Capítulo 20

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Tentou não fazer uma careta quando sentiu um desconforto no local do corte da cirurgia. Já bastava o vexame de quando levantou pela primeira vez logo após a cesariana, e só não foi ao chão, por causa da dor insuportável, porque Kai e Abby estavam ao seu lado e lhe seguraram.

Agora entendia as matéria que tinha lido. Era fácil criticarem mulheres, que tinham filhos através de uma cesariana, mas esses que julgavam, não sabiam da dor, que um corte enorme e com pontos poderia causar. Além dos perigos pós-operatório, que ocorreriam caso o resguardo não fosse seguido da forma correta.

Olhou para as duas bebês, que dormiam tranquilamente dentro das encubadoras e seu coração apertou ao ver seres tão indefesos já sofrendo tanto.

"Então, você é a mamãe da Valentina." Uma enfermeira já de idade sorriu para Bonnie. "O papai babão eu já conheço, porque vive grudado naquele vidro." Apontou para a grande janela, onde Elena e Abby lhe sorriam.

"Não foi você que disse que se não fosse casada, casaria comigo?" Kai questionou sem prestar muita atenção a enfermeira. Seus olhos estavam presos na filha.

"Bom dia." Uma voz grave e ao mesmo tempo suave, cumprimentou-os. "Muito prazer, meu nome é Nathaniel Smith. Sou o pediatra responsável pela filha de vocês." Apertou a mão de Kai e a de Bonnie.

Ele era um pouco mais alto que Kai e não deveria ter mais de 30 anos. Tinha os cabelos loiros, olhos azuis e um sorriso gentil.

"Deve estar ansiosa para conhecer sua filha, senhora." O médico falou ao colocar umas luvas descartáveis. Aproximou-se de um dos berçários, em que estava a bebê menor e passou alguns minutos, examinando-a em silêncio. "O senhor Parker já teve a chance de vê-la de perto."

Bonnie olhou para Kai, que lhe sorriu. Os olhos brilhavam como nunca antes, em uma mistura de orgulho e amor. Ela sabia, Kai amava Valentina da mesma forma que ela.

"Ela está bem?" Voltou os olhos ao médico, que anotava algo em uma prancheta.

"A cada dia está mais forte. Com a medicação e os cuidados necessários, os pulmões, daqui uns dias estarão funcionando em pleno vigor." Ele sorriu e passou a mão na cabecinha da criança. "Ela é uma pequena guerreira. Se continuar desse jeito, logo receberá alta."

"Graças a Deus." Bonnie suspirou aliviada.

"Bonnie pode pegá-la, doutor? Li em alguns artigos, que é bom para o desenvolvimento da criança ter contato com a mãe." Kai tirou alguns papéis amassados do bolso e os balançou, parecia estar pronto para um debate com o médico caso ele negasse. "Aqui diz que bebês prematuros, mesmo os mais pequenos, muitas vezes estão melhor pele a pele com a mãe do que em incubadoras."

"Chamamos de Método Mãe Canguru." Doutor Nathaniel falou com calma. "Vários estudos mostram que bebês prematuros ficam mais estáveis metabolicamente quando estão em conta direto com a mãe. A respiração e pressão arterial estabilizam, assim como o açúcar no sangue e a temperatura regularizam com mais facilidade."

"Além disso, no Método Mãe Canguru será mais fácil para Bonnie produzir mais leite, para que nossa filha mame melhor." Kai completou.

"Vejo que andou estudando bem, senhor Parker." O médico sorriu e olhou para Bonnie. "Está produzindo leite?"

"Um pouco. A doutora Salvatore me explicou sobre a necessidade de estimular a produção de leite para ajudar na alimentação da minha filha." Bonnie desviou os olhos para Valentina, que começara a mexer as perninhas. "Uma enfermeira ajudou-me a retirar o colostro(1)."

"Muito bem." Doutor Nathaniel continuou. "Mesmo que não haja perspectivas dela sugar o seio tão cedo, seu leite será essencial para que se desenvolva forte e protegida de doenças. Infelizmente, as doações de leite materno ainda não são tão frequentes, então, sugiro que de três em três horas façam a extração do leite. Não passe de seis horas sem fazer isso, pois o leite pode empedrar e será uma péssima experiência."

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