Parte 9

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Franziska estava sentada na moto, debruçada sobre o grande tanque. Erika estava encostada em uma árvore próxima, com as mãos nos bolsos da calça jeans. Tocou nos fios pretos da peruca que usava, que iam até um pouco depois dos ombros. Franziska a repreendeu para que parasse de fazer isso, já que poderia estragar o disfarce. Estavam em frente à escola, um pouco antes do horário de término das aulas. Ela esperava não ver Lídia, para não causar nenhum desconforto e saudade. Quando a onda de alunos começou a sair, Erika ficou prestando atenção em todos eles, até ver o rapaz saindo da escola e se afastando dos outros alunos, acendendo um cigarro em seguida. Erika notou que ele estava vestido da mesma forma de sempre, com aquela camisa branca leve e um jeans desbotado, seu cabelo um pouco maior e os primeiros sinais de barba esbranquiçada no rosto.

Erika pediu que Franziska esperasse ali e foi até o rapaz, imaginando quais seriam as palavras certas para começar a conversa. Quando o rapaz levantou o olhar, Erika sorriu e ficou de costa para as pessoas que saíam da escola.

– Oi – disse, dando um leve sorriso. Eu preciso falar com você...

– Pois não? – deu um trago no cigarro, a encarando.

– Bom, eu não sei por onde começar... Primeiro, pode ser em outro lugar, aqui está muito perto da escola e...

– Eu conheço você, não conheço? – apontou os dois dedos que seguravam o cigarro para Erika, cerrando os olhos. Você... Ah não, me desculpe – sorriu – te confundi com aquela garota que morreu em um acidente.

– Pois é – sorriu sem jeito. Eu não morri.

Ele deu mais uma tragada e a ficou encarando, depois jogou o cigarro no chão e pisou em cima, voltando a encará-la de forma séria e com a testa enrugada.

– Entendo... – disse por fim. Onde prefere? Eu trabalho daqui a duas horas, então tem de ser agora ou depois das dez da noite.

– Pode ser agora... – olhou ao redor. Tem uma livraria aqui perto com um café, podemos ir lá?

– Tudo bem... Você está a pé?

– Com uma amiga – apontou para Franziska, que acenou por educação. E você?

– Moto – apontou uma moto de rally amarela um tanto suja e velha. Eu sigo vocês.

– Ok.

A livraria era pequena, com dois andares, mas bem organizada, com um bom acervo no primeiro andar e um café no segundo, onde ficava também um sebo em grandes caixas de madeira. Aquele ambiente tinha um aroma amadeirado e velho, que se misturava com o cheiro de café.

Erika e Franziska sentaram em uma mesa e cada uma pediu um café quente. Quando o rapaz chegou, sentou na cadeira de plástico e encarou as duas por um momento, desviando o olhar para o cardápio. Após uma leitura rápida, ele pediu um refrigerante e pasteis, jogando o cardápio em um canto da mesa em seguida.

– Então... – Erika começou, juntando as mãos sobre a mesa. Como é seu nome?

– Ângelo.

– Essa é a Franziska – apontou para a amiga – e você já me conhece... Eu vou direto ao ponto, se é que é possível... – suspirou e tirou a peruca, soltando os cabelos. Meu Deus, como isso coça!

– O preto realçava seus olhos – disse, sem ênfase.

– Disse isso para ela... – resmungou Franziska.

– Eu gosto dos meus cabelos assim, tá? Enfim... – tomou fôlego e começou. Existe um problema pelo qual eu estou passando, que eu preciso entender algumas coisas e acho que você pode me dar uma ideia por onde começar.

VazioOnde histórias criam vida. Descubra agora