Corações Feridos✔

Capítulo 1

Ouvia atentamente todas as recomendações da médica, que mais uma vez chamava sua atenção para o fato de precisar ganhar peso e se alimentar corretamente.

"Sei que sua situação, como de várias outras pacientes não é fácil, Bonnie, mas precisa se cuidar mais." A doutora Lilian disse com calma, como se estivesse falando com uma criança. "Sua pressão arterial continua alta, então, o melhor a fazer é cortar totalmente o sódio e frituras de sua alimentação." Bonnie assentiu e acariciou a pequena barriga. "Deve fazer o possível para se alimentar de três em três horas e evite ficar muito tempo em pé..."

"Esse último já é mais difícil, doutora." Bonnie murmurou e a médica a olhou com pesar. "Mas prometo que seguirei o máximo possível todas as suas recomendações, o que mais desejo é trazer meu bebê ao mundo com saúde."

"É o que desejamos, querida." Lilian lhe entregou as receitas e sorriu com ternura para a jovem. "Daqui um mês faremos a ultra-sonografia e descobriremos o sexo do bebê. Até lá, espero que esteja bem melhor."

"Esperarei ansiosamente por esse dia, doutora Lilian." Bonnie colocou os papéis dentro da pasta de plástico que carregava para o hospital e sorriu para a médica. "Mais uma vez, obrigada."

"Não há o que agradecer, Bonnie. Cuide-se."

❄❄❄

"Então, o que a médica disse? Como está nosso filhinho gostoso?" Elena perguntou com sua típica euforia, arrancando olhares perplexos de alguns clientes da lanchonete.

"Acho que muitas pessoas pensam que somos um casal." Bonnie murmurou constrangida quando uma mulher a olhou com censura.

"Eu não ligo." Elena deu de ombros e piscou para ela. "Até que você dá para o gasto, mas prefiro algo grande, grosso e gostoso que você não tem."

Bonnie revirou os olhos, mas foi impossível não rir. Tinha conhecido Elena, no dia em que foi expulsa do único lugar que teve como lar. Estava totalmente encharcada por causa da tempestade que caia naquela noite em Nova York, tremia de frio e se abrigou no primeiro ponto de ônibus que encontrou. Não tinha ideia para onde ia e nem possuia dinheiro algum. Estava encolhida em um canto do banco, os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Elena sentou-se ao seu lado e começou a puxar assunto, até que Bonnie se viu abraçada à jovem, que a consolava e lançava impropérios a todos os Parker. Naquela noite, Elena a levou para dormir em sua modesta casinha de quatro cômodos, que dividia com a mãe doente e mais dois irmãos menores. Bonnie ficou com eles, até o dia em que conseguiu o trabalho na lavanderia e pôde alugar um cantinho ao lado da moradia dos Gilbert.

"Então, como anda o nosso grãozinho? Mal vejo a hora dele nascer para que eu possa enchê-lo de beijos e ensinar umas técnicas de conquista. Vai arrasar com as gatinhas." Elena entregou uma sacola de papelão para Bonnie. "É aquele bolo de chocolate com recheio de coco que você adora."

"Obrigada." Bonnie sorriu. "Ainda preciso ganhar peso e agora não posso comer frituras e sal."

"Que droga, Bonnie!" Elena suspirou e acariciou a barriga da amiga. "Vocês deveriam estar descansando e sendo mimados. Se eu pudesse, juro que te ajudaria e não precisaria ficar se matando de tanto lavar roupa. Tenho vontade de ir atrás daquele riquinho desgraçado e ensiná-lo a ser um homem de verdade."

"Você já fez e ainda faz muito por mim, Elena." Bonnie deu um abraço apertado na amiga. "Você fez por mim muito mais que qualquer outra pessoa. Agradeço a Deus todos os dias por ter te colocado em minha vida."

"Não me faça chorar." Elena deu um beijo no rosto de Bonnie. "Agora preciso voltar antes que..."

"Elena, largue de se esfregar na sua namorada, sua desavergonhada, e vá atender a mesa 8. Aqui é um lugar de respeito." A senhora Kim gritou detrás do balcão.