Parte 4

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Já havia passado três dias desde o sonho e Erika já acreditava que aquilo foi apenas um sonho, e Andressa deveria conseguir a mesma coisa que William, comida de graça ou alguma coisa boba como essa. Ela estava sentada na janela do seu quarto, olhando a cidade fria e vazia de cima, não tinha mais medo de sentar ali, afinal, se não desejasse morrer dessa forma, não morreria. Balançava os pés no ar, entediada. Esse assunto não saía de sua cabeça, o Vazio. Queria saber mais, queria entender, queria evitar acabar como no sonho, morta pela própria mão.

Talvez seja mais do que isso... – pensou, olhando o céu fechado. Talvez eu consiga chegar a Andressa apenas com meu desejo. Saltou de volta para seu quarto, pegou um agasalho e seu iPod, saindo do prédio em seguida.

Sentou no ponto de ônibus e esperou. Vou me deixar guiar pelo meu desejo – planejava enquanto esperava – vou pegar o ônibus e parar no ponto que eu sentir que é para parar.

Pegou um ônibus quase vazio e se sentiu aliviada por não ter de ficar em pé no meio de um ônibus lotado. Sentou-se ao fundo, ouvindo sua banda predileta, enquanto olhava para a cidade pela janela. Não sabia aonde iria dar, mas sabia que daria em algum lugar. Para quem escapa da morte, achar uma pessoa deve ser fácil, pensou.

Uma hora havia passado e ela ainda não sentiu nenhum impulso de parar, mesmo já estando no centro da cidade, o congestionado e bagunçado centro da cidade, bem diferente do bairro em que morava. As pessoas entravam e saíam do ônibus e ela permanecia ali, sentada, às vezes olhando o nada, às vezes olhando a cidade. Após mais uma hora, Erika se levantou sem paciência e parou no primeiro ponto que viu, se esticando após a longa viajem. Quando se deu conta, estava em um setor comercial da cidade, pequenas lojas por toda a extensão da rua. Erika suspirou, não é nem um setor residencial aqui – pensou desanimada –, como eu vou achar onde ela mora por aqui... Espere. Talvez ela esteja fazendo compras!

Desejou novamente se encontrar com Andressa e começou a andar sem direção, às vezes dobrava esquinas à direita, às vezes à esquerda, às vezes sentia que estava andando em círculos e às vezes sentia que estava no caminho certo. Após quase dez minutos de caminhar a esmo, encontrou conhecidos cabelos curtos em uma loja de roupas. Andressa examinava um casaco de couro marrom em uma loja de roupas que estava tendo um bom dia de comércio, visto o número de pessoas que estavam ali naquele local.

– Andressa?

A mulher se virou para Erika, e ao vê-la, sorriu e estendeu a mão.

– Olá, Erika, há quanto tempo...

– Três dias se contar o meu sonho como um encontro – retribuiu o sorriso e o comprimento, tirando os fones de ouvido em seguida. Compras?

– Os dias estão frios e um novo casaco não seria nada mal... O que você acha desse? – mostrou o casaco marrom. Estou na dúvida entre esse... e esse – mostrou outro casaco, um marrom mais claro e com detalhes na costura.

– Unh... Eu gosto de coisas mais simples, iria com esse – apontou o primeiro.

– Tem razão... – deu uma última olhada nos dois e pegou o escolhido por Erika.

Após a compra, Andressa saiu já vestida com o casaco, as duas ficaram paradas na porta da loja por um tempo, até que Andressa decidiu um lugar para irem, uma praça não muito longe dali.

A praça era simples, em círculo, com árvores plantadas seguindo seu formato, projetando uma sombra que cobria todo aquele lugar, independentemente da hora, mas, como era pequena, havia apenas alguns bancos. As duas se sentaram em um dos bancos, Andressa ficou olhando a copa das árvores por um momento e Erika o chão, sem saber como iniciar a conversa.

VazioOnde histórias criam vida. Descubra agora