Capítulo 7

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Sua cabeça pesava demais, assim como todo o seu corpo. Abriu lentamente os olhos, piscou várias vezes até se acostumar com a claridade. O cheiro de éter e aquelas paredes brancas a deixaram em alerta. Tentou mover o braço direito, mas sentiu uma pontada no mesmo. Um barulhozinho irritante soou pelo cômodo.

"Bonnie?" Aquela voz.

"Kai..." Sua garganta ardeu ao se lembrar da dor, do sangue. "O bebê...?" Pediu angustiada, sem forças para mexer um músculo.

"Calma." Ele segurou a mão dela e a colocou sobre a barriga dilatada, o que fez Bonnie suspirar aliviada ao constatar que seu Grãozinho estava ali. "O bebê está bem. Só foi um susto."

"O que houve?" Perguntou preocupada, querendo entender o que aconteceu. Em um minuto estava bem e no seguinte sentiu como se estivessem rasgando-a por dentro. Graças a Deus, Jeremy estava com ela e saiu para pedir ajuda.

"Um deslocamento de placenta. Você dormiu durante um dia e meio por causa dos remédios." Aquela informação a assustou. Kai respondeu devagar e suspirou, olhando-a atentamente. "A doutora Lilian disse que precisa se cuidar, evitar qualquer tipo de estresse, assim como não pode ficar muito tempo em pé e nem fazer qualquer tipo de esforço. Precisa ficar em repouso absoluto." Pela expressão de Kai, Bonnie sabia muito bem onde aquela conversa iria parar. Não estava gostando nem um pouco do rumo dela. "Você precisará tomar uns remédios que ajudarão no amadurecimento dos pulmões do nosso filho." Bonnie puxou a mão da dele. "Sei que não gostaria de me ver nem pintado de ouro, mas pelo bem do nosso filho, eu imploro, Bonnie, que aceite voltar para nossa casa."

"Sua casa, Parker." Ela respondeu com rispidez e mágoa.

"O que é meu é seu." A voz dele era firme, destoando dos olhos acizentados cheios de tormento. "Bonnie, por favor, deixe-me cuidar de tudo. Lá em casa, você poderá ser bem assistida. Não precisará se preocupar com nada. Marie ficará feliz em cuidar de você. Eu prometo que não ficarei em seu caminho e nem vou impor minha presença."

"Você não é bom com promessas." Bonnie o acusou e aquilo doeu bem fundo.

O que ela poderia fazer? Não tinha dinheiro, não poderia continuar no serviço da lavanderia porque era muito puxado. Como iria sobreviver sem ter uma renda fixa? Não gostaria de voltar a conviver com Kai, seria sofrimento em dobro vê-lo todos os dias e saber que nada mais seria como antes. Poderia amá-lo, porém, o que ele fez quebrou a confiança que tinha nele.

No entanto, necessitava pensar no filho que esperava. Seu orgulho não deveria ser maior que o bem-estar daquele inocente que não pediu para vir ao mundo daquela forma. Deveria engolir seu orgulho ferido e quando seu Grãozinho nascesse, ela tomaria as rédeas de sua vida e deixaria de ser a garota fraca que era. Aquele papel de coitadinha era detestável. Não seria a primeira mãe solteira a construir uma vida sem depender de homem algum.

"Tudo bem. Aceito voltar para o seu apartamento só por causa do meu filho. Quando ele nascer iremos embora." Kai fez uma careta, que ela ignorou. "Mas isso não significa que existirá algo entre a gente. O bebê será nossa única ligação. E não admitirei que ninguém da sua família venha me dar palpites sobre nada relacionado a minha vida e a do bebê." Lembrou-se de algo importante e doloroso, que fez seu coração apertar. "Ah, e por favor, não leve sua namorada para sua casa, pois no momento em que Caroline entrar por uma porta, saio pela a outra e para sempre."

"Não tenho nada com Caroline." Bonnie fingiu indiferença. Não se irritaria. Tinha visto as fotos e não era idiota para não saber que Kai e Caroline tinham ficado juntos.

Ouviu batidas na porta, que foi aberta pela doutora Salvatore, que naquele dia usava uma roupa azul sob o jaleco branco.

"Finalmente acordou." A médica possuía seu típico sorriso doce no belo rosto. "Como está se sentindo?"

"Cansada e confusa." Bonnie respondeu e olhou para o braço que tinha uma agulha por causa do soro. Fez uma careta. "Como está o meu bebê, doutora?"

"Agora ele está bem, mas para que se mantenha assim e consigamos chegar até a quadragésima semana, que é o tempo normal estimado para uma gravidez, precisará tomar cuidados redobrados, Bonnie." A médica pegou a prancheta de Bonnie e observou as anotações feitas pelo médico e os enfermeiros durante o período em que Lilian não esteve de plantão. A pressão continuou normal e não houve mais nenhum sangramento ou alteração no quadro da paciente. "Pelo seu bem e do bebê você terá que se manter em repouso absoluto e evitar qualquer tipo de estresse."

Acariciou a face delicada. Ela continuava ainda muito bela e tão delicada quanto antes. A última vez em que a viu, Abby era uma garota de 16 anos e ele tinha 18 e estava com os meses contados para morar em Londres para cursar a faculdade de Administração. Foi amor a primeira vista e apesar das diferenças sociais, não se importaram e se entregaram ao amor que sentiam. Combinaram de se comunicar por cartas, mas isso não aconteceu. Foram tantos desencontros e armações...

Ele tocava os cabelos dela com carinho, mal podia acreditar que tinha conseguido encontrá-la depois de vinte anos. Quando já tinha perdido as esperanças, o detetive que havia contratado há meses, finalmente conseguiu uma pista do paradeiro dela.

Depois de tantas decepções, de esperanças e pistas falsas, Silas Petrova tinha finalmente encontrado o grande e único amor de sua vida.

Inúmeras vezes tinha imaginado aquele reencontro, porém, jamais imaginou que fosse acontecer daquele jeito.

Nunca perdoaria seu pai por tê-los separado. Durante anos carregou uma grande mágoa de Abby, imaginando que ela o abandonara por outro homem, quando na verdade, Finn Petrova tinha se encarregado de arrancar o filho dos braços de uma mãe e encarcerá-la em um sanatório. Felizmente, mesmo com quase vinte anos presa naquele lugar, Abby não apresentou nenhum transtorno psicológico. Malcolm tinha afirmado, depois de inúmeros exames, que Abby era lúcida e não apresentava nenhum perigo para quem fosse.

"Eu vou encontrar nosso filho, amor." Beijou os cabelos de Abby, que se aconchegou mais em seu peito, enquanto dormia tranquilamente. "Iremos recuperar esses anos perdidos... eu juro."

"

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Continua...

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