Parte 1

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Nós somos os Inimigos da Realidade.

Pode soar forte, e é. Deve soar dessa maneira. Se há algum rótulo, alguma maneira de nos descrever, esse é o nome, pois é isso que somos. Ninguém mais do que nós merece essa alcunha. Ninguém tem a capacidade que temos, a força necessária para sermos conhecidos por tal titulo. Chega um momento em que o mundo não passa de um brinquedo, uma espécie de parque de diversões, em que todos nossos desejos são realizados.

Desejos.

Tudo tem um preço.

Não somos os inimigos da realidade por nada, não, simplesmente ganhamos, sem dar nada em troca. Somos aqueles que não aceitaram simplesmente sentir o Vazio, mas aqueles que começaram a usar essa força e, é claro, ser usado por ela.

Podemos simplesmente realizar os desejos que quisermos, é assim que funciona. Você tem um desejo, ele se realiza. Seu desejo é mexer coisas com a força da mente? Pois você consegue. É transar com aquela atriz? Você consegue também. É voar? Sim, por que não?

Mas sempre é cobrado um preço, e o preço nunca é barato. A cada vez que você realiza um desejo, outro aparece no lugar, o Vazio cresce, lhe obriga a fazer coisas, todas as coisas. Desde inofensivas curiosidades como algumas fantasias sexuais, como fatais desejos de raiva e ódio. E você faz todas elas, você sacia aquele Vazio que cresce dentro do seu íntimo. Lá dentro, lá no fundo, todos nós temos esse Vazio, mas só poucos têm a capacidade de usá-lo.

Acredite... Não queira.

Uma vez que você toma conhecimento, ele não para. Ele cresce, como um câncer. No começo ele parece bem amigável, lhe dá tudo que você quer em troca de um cigarro, de uns 160 quilômetros por hora... Depois você já começa a ir para um lado mais escuro, desejando coisas que não deveria, como, por exemplo, transar com o vizinho ou a vizinha, mesmo que ela seja do mesmo sexo que o seu. Já está estranhando? Piora.

Estupro, assassinato, esquartejamento... A lista acaba em suicídio. A maioria de nós se mata em um ponto. Inimigos da realidade... Grande piada. Somos apenas inimigos de nós mesmos, pobres idiotas que pensam que são imortais, heróis, deuses... O mais próximo que podemos chegar de um Deus é o julgamento, por todos nossos atos hediondos.

Isso é ter o Vazio atuando em você. Isso é ser um inimigo da realidade.

E para que você não trilhe esse caminho, vou lhe contar a história de Erika. Uma garota que teve seu encontro com o Vazio. Aí sim, você terá uma ideia do que estou dizendo... Acredite, quando eu acabar, você irá olhar para si mesmo, duvidar de tudo que eu falei, mas depois vai agradecer por estar vivo. Mesmo que acredite ou não na história que vou lhe contar.

Era uma noite como qualquer outra...

...

Erika era uma garota como todas as outras, tinha sua vida, seus problemas, seus hobbies e seus gostos. Não era nada excepcional, mais uma garota mediana em meio a um mar de pessoas medianas, sem nada a acrescentar no mundo nem a retirar. Não podíamos dizer que ela era feia, nem mesmo bonita, ficava naquele tipo de beleza que você dá de ombros, sem querer medir, chama de bonitinha ou ajeitada. Ela era branca, olhos azuis e loira, não chegava a ser gorda e nem passava perto de ser magra e tinha um péssimo conhecimento de estética, em outras palavras, ela não conseguia ser atraente. Tinha um sotaque sulista que não ajudava em nada e um sorriso fino que ninguém entendia. Não preciso dizer que ela não tinha muitos amigos.

Haviam se mudado para a cidade há poucos meses, começo de ano. Erika foi matriculada em uma escola particular, cheia de pessoas que já se conheciam, já tinham formado suas "panelinhas", seus pequenos círculos de amizade. Erika era deslocada de todo aquele ambiente, se tornando apenas uma nerd, em que alguns interesseiros se apoiavam para trabalhar em grupos, copiar os deveres de casa e ajudar com cola nas provas.

VazioOnde histórias criam vida. Descubra agora