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-- Vixe pecado mortal! -- Se fez ouvir por entre aquela confusão de um dos integrantes do coro .
--Zambêta! Zambêta! -- Exclamou irritado -- Já disse ! Boto todo mundo pra fora, isso aqui também é mimha casa e na minha casa não tem essa presepada de Deus o livre e não sei lá o que das conta de vocês zambêtas não. -- Reiterou seu Naval tirando os óculos para ter uma visão pior daquele povo.
-- Num chame nós de Zambêta não seu Naval, Que nós num samo bagaço nem nada...
Tópico peculiar nordestino, "Bagaço" que lá pra aquelas bandas significa também gente de pior escória.
Revoltou-se a velha situada naqueles limites vestida toda de preto e de véu na cabeça que ainda guardava luto pelo filho que morrerá no dia do parto conquanto não necessariamente na ordem das que parem, mas sim por desabalada empolgação e imprudência afogou-se no mijo do menino e em seguida literalmente nas aguas do açude dos capotes , essa velha era justamente a Dona Nenen sogra de Dona Alzira , Mãe de seu Chagas , de Dona Irena e do finado Maneu , e que em companhia da também nora Toinha e do neto ainda pagão de cinco anos que talvez embalado pela reação da avó perguntou :
-- Vó Jesus se esqueceu de nós tudo aqui?
-- Ligue Não meu fí! Ligue não...
-- Xi...! -- Ralhou a mãe .
-- Ah vai seu Naval nós pensava que aqui fosse a casa do nosso senhor ? -- fora com uma das mãos entre o chapéu e a coçar a nuca que rebateu com uma dúvida danada o homenzinho capiunga de dentes cariados supostamente jovem no entanto a lida estafante e a fúria climática da Toró sem escrúpulo ou piedade mas que de repente lhe impultará aos cinquenta.
-- Ôu zambêta, tu tas vendo algum nosso senhor aqui ? -- Dirigiu ao homenzinho capiunga aquele insulto agarrado aquela pergunta.
-- É até um pecado responder uma pergunta dessa! -- Ouviu-se imediatamente de alguém do coro.
A vista daquele insulto agarrado aquela pergunta mais a possível pecaminosidade o homenzinho capiunga com mais veemência ainda coçou a nuca por entre o chapéu e sem resposta virou-se para a mulher e murmurou :
-- Arre égua fía!
-- Eu num respondia fí... -- Aconselhou a mulher a meio tom.
E se seu Naval tinha ouvido de tuberculoso, medo de pecar e que ele não tinha então sendo assim o murmúrio do casal capiunga fora mais do que de repente suplantado por mais uma heresia.
-- Ali! -- Indicou apontando para a enorme gaiola em cima do armário. -- Aquele bicho ali é o único nosso senhor que têm aqui por esaas bandas. Zambêta!
-- Num chame o rapaz de zambêta não seu Naval que ele num bagaço nem nada... -- Acudiu a velha toda de preto.
-- Só sendo mesmo um anticristo! -- Também se fez ouvir de mais alguém do coro.
E sem dar importância e meio aqueles olhares estufados mais de perplexidade do que de espanto o notário herege prosseguiu resmungando :
-- Hum! Até hoje nenhum nosso senhor veio aqui no meu ofício arrumar a papelada de coisa nenhuma.
-- Vixe Maria pecado mortal ! -- Vociferou o coro.
-- E vamo botar bico nesse menino, já avisei.
Típico peculiar nordestino, "Bico" que significa chupeta ou consolo.
-- Ave Maria seu Naval! Tenha dó. -- Pediu a mãe.
-- Hum!
Respondeu por fim com essa interjeição o notário herege e fazendo uma pausa naquele bate boca remuniciou sua velha máquina de escrever com nova folha de registro e começou a redigir os prelúdios.
Então visto outra vez que seu Naval tinha o coração do tamanho de sua fé e tendo-se consciência do peso de sua influência na pequena cidade aquele povo que habitava esse mundo e aquele sertão e que já trouxera na bagagem ou trouxa a insígnia de cão sem dono e de acoitos por aqueles que o via como donos de nada se viram na obrigação de tentar interromper o desafogo do seu que a pouco habitava o empurrando de goela a dentro o dedo pois naquele dia tinham esquecido de trazer o bico, todavia inutilmente e, enquanto se fez uma prévia meio aquela persistente berradeira seguida do cochichado do coro também meio a toda aquela amalgamação sonora de berros, de aves Marias, e de conjurações do bordão em que o notário herege parecia não ter vez tomou o lugar na discussão.
-- Um home desse num era nem pra tá perto de menino míudo como eches. -- Alertou por entre dentes o homem alto e esbelto de barba comprida, cabelos longos e castanhos na altura dos ombros certamente o único dali que não portava um chapéu, usava um camisa xadrez aberta com mais da metade de suas casas desabotoadas o que enfatizava seu tórax desenvolvido e aqueles pelos intercaladas o que o dava um tom vulgar porém interessante aquela sua anatomia de cavalo, o homem era o mesmo que havia sido privado de dar um murro no pai desconformado que naquela ocasião fingia e andava a bulir nos outros fí a lei.
-- Ah! Mas eu vou enredar pro padre. -- Cochichou a sua mulher, a mesma que refletia o bicho do mato assim como todos que ali estavam excetuando-se seu Naval que tivera o privilégio da vida o ter proporcionando uma fatia do mundo oficial.
-- Enrede muié! Enrede! -- Exclamou em leve tom o marido complacente.
-- Mas o certo a se fazer é isso mermo enredar pro padre, por causa de que um homem desche num é um cristão, judiar de nós e desches inocente desche jeito , minha famía, nós tudo tamo aqui... -- Queixou-se o homem, mais um dos que integrava o coro cautelosamente ofegando a cabeça da mulher sobre seu ombro e concluiu... -- Desde de cedim.
-- Desde que nós tamo aqui eu e meu marido já contamo três escapulida desche anticristo, sabe Deus pra... . -- Embalada pelo marido com um sussurro acudiu a todos maldizendo-se a esposa que ainda tinha a cabeça sobre o ombro do marido e que imediatamente fora interrompida pelo uníssono do coral que murmurou o bordão .
-- Pois eu digo minha fía, ele se dana é lá pras banda do terreiro de briga de galo do caboco Tição. -- Foi se esgueirando ao mesmo tempo que olhava de rabo de olho para o notário herege que a velha de luto deu seu primeiro pitaco naquela polêmica regida por murmúrios .
-- Igá! E quem é esche...? -- Perguntou mussitando a mulher de cabeça sobre o ombro do marido.
-- É um cabra bom de péia. -- Ciciou a velha seu segundo pitaco.
-- Igá! -- Murmurejaram por fim a nora e a mulher de cabeça sobre o ombro do marido.
Típico peculiar nordestino "Igá" que substitui a interjeição de medo ou nojo (Eca).
-- Um cão das costa oca como eche num era nem pra pisar os pés na paróquia do padre Janeandro. --Observou queixosa a mulher lá dos fundo espremida. -- Bichovéi sem lei desse...

O Santo CaipiraOnde histórias criam vida. Descubra agora