Capítulo 13

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Bonnie não costumava se lembrar de seus primeiros anos no orfanato. Preferia manter as lembranças lacradas no fundo de sua mente, porém, de vez em quando elas surgiam como fantasmas para assombrá-la.

Poderiam chamá-la de egoísta e medrosa, mas não se importava. Sinceramente? Nem ela sabia o que sentir ou pensar. Não era como se decidir entre usar uma sapatilha ou um salto, ou comer um doce ou um salgado. Não era algo supérfluo que poderia ser deixado de lado quando enjoasse. Era sua vida que mais uma vez sofria uma reviravolta.

A única figura forte que teve de uma mãe foi aquela que a morte levou. Era muito pequena quando a viu pela última vez, mas mesmo assim, se lembrava dos abraços, dos beijos e do carinho que aquela doce mulher lhe dedicara. Então, quando foi deixada naquele orfanato sem entender o que acontecia, a pobre menininha de três anos passou a sofrer com a falta do amor de sua mamãe querida.

Os primeiros dias naquele orfanato foram um verdadeiro inferno que nem gostava de lembrar. Era um local só para garotas, mas nem por isso deixava de ser ruim, pois a maioria das meninas mais velhas batiam e humilhavam as mais novas e os responsáveis simplesmente ingnoravam. Não gostava de lembrar nem dos dormitórios frios e da comida rala que era servida. Muito menos do quartinho de castigo para o qual foi mandada uma vez por algo que não fez.

Ainda podia se lembrar de algumas meninas que "mexiam" com as outras quando as luzes se apagavam, felizmente com Bonnie aquilo não chegou a acontecer, pois em um dia qualquer, que ela não deveria ter mais de oito anos, todos os funcionários do orfanato foram levados por policiais e novas pessoas surgiram para realmente cuidarem dos órfãos.

Foi até estranho o inferno se transformar em um tipo de "paraíso", no qual tinha pessoas que cuidavam deles, que demonstravam se importar verdadeiramente com tudo o que acontecia.

Os quartos frios e os chão duro deram lugar às camas quentes. A gororoba horrível foi substituída por comida saborosa. Começaram a ter aulas de verdade. Os dormitórios foram divididos de acordo com a idade das meninas e duas vezes por mês, duas assistentes sociais iam fazer visitas surpresas para terem certeza que tudo estava funcionando conforme o esperado.

Abandonada duas vezes e de repente surgiam desconhecidos que se diziam seus pais, como se pudesse acreditar nas palavras deles. E se fosse um engano? E se os deixasse entrar em sua vida somente para depois descobrir que não era filha deles?

"Pode entrar." Disse ao ouvir batidas na porta. Continuou deitada sem se mover, naquele dia não estava com ânimo para nada.

"Marie me disse que não se levantou hoje." Não ergueu o rosto para olhá-lo. Seus olhos estavam fixos em um ponto qualquer do piso branco. "Está sentindo algo, Bonnie? Quer que eu chame um médico?"

"Estou sentindo tudo e nada ao mesmo tempo." Ela falou após um longo silêncio. "Como posso ter certeza que são meus pais? Se estão falando a verdade?"

"Podemos pedir um exame de DNA se isso te deixará mais tranquila." Kai colocou uma cadeira ao lado da cama e sentou. "E pode ouví-los e tirar suas próprias conclusões sobre eles. Escute-os. Sei como isso fará bem para os três, principalmente para você. É parte da sua história, da sua vida."

"Acho que tem razão." Bonnie concordou sem muita convicção. Estaria pronta para deixar aquelas pessoas entrarem em sua vida? Só descobriria se permitisse aquilo acontecer. "Pode ser aqui?"

"Claro que sim. Onde você quiser." Kai respondeu imediatamente. "Vai ficar tudo bem, Bonnie. Olha o que eu trouxe." Ele colocou umas sacolas sobre a cama, o que fez Bonnie se ajeitar para ver o que era. Pelo nome da loja, só poderia ser coisa para bebês.

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