Capítulo 17

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KAI PARKER







Eu não me sentia mais o mesmo. Às vezes só queria dormir por bastante tempo e quando acordasse, percebesse que tudo não passou de um terrível e amargo pesadelo.

Sei que tudo o que está acontecendo hoje é apenas consequências de minhas ações. Nora pode ter sido a mentora de todo o plano sórdido, mas fui eu quem o executei com extrema maestria, agindo como o completo cretino que tinha prometido jamais machucar Bonnie.

Bonnie Bennett, o ser humano mais adorável e bondoso que já conheci. A garota tímida e doce que trouxe vida para a minha família, que tornou-se o meu mundo, a minha vida.

"Estava com tantas saudades do meu bebê." Aperto os braços em torno de uma das mulheres mais importantes para mim e a agonia em meu peito só aumenta, fazendo-me fechar os olhos com força. "O que houve, filho? Sabe que pode falar o que quiser, estou aqui para ouvi-lo."

Desfaço o abraço e minha mãe se senta no sofá e bate as mãos em seu colo. Com as pernas pesando mais que o normal, deito-me ao seu lado com a cabeça em seu colo. As mãos delicadas começam a afagar meus cabelos.

"Quando era criança, sempre depois do jantar, você corria para se deitar ao meu lado e isso durou até os 15 anos, quando começou a se interessar por garotas." Ela diz com suavidade, perdida em lembranças.

"Mas ainda continuei a dormir com a senhora todas às vezes que papai tinha que viajar." Toco o rosto dela, que me dá um sorriso acolhedor e beija minha mão.

"O meu pequeno príncipe."

Josette Parker sem sombras de dúvidas é a melhor mãe que Meredith e eu poderíamos ter. Ela e Williams nos ensinaram que caráter e humildade valem mais que qualquer dinheiro no mundo, assim como a família deve estar em primeiro lugar.

Enquanto Meredith era completamente apaixonada pelo nosso pai, seguindo-o por todos os cantos, eu era o filho apegado a mãe e a via como minha heroína. A única capaz de sarar todas os meus machucados com seus beijos e carinhos.

"Como estão Bonnie e minha neta?" Ela pergunta sem deixar de mexer em meus cabelos.

"Tivemos uma consulta hoje a tarde." Fecho os olhos e suspiro cansado. "Estou com tanto medo, mãe. A pressão de Bonnie não vai nada bem. Se alguma coisa acontecer com elas..." Só de cogitar isso, o desespero toma mais uma vez proporções inimagináveis, despertando o monstro do medo, que descobri habitar em mim, desde o dia em que Bonnie quase perdeu nossa filha. "Isso não estaria acontecendo se eu tivesse estado ao lado de Bonnie desde o começo, cuidando como deveria fazer..."

Eu sou um lixo!

Destruí o sentimento mais lindo que tive a chance de possuir, joguei fora com tanta facilidade a confiança que Bonnie tinha em mim e em nosso amor. E provavelmente, caso não fosse a declaração de Nora, ainda estaria acreditando em toda àquela sujeira e só Deus sabe o que poderia ser de Bonnie e de nossa filha.

A barreira rompe e as lágrimas caem quando não consigo mais suportar a bagunça de sentimentos ruins dentro de mim. Sinto-me um nada, um inútil que está perdendo tudo e a cada dia está se afogando ainda mais na dor.

Eu sou tão covarde e egoísta, que não consigo abrir mão delas, mesmo sabendo que talvez sejam mais felizes sem me ter por perto.

"A culpa não é só sua." Minha mãe passa as mãos por meu rosto. Mesmo de olhos fechados, sei que ela também chora. "Todos nós erramos em julgá-la, em expulsá-la de nossas vidas sem ao menos duvidar que tinha algo de errado em tudo aquilo. Ainda não tive coragem de visitá-la por medo de olhar nos olhos dela e ver a decepção e até mesmo ódio."

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