Parte 18

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Durante a tarde, Erika comprou uns óculos escuros e uma nova peruca de cabelos negros e curtos, mas ainda com uma franja que quase lhe cobria os olhos. No final da tarde, foi até as ruas amareladas de seu bairro, estacionou a moto do outro lado da rua e ficou esperando, em frente ao prédio onde morava, seu pai voltar do emprego. Erika fumava um cigarro, as franjas tocavam seus óculos escuros quadrados e o capacete jazia pendurado no retrovisor. O conhecido carro vermelhou chegou lentamente, Erika o viu pela janela do carro e logo ele entrou no estacionamento subterrâneo, a visão foi rápida e mal conseguiu ver o rosto de seu pai. De lá, ele pegaria um elevador para seu apartamento. Erika tirou os óculos escuros e enxugou pequenas lágrimas que insistiam em escorrer naquele momento. Ela estava morta, e isso parecia cada vez mais verdade. Nada de lavar a louça ou assistir à televisão esparramada no sofá, aquela Erika morreu há muito tempo e suas lembranças daqueles dias ficavam cada vez mais fracas.

A garota ouviu um ronco alto e tranquilo, que conhecia bem, se aproximando sem presa de onde estava. Franziska estacionou a moto ao seu lado e a desligou após tirar o capacete. Erika sorriu ao vê-la, o que a acalmou e a fez perceber, aquela mulher era sua família agora, ela, Cheng, Hod e o homem que havia discutido mais cedo, Aquiles.

A francesa tirou uma carteira de cigarros do bolso da jaqueta e pegou um com a boca, ofereceu a Erika, que aceitou e acendeu os dois. Por um momento, não disseram nada, havia muitos momentos em que o silêncio era a língua que as duas garotas falavam. O pôr do sol tornava aquelas ruas ainda mais amarelas, velhas e sujas, como páginas de um livro antigo, páginas que Erika havia deixado para trás.

Ao final do cigarro, o sol finalmente desceu por completo no horizonte, o amarelo escureceu e as luzes no prédio acendiam uma a uma, devagar. Finalmente tirou a peruca e a enfiou dentro da jaqueta, vestiu o capacete e ligou a moto. Franziska a acompanhou, sem dizer uma palavra ou ler sua mente.

...

Erika dirigiu a esmo por um momento, Franziska a acompanhava sempre a uma distância segura. A francesa não entendeu muito bem o que a garota pretendia, talvez só esfriar a cabeça, deixar a moto pensar por ela. Após quase meia hora de viagem, quase chegando à saída da cidade, Erika parou em um posto cuja iluminação era intensa e refletia nas paredes de duas cores, vermelho e azul. Por um momento, ela cerrou os olhos até se acostumar com a claridade e parou a moto em frente à loja de conveniência, ainda era cedo, não passava das nove horas da noite. Erika tirou o capacete e balançou os cabelos, pousando-o sobre o retrovisor. Pouco depois, Franziska estacionou ao seu lado e executou o mesmo ritual de tirar o capacete e balançar os curtos cabelos.

Erika andou a esmo pela conveniência, que era tão iluminada quanto o posto, Franziska aproveitou e já pedia ao atendente um maço de cigarros. A garota loira andou pelo setor de bebidas, encarando os vinhos e os destilados, até que foi a um freezer e pegou duas cervejas. Levantou uma e mostrou a Franziska, que já do lado de fora fez um sinal de positivo e acendeu um cigarro. Quando Erika pagou as cervejas no caixa, o atende a olhava curioso e incrédulo. Ela não entendeu muito bem o olhar estranho do garoto, que tinha quase a idade de Franziska. Talvez ele não via muitas mulheres, ainda mais juntas, em motos esportivas.

Erika sentou na cadeira de plástico azul e estendeu a mão para Franziska pegar sua cerveja, a garota deu um trago longo e a pegou, sentando em seguida. Elas não eram muito de beber cerveja, ainda mais Erika, que até agora ainda não havia bebido nada além de destilados.

– Aquiles está certo, não está? – começou Erika, após um grande gole e uma careta.

– Sim, Caso Perdido – Franziska girou a cadeira e sentou virada para rua, olhando o fraco movimento. Infelizmente ele está certo.

VazioOnde histórias criam vida. Descubra agora