, num sei ...
-- Esta bem ! esta bem !
Trocavam as bajulações, os descontraídos insultos ainda mais as justificações acompanhados e seguidos de gaitadas ao mesmo tempo que seu Chagas e dona Toinha do finado Manel observavam impressionados e o menino com expressão de encabulado .
-- Onde já se viu um homizão formoso desse jeito não se dar o respeito .
-- Mas agora que a senhora me deu uns esbrega eu vou me dar aos respeitos e quem sabe ainda mais aos deleites dessa sua obra prima ... -- Olhou fixamente para o pote .
-- Eita coisa danada !
-- Eita dona Nenen !
-- Eu num sei muito dessas tal de obra lá das quanta que o senhor disse não seu Naval , mas espero que seja coisa boa .
-- Certamente minha jóia! -- Exclamou a bajulação. -- O que disse foi uma graça para com sua divina banha . -- Demonstrou saudoso ao mesmo tempo que seu olhar ainda esgalamia a então divina banha . -- E vamo deixar de enredança e dar logo essa divina obra pro seu amigo velho aqui e seu defensor .
-- Pois então Disdiga pra queles babaço tudo que tão lá fora o que o senhor disse mais cedo .
-- E o que foi que eu disse ?
-- Já esqueceu foi seu cabra bom de peia ?
-- Olha a fuleraje ...! -- Descontraiu o herege.
-- E num chame esse nome fulerage não que isso é coisa de bagaço.
-- Chamo não minha joia , chamo não !
-- E disdiga aquele dizer vei pra queles bagaço . -- insistiu a velha .
-- Mas desdizer o que minha joia ?
-- Disdiga lá pra eles que o senhor disse que eu sou agourenta .
-- Deus o livre e arrede mãe !
-- Iga !
-- Bestaje minha joia ! Quem diz isso é aquele povo , e lhe digo mais , eles têm é inveja da senhora .
-- Isso eu também acho ! Oxi ! -- Ressentiu-se a velha com um gesto , com uma exclamação e com uma interjeição .
-- Esta vendo , a senhora tá começando a perceber que eu tava mais pra lhe defender do que pra lhe escumhanbar .
-- Taí seu Naval , pois eu tô começando a achar que foi isso mesmo !
-- Certo que foi minha joia , eu só tava botando os pingos nos i e ao mesmo tempo dando uma saia justa nesse povo .
Depois de dissimular a mais aquilo esgueirou-se por sobre sua mesa em direção da velha com a mão esquerda a fazer acústica e ao mesmo tempo que olhava e sugava o aroma da banha e murmurou:
-- A culpa desse padre que não sabe mostrar a essa gente o que é certo e o que é errado , esse padre não vale nada .
-- T'esconjuro seu Naval! -- Disse seu chagas parecendo não acreditar.
-- Iga ! -- Deixou escapar dona toinha do falecido Maneu .
E como naquela ocasião dona Nenem parecia cada vez mais indo se deixando corromper então seu cometimento fora assim mais que imediatamente demonstrado com mais uma gaitada;
-- Ca , ca ca !
-- Até a mãe tá dando em zombar...? -- levou as mãos ao rosto e balançou a cabeça demonstrando sua indignação.
-- Não seu Chagas... Não ralhe com sua mãe não, que esse padre não é lá essas coisa toda não.
-- T'esconjuro seu Naval!
-- Seu Naval tome vergonha na cara. -- Fora descontraidamente que aquelas palavras pareceram sair aos trotes pela boca da velha ao mesmo tempo que suas maos na mesma pareciam querer empurra-las de volta para o seu ventre.
Dona toinha do falecido Manel somente observava pasma enquanto o filho ainda somente manifestava aquele olhar desconfiado.
-- A minha vergonha vai até onde chega o descaramento desse padre dona Nenem .
-- Cá , cá , cá , cá ! -- Gaitou a velha !
-- Ca , ca , ca , ca ! -- Gaitou o notório.
Dessa vez fora ainda mais açulados que juntos vociferam a mais aquela sequência de gaitadas que somente aquele olhar de seu Chagas poder dizer o tamanho de sua perplexidade, já dona toinha do falecido Manel , dessa vez se deixou assentir com um modesto discreto trepidar labial que lhe empatou o sorriso .
-- E agora dê pra ca esse pote e traga esse menino pra gente registrar .
-- Eu ainda num sei se o senhor tá merecendo não...
-- Oxi , dê isso pra cá e deixe de bestaje .
-- Ca , ca , ca ,ca ! -- Por fim gaitaram juntos .
E quando menos se viu o notório herege já se encontrava com o pote nas mãos o beijando e o cheirando com aquele seu sorriso sínico e aquele seu olhar sutilmente hipócrita e a velha com uma expressão de satisfação na cara de quem tinha a certeza de que não era bagaço .
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Santo Caipira
HumorSe divirta com todas as atrapalhadas e malandragem de um caipira do interior do Ceará , com sua cidade de nome estranhíssimo , de hábitos extremamente excêntricos e com todos seus personagens pra lá de engraçados . E se o destino lhe pregou uma pe...