-- Ma , ma , seu , seu ... -- Rodopiou a frase por entre a língua do pároco e que em seguida parecera ter ido se esconder no ventre do mesmo de tanta vergonha .
Depois de um pequeno lapso de tempo que fora de grande valia para acalmar o padre que naquele momento se via obrigado ao apego das coisas mundanas , mas depois de respirar fundo e sentir o forte batimento de sua velha carótida engolindo a seco disse :
-- Homem de Deus , se é que é de Deus , não sabes que falso testemunho é pecado , além do mais á essa hora . Que Deus me perdoe e que ele lhe perdoe e a todos aqui .
Atento ao perdão de Deus era que o notório não se fazia , portanto certamente á aquele nuance de consentimento do padre e ao tropicar das suas palavras ele sim estava atento , sendo assim ... :
-- Esta vendo padre , esta parecendo que até o senhor esta de acordo que todos nessa cidade se divertem as custas dessa velha a dizerem que ela é agourenta , até mangam dela a chamando de adivinhão preto.
-- Seu Naval ! -- Berrou o padre . -- Seria melhor ser surdo pra não ter que ouvir a esse homem .-- Disse suave . -- Mim dê forças , me dê forças minha virgem que é pra mim não abarcar dando uns cascudos no seu Naval , e que a senhora me perdoe . -- Suplicou de mãos postas .
Agora sim , é que se coisa ruim que caminha naquele horário lá pelas bandas da pequena Toró já estivesse posta do lado de fora daquela pequena sala onde disponibilizava somente um birô , um pequeno banheiro , uma porta de duplo acesso e um armário onde em cima o horrível galo agora mais calmo observava aquela esculhambação do seu proprietário e a aguardar ansiosa pela sua primeira vitima que se preparasse para agourar coisa pior por que dito pelo que não poderia ser dito aquele horário pelo notório herege , e pelas crendices dos torósienses aquela velha toda de preto e igual a adivinhão preto agora estava agourada .
'' VIXE !'' -- Reiterou em uníssono uma parcela do coral .
'' DEUS O LIVRE E ARREDE ! '' -- Vociferou a outra parcela .
-- Só no oi da piaba seu Naval , dizer umas coisa veia dessas com a coitada da dona Nenen a essa hora . -- Interveio dona Alzira , mas sabia-se de toda sua falsidade de beata . -- Foi agora que a dona Nenen ficou agourada mesmo !
-- Deus o livre arrede Alzira ! -- Berrou seu Chagas .
-- È agora que eu num vou gostar mesmo de dizer o nome dela ! -- Cochichou esgueirando-se aquele deboche ao ouvido do marido .
-- Alzira ! -- Advertiu em sussurro a mulher .-- Mais respeito seu Naval , mais respeito .-- Repreendeu .
-- Se seu Naval como ele é chamou a dona Nenen desche dizer vei é porque agourou . -- Disse o rapazinho capiunga .
-- Eita fí , eita fí ! -- Enfatizou a mulher capiunga do seu jeito .
-- Iga ! -- Exclamou dona Toinha do falecido seu Manel .
-- Eu também acho que agourou . -- Elucidou o homem de anatomia de cavalo .
-- Mas é claro que agourou . -- Contribuiu a sua esposa que refletia um bicho do mato .
-- Olha aqui seus bagaço num me esculhambe de agourada não ... -- Protestou dona Nenen .
-- Hum ! Respeite ! Bagaço é quem me chama . -- Ofendeu-se a mulher que refletia um bicho do mato .
-- Só no oi da piaba Chagas , a dona Nenen chamar nós tudo aqui de bagaço . Por acaso foi nós que esculhambou ela ? -- Cochichou mais uma vez esgueirada ao ouvido do marido . -- Hum ! gosto nem de dizer o nome dela . -- Foi ainda esgueirada que ela seguiu debochando .
-- Intônsse num diga , Intônsse num diga !
-- Vô a mãe disse que me dá umas peia se eu chamar a senhora de adivinhão preto . -- Disse o neto dessa vez embalado pela esculhambação do notório herege .
-- Ligue não meu fí , ligue não !
-- Xi ! -- Ralhou outra vez dona Toinha do falecido Manel .
-- Putz !
Mais uma vez aquele quase gaitar estalado de dona Alzira a escapuliu pelos lábios e mais uma vez fora contido por aquela mesma mão que também mais uma vez descuidara do nosso pequeno futuro santo o que nem dera tempo a mais uma ralhada do marido pois de imediato o bordão lhe sairá pelos lábios primordialmente juntamente com o uníssono do coral que fora concomitante porém em partes :
-- Deus o livre e arrede meu sobrinho !
-- Deus o livre e arrede meu fí !
-- Deus o livre e arrede menino !
-- Que a virgem me ajude , que ela me ajude ! -- Somente rogou o padre que dessa vez achou melhor nem comentar ,
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Santo Caipira
HumorSe divirta com todas as atrapalhadas e malandragem de um caipira do interior do Ceará , com sua cidade de nome estranhíssimo , de hábitos extremamente excêntricos e com todos seus personagens pra lá de engraçados . E se o destino lhe pregou uma pe...