Parte 21

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Franziska cobriu meu rosto com meu quepe e me deitou no carpete cinza. Erika ainda estava de frente com Eduard, mas parada, procurando uma forma, alguma maneira de acabar com tudo aquilo, ali, naquele momento. Pensou em entender Eduard, mas isso ela já havia esquecido. A raiva tomou conta dela, o desejo de matar aquele homem, a tristeza de mais uma perda. Ela sabia que eu iria morrer, que ela não poderia fazer nada para me salvar.

– Eu sou Eros!

– Então somos dois lados da mesma moeda – Eduard pegou o revólver dele no chão e tomou fôlego. Tanatos e Eros sempre serão o oposto de uma mesma imagem. Não vê que é inútil? Aquiles morreu, nada mais importa agora. Ele não pode mais negar o inevitável.

– Eu posso – Franziska ajeitou a boina, se pondo ao lado de Erika. Vou tomar o lugar de Aquiles.

– Entendo – ele sorriu, o bigode se movendo como um tapete. O equilíbrio do universo, todo polo positivo, para que exista, necessita o seu igual negativo, e vice versa, será que você consegue?

– Como assim?

– Agora não, Caso Perdido – Franziska sacou a pistola e atirou em Eduard, um movimento tão rápido que assustou Erika, mas inútil, a bala acertou a janela, que se rompeu em um estrondo e fez a chuva molhar as estantes e encharcar o carpete. Como eu mato você, maldito?

– Como eu quiser, e eu já me decidi como eu vou morrer. Não vai demorar.

– Eu posso negar seu desejo! – gritou, atirando mais uma vez em vão, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Seu maldito!

– Não, não pode.

Ficaram em silêncio, a chuva caindo no aposento, Eduard segurando sem vontade o pesado revólver, Erika em pé, o rosto inchado pelo tapa violento que levou. Franziska tentava negar a dor que sentia, assim como eu fazia, mas não conseguia. Uma parte dela sim, mas a verdadeira não. Ela conseguia fingir, mas a dor não sumia. Os olhos vermelhos de Eduard pousaram em meu corpo no carpete e depois fitaram a chuva, cansados, em busca de uma direção, uma resposta.

– Por que não desistem, garotas? Além de ser inevitável, é uma necessidade para realidade. Ela precisa ser refeita, remodelada, reconstruída. Não há morte, não há perda, só existe o destino, o inevitável. Todos nós vamos voltar para o mesmo lugar, vamos renascer, melhores, sem a mancha do Vazio. Por que lutam contra isso? Suas próximas vidas nem se lembrarão de toda essa dor, de todo os... horrores que o Vazio nos traz...

– Você quer rendição pelo que fez – Erika apontou o dedo para Eduard. Você e Aquiles querem morrer assim como Penélope queria, mas simplesmente não conseguem, não é? Não antes de realizarem seus... seus planos doentios. Você que não entende, você está sendo usado pelo Vazio. Ele está fazendo isso com você, não é você que está usando o Vazio para seu plano "santo".

– Eu não obriguei ninguém do meu culto a querer morrer, eles simplesmente querem. Todos eles querem renascer, querem a morte da humanidade como um todo. Eu apenas os lidero.

– Eu quero matar você, e só você. Quantos inocentes eu não matei, só hoje, por sua causa? Seu maldito... Era isso que queria, não era?

– Erika? – Franziska sentia seus pensamentos como peças se encaixando em um quebra cabeça – o que quer dizer...

– Ele venceu – Erika soltou os ombros. Ele destruiu nossa vontade, nossa convicção, nosso amor. Não podemos vencê-lo com ódio, e eu o odeio. Andressa e Cláudio não eram os alvos, sempre foi Hod, Cheng e Aquiles, não é? Primeiro acertou Hod, tirando Annabel dele, depois Aquiles, com Penélope e Lena, depois eu, com Cheng e Aquiles... Você é um filho da puta.

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