Capítulo 11

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Ela acordou com muita sede. Não estava com coragem para levantar e ir até a cozinha, mas não conseguiria dormir sem antes beber um copo d'água gelado.

Levantou-se e acendeu o abajur ao lado da cama. Abriu a porta e não ligou as lâmpadas, pois conhecia muito bem cada parte daquele apartamento. As grandes janelas de vidro deixavam a luz da lua cheia iluminar parcialmente o ambiente.

Escutou o som suave de uma melodia tocando. Franziu o cenho e foi até a "sala de relaxamento". Antes mesmo de abrir a porta e vê-lo, Bonnie já sabia que era ele. Kai estava sentado no banco, os olhos fechados enquanto os dedos longos tocavam as teclas do piano negro, a luz da lua que entrava pela janela, fazia com que parecesse de outro mundo. Sentiu-se nostálgica. Quantas vezes, sentou-se ao lado dele só para vê-lo e ouvi-lo tocar para ela? Quem conhecia somente o sério empresário hoteleiro Malachai Parker, jamais imaginaria o homem sensível por trás daquela fachada, que não se importava em ficar até de madrugada tocando apenas para ela.

Quando a música chegou ao fim, Bonnie aplaudiu e se aproximou.

"Desculpe-me se te acordei." Kai ainda mantinha a cabeça baixa, a voz estranha.

"Não me acordou. Senti sede, por isso me levantei para pegar água, foi quando ouvi o som." Ela sentou ao lado dele e tocou suavemente o piano. "Qual canção estava tocando? Não a conheço."

"It's Hard To Say Goodbye, de Michael Ortega."

"Ela é bem melancólica." Bonnie murmurou. "Toda vez que olho para esse piano, lembro-me daquela frase de Nicholas Parker em A Última Canção."

"A vida é um piano. Teclas brancas representam a felicidade e as pretas a angústia. Com o passar do tempo você percebe que as teclas pretas também fazem música."

Falaram juntos e riram.

"Mas você nunca conseguiu aprender a tocar nem 'parabéns pra você' no piano; e olha que fui bastante paciente e um ótimo professor."

"Não levo jeito para música, prefiro ler Nicholas Sparks e Harry Potter. Literatura sim é a minha especialidade." Falou com orgulho.

"Falando em literatura; quando a bebê nascer voltará para a faculdade não é mesmo?" Ele voltou a dedilhar no piano.

"Sim." Bonnie suspirou. "Preciso concluir meu curso e ter uma profissão para que eu possa começar a andar com meus próprios pés."

"Tenho certeza que Marie vai adorar cuidar da nossa filha, enquanto você estiver estudando."

Ela não podia negar que gostava do jeito que ele falava "nossa filha", demonstrando que tinha aceitado muito bem a ideia de ser pai.

"Ela já deixou bem claro que não aceitará que ninguém tome esse lugar dela." Bonnie cruzou as mãos sobre a barriga e pelo canto dos olhos observou Kai, que tinha o rosto abatido e um pouco inchado. Ele poderia ter lhe machucado como ninguém antes, mas ainda assim era o pai de sua Grãozinha e o homem que ela amava. "O que houve, Kai? Por que andou chorando?"

Ele parou de tocar. Ficou em silêncio por longos minutos, até que passou as mãos pelo rosto e balançou a cabeça.

"Fui visitar o túmulo de meu pai. Amanhã faz cinco anos que ele morreu." Ele deu um sorriso triste. "Eu fui contar-lhe que sou pai de uma linda menina, que o coração dela bate tão rápido quanto qualquer outra coisa e que eu gostaria que ele estivesse aqui para viver esse momento. Ele era louco por crianças."

"Kai..."

"Essa é a primeira vez que me chama de Kai desde que a reencontrei."

"Não deveria deixar isso tomar conta de você." Ela continuou como se não tivesse sido interrompida. Não o lembraria que foi ele mesmo que exigiu que ela não o chamasse mais pelo nome. "Sei que se culpa por não ter estado ao lado do seu pai no último momento, mas..."

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