Capítulo 18

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Jamais conseguiria entender como uma mãe tinha coragem de abrir mão de um filho, abandonando-o na porta de estranhos como se não passasse de uma simples mercadoria. Nenhuma desculpa era aceitável para um ato tão desumano. Ela não se via afastando-se de um filho mesmo se estivessem passando fome, ou doentes, ou em qualquer outra situação; preferiria morrer junto a ter que se separarem.

Egoísmo? Não no ponto de vista dela; apenas a opinião de uma pessoa que cresceu em meio ao amor e tendo pais capazes de darem as vidas pelos filhos.

Filhos são os bens mais preciosos que Deus nos dá. Amem seus filhos, sejam eles de sangue ou de coração, com todo o amor possível...

Era o que seu pai costumava dizer.

Meredith passou as pontas dos dedos nos cabelos encaracolados do pequeno, que naquele momento dormia quentinho na grande cama de casal. Ele era um bebê tão pequeno e frágil, que poderia ter morrido no frio, caso Ric não tivesse resolvido atender a porta quando a campainha tocara às nove da noite.

Mal acreditara quando o marido entrou no quarto com um embrulho escandaloso nos braços.

"Deixaram em nossa porta." Ric murmurou com uma palidez que teria preocupado Meredith, caso ela não estivesse com os olhos grudados nos panos azuis, que se mexiam absurdamente.

"Um bebê." Meredith se aproximou do marido e desembrulhou a criança.

Lágrimas molharam suas faces ao ver a criaturinha de olhos vivos e inchados, a pele negra e os cabelinhos encaracolados. Pegou-o com todo o cuidado dos braços de Ric e ao aconchegá-lo contra seu corpo, o pequeno parou instantaneamente de chorar.

Ric fechou a porta e se deitou do outro lado da cama, com o bebê entre os dois. Ele lhe sorriu antes de olhar para a criança com atenção.

"Conseguiu falar com o Damon?" Meredith perguntou baixinho.

"Ele nos aconselhou a esperar até amanhã para que possamos fazer um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima."

"A mãe... a pessoa que o colocou em nossa porta, deixou algo?" Ric enfiou a mão no bolso da calça de pijama e tirou um papel amarelado. "O que diz?"

Nunca quis ser mãe, principalmente de uma criança negra de paternidade desconhecida. Tenho apenas 15 anos e uma vida inteira pela frente. Uma criança jamais me transformará no tipo de mulher idiota que para a vida para cuidar de uma criança chorona e dependente. Ele tem 10 dias de vida e nasceu em um banheiro porque nunca teria coragem de ir para um hospital, ouvir conselhos de médicos e assistentes sociais com suas vidinhas perfeitas.
Espero que possam cuidar bem dele e serem os bons pais que eu jamais serei. Mas caso isso não aconteça, o Estado poderá se encarregar dele.

"Ordinária!" Meredith se levantou furiosa. "Como pode ser tão fria? É o filho dela!" Passou as mãos nos cabelos e voltou a olhar para o bebê. Sua garganta apertou. "Ele poderia ter morrido de hipotermia ou ter sido devorado por um cachorro."

"Amor?" Ric a puxou para um abraço apertado e as lágrimas caíram em um choro silencioso. "Calma, amor."

"Você acha que poderemos ficar com ele?" Ric respirou fundo e a puxou de volta à cama, onde se sentaram e ficaram a observar o pequeno.

"Damon disse que caso não apareça nenhum familiar, poderemos entrar com um pedido de adoção, mas precisamos estar preparados caso queiram levá-lo para alguma instituição..."

Meredith engoliu em seco e voltou a observar o bebê que dormia tranquilamente, como se soubesse que estava seguro com ela e Ric. Já amava aquele bebê que estava em sua vida em menos de duas horas e não sabia como era possível ter um sentimento tão profundo por alguém, que nem ao menos era de seu sangue.

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